Noar sabia de problemas há 1 ano

Problemas técnicos no avião LET-410 prefixo PR-NOB da empresa Noar, que caiu mês passado matando 16 pessoas, já eram conhecidos há um ano pela companhia. É o que mostra uma troca de e-mails entre o piloto Rivaldo Paurílio Cardoso e o diretor-executivo da empresa, Marjony Camelo, a qual o Globo teve acesso. Nas mensagens, Rivaldo alerta para a manutenção e chega a sugerir que a Noar suspenda os voos com a aeronave. Rivaldo morreu no acidente ao lado do copiloto Roberto Gonçalves, que também já havia manifestado a preocupação com as condições da aeronave. Segundo ele, o avião vinha perdendo força durante as decolagens.

Conteúdo semelhante ao relatado nos e-mails foi encontrado num caderno de anotações dos pilotos, mas que fazia referência ao LET-410 PR-NOA, hoje o único avião da empresa.

De acordo com as mensagens de Rivaldo, enviados a Marjony com cópias para outros funcionários da Noar, os problemas com o avião que caiu eram tão frequentes que o piloto chegou a sugerir “um relatório de alerta”, a ser enviado a todos os operadores de LET no Brasil. Em e-mail de 28 de julho de 2010, Marjony pede ao piloto que relate as falhas do avião: “solicito relatório sucinto sobre todas as panes ocorridas com o PR-NOB, bem como a fase do voo em que estas panes ocorreram”. Segundo especialista em aviação, não é comum um diretor pedir esse tipo de informação, que deveria estar nos registros de manutenção.

Um dia depois, Rivaldo responde com um sinal de alerta. “O problema técnico ocorrido com o PR-NOB tem se repetido diariamente com todas as tripulações, inclusive hoje, com o Cmt Sendim”, afirmou o piloto referindo-se ao experiente Marcos Sendim, diretor de operações da Noar. “Trata-se de uma queda de NG (potência do motor) que conduz ao corte do motor, com queda de todos os seus parâmetros”, acrescentou Rivaldo, em um outro trecho. As mensagens revelam que os reparos não surtiam efeitos. “A manutenção já executou alguns procedimentos (...), sem maiores resultados”.

Empresa confirma e-mails

A Noar confirmou a troca de e-mails entre o piloto Rivaldo Paurílio Cardoso e o diretor-executivo, Marjony Camelo. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa diz que as mensagens “confirmam” a “preocupação com a manutenção das aeronaves”. De acordo com a Noar, na época o LET-410 citado “estava passando por ajustes necessários para começar a operar” e só começou a transportar passageiros em 30 de agosto de 2010. Para a Noar, ao dizer que aguardaria os resultados da manutenção para por em prática “medidas aconselháveis para a operação da aeronave” e ao citar a equipe de manutenção como “experiente pessoal técnico”, o piloto respaldava o setor técnico.

“Então resta claro que o comandante endossava as qualidades do setor de manutenção da empresa e de forma alguma contestava o parecer dos técnicos”. Segundo a Noar, o fato de a tripulação ter sugerido ouvir pessoas mais experientes não vem ao caso. “O avião estava na garantia e, para ser vistoriado, a Noar precisou entrar em contato com a Team, representante técnica da LET no Brasil”.

Fonte: Diario de Pernambuco / NOTIMP

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Família quer participar de investigação sobre queda de avião da Noar

Parentes cobram que a Anac e o Cenipa elejam representante das vítimas para acompanhar as apurações

A família de Roberto Gonçalves, 60 anos, copiloto do avião da Noar Linhas Aéreas que caiu no Recife no último dia 13, vai solicitar nesta sexta-feira (29) à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) que elejam um representante dos familiares das 16 vítimas do voo 4896 para acompanhar as apurações do acidente. Segundo um dos irmãos de Roberto, o piloto Jairo Gonçalves, 50, o objetivo da iniciativa é dar transparência ao processo, evitando a boataria que ronda as investigações.

"Não estamos contestando a idoneidade do trabalho dos órgãos competentes. Queremos acompanhar o que está sendo feito porque toda hora surgem histórias diferentes por aí", ressalta Jairo. Segundo ele, a família, com várias pessoas ligadas à aviação, tem como prioridade descobrir as causas do acidente. As questões legais que definirão as indenizações concedidas aos familiares das vítimas serão examinadas posteriormente. "Não estamos com pressa, mas pretendemos nos articular com parentes de outros ocupantes do avião", afirmou.

Pouco mais de duas semanas após a tragédia, o Cenipa, que realiza a apuração técnica do acidente, com fins de prevenção, informou que as investigações ainda estão em andamento e não têm prazo definido para terminar, podendo levar o tempo que for necessário para esclarecer os fatos. Em nota emitida pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, o órgão garantiu que não houve a divulgação do áudio do registrador de voz, conhecido como caixa-preta. "O conteúdo divulgado hoje (ontem), por veículo de imprensa não é a transcrição do conteúdo daquele dispositivo", diz a nota. Segundo o Cenipa, as informações "devem ser preservadas pela investigação técnica e utilizadas exclusivamente para a prevenção de acidentes aeronáuticos" para estar de acordo com o Anexo 13 da Convenção de Chicago, da qual o Brasil é signatário.

Inspetores da Anac terminaram na última segunda-feira a auditoria realizada na companhia aérea Noar, iniciada no dia 17, quatro dias após o acidente. De acordo com a assessoria da agência, o relatório final contendo os resultados da análise deve ficar pronto e ser apresentado à imprensa na próxima semana. A Noar continua impedida de operar por tempo indeterminado.

Única responsável pela investigação criminal da queda do avião desde o dia 20, quando a Justiça Federal decidiu que a competência da apuração é de âmbito federal, a Polícia Federal em Pernambuco, aguarda a chegada de todas as respostas das solicitações enviadas aos órgãos envolvidos com o acidente, tais como Anac, Cenipa, Infraero, Noar e Polícia Civil, cujo inquérito realizado até o dia 20 ainda não chegou à sede da PF. "Temos apenas as cópias dos autos. O original ainda se encontra no Ministério Público Federal", informou o assessor de comunicação da PF, Giovani Santoro.

Fonte: / NOTIMP