RJ: clube de parapente reconhece que instrutor foi negligente
Uma comissão do clube São Conrado de Voo Livre reconheceu nesta terça-feira que o instrutor Allan Figueiredo foi negligente ao decolar de parapente com a nutricionista Priscila Boliveira, 24 anos, na zona sul do Rio de Janeiro, sem as travas de segurança devidamente colocadas.
A irmã do ator Fabrício Boliveira, do filme Tropa de Elite, morreu no domingo, após escorregar do equipamento - ela despencou de uma altura de 30 m, segundo a comissão técnica do clube.
"A comissão técnica instaurada pelo clube São Conrado de Voo Livre para avaliar as causas do acidente que vitimou a aluna Priscila Boliveira cumpre informar que, após analisar todas as evidências, fotos e vídeos apresentados, concluiu que houve negligência do instrutor Allan Figueiredo na verificação de equipamento e travas de segurança de sua aluna", aponta o relatório assinado pelo grupo, formado por cinco pessoas. O instrutor foi afastado do quadro de funcionários por tempo indeterminado. Ele foi indiciado pela polícia por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Conforme a análise do clube, Priscila realizou a primeira tentativa de decolagem, que foi abortada, com as três travas corretamente posicionadas (uma no tórax e uma em cada perna). A segunda tentativa teria ocorrido de dois a três minutos depois. Neste momento, ela estava com a trava no tórax somente, fato que fez com que ela escorregasse e sofresse a queda fatal.
Ainda conforme o clube, o instrutor percebeu no início do voo que a nutricionista estava escorregando e soltou o equipamento que dá a direção do voo para tentar segurar Priscila, mas não conseguiu. A queda ocorreu, conforme o relatório, após dois minutos de voo.
"Eu, quando parto para um voo, a última coisa que eu conecto é o capacete, ou seja, depois de ter checado todas as travas. É difícil entender como as travas foram desconectadas em tão pouco tempo", afirmou um dos diretores do clube, Flávio Dias. "É muito improvável que ela mesmo tenha soltado as travas", completou.
Clube quer mais fiscais na rampa
O São Conrado informou ainda que pretende colocar mais fiscais na rampa da Pedra Bonita para aumentar a segurança no local. Atualmente, há dois fiscais: um para decolagem de parapentes e outro para asa-deltas. A intenção é deixar mais duas pessoas na rampa, somente para o check list adicional dos equipamentos de cada uma das modalidades, o que hoje é de responsabilidade apenas do instrutor.
"Nós entendemos que houve uma falha. A partir desse evento, identificaremos uma forma de um check list final, ou seja, vai haver uma pessoa na rampa dedicada somente para isso", afirmou Vinicius Cordeiro, outro diretor do clube.
Cordeiro acrescentou que o clube opera regularmente, tendo cumprido exigências da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Ministério Público Estadual. Ele explicou que o clube trata os interessados no esporte como alunos, e não clientes.
"O voo de instrução é legal porque no momento em que o turista entra pela porta ele é tratado como aluno, para fazer um voo de instrução. Não é um cliente que entra na loja para comprar alguma coisa. Não estamos tentando maquiar nada. O que nós fazemos aqui é realizar o sonho das pessoas com segurança e através da lei", disse o diretor.
Em 25 anos realizando voos de parapente, este foi o primeiro acidente fatal da modalidade dentro do São Conrado, que conta hoje com 120 instrutores, todos registrados na Associação Brasileira de Voo Livre (ABVL), de acordo com os diretores. Por ano, são cerca de 25 a 30 mil decolagens da rampa da Pedra Bonita. Deste número, porém, apenas 200 se tornam instrutores de fato, menos de 1% do total, portanto.
De acordo com determinação da Anac, os voos duplos de parapente, que em média custam R$ 250, só podem ser cobrados com esta finalidade de que o aluno tenha a real intenção de se tornar um praticante do esporte e obter a carteira de instrutor. Na prática, no entanto, o que se vê é uma brecha na lei, que propicia o controle da descida por parte do aluno até a praia de São Conrado por cerca de dois minutos, com auxílio do especialista. O praticante, no entanto, tem, entre a entrada no clube e a subida para a rampa, apenas 1h30 de aulas teóricas de segurança, e somente 10 minutos de apresentação dos equipamentos.
"Esta aula inaugural é que vai nos dar o parâmetro para saber se ela tem condições de continuar o curso ou não. Eu tenho alunos na Suíça, Itália e Canadá, no mundo inteiro, que voaram aqui e depois tornaram-se instrutores. É como no batismo do mergulho. É uma introdução, a dinâmica é muito parecida. Você divide o curso em várias etapas, onde você experimenta os fundamentos do voo", explicou o instrutor Rui Marra, que já formou mais de 1 mil alunos pelo clube, explicando ainda que a cada 250 voos, ou semestralmente, o equipamento é todo desmontado e verificado por uma equipe de pelo menos cinco membros especializados do clube.
Gravação do acidente
O diretor Vinícius Cordeiro apresentou sua hipótese para o fato de a câmera de vídeo que acompanha por meio de uma haste toda a gravação do voo em São Conrado ter desaparecido, dificultando a perícia do acidente fatal. Segundo Cordeiro, como o instrutor Allan foi obrigado a largar os manetes que guiavam a descida até a praia, é provável que o choque em alguns arbustos possa ter feito com que o equipamento tenha se desprendido e caído na mata.
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