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Especial Jobim: Jobim elogia Dilma e diz que quer ficar, mas já admite saída

Ministro da Defesa afirma que presidente é "extraordinária", mas que ficará "tudo bem" se ela decidir tirá-lo do governo .

Peemedebista irritou a chefe ao declarar voto em Serra; ele prometeu examinar as suspeitas de fraude no exército .

BERNARDO MELLO FRANCO .

Com o cargo em risco há uma semana, o ministro Nelson Jobim (Defesa) admitiu ontem, pela primeira vez em público, que pode deixar o governo Dilma Rousseff.
Ele disse que deseja permanecer no cargo, mas que ficará "tudo bem" caso seja substituído: "A presidente é quem decide essas coisas. Se puder continuar, tudo bem. Se não puder, tudo bem".

A relação entre os dois se deteriorou no último dia 26, quando ele declarou no programa "Poder e Política", parceria da Folha e do UOL, ter votado em José Serra (PSDB) na eleição de 2010.
Ontem, no "Roda Viva" da TV Cultura, Jobim mudou de tom e rasgou elogios à chefe.
"A presidente Dilma é extraordinária. Minha relação com ela é ótima", disse. "Ela tem uma grande visão de Estado, uma visão de futuro."
Jobim afirmou não se sentir desconfortável com a presidente, que estuda substituí-lo. "Não tenho nenhum problema, nenhuma dificuldade", disse. "Sou ministro por prazer. Desejo continuar a fazer o que estou fazendo."

Questionado se planejava sair, foi enfático: "Absolutamente. Não mesmo." E negou ter sido desleal com Dilma: "Alguém pode não acreditar, mas não sou dissimulado. Sempre fui assim". "Aprendi com o dr. Ulysses [Guimarães]: em política, até a raiva é combinada."
O ministro se reuniria com Dilma dia 11, mas o encontro foi antecipado para amanhã.

Ele disse acompanhar a investigação sobre o suposto envolvimento de oito generais, entre eles o comandante do exército, Enzo Martins Peri, no desvio de R$ 11 milhões em obras de rodovias.
"Não costumo adiantar juízos nem antecipar a culpa", disse. "Se houver problema, vão pagar. Se não, as coisas continuarão iguais."

Apesar de estar contrariada com Jobim, Dilma não deve tomar uma decisão sobre o ministro -que mantém o apoio de Lula- nesta semana. A Folha apurou que suas declarações ao "Roda Viva" foram vistas com simpatia no Planalto, embora possam ter chegado "um pouco tarde".

Fonte: / NOTIMP

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Temer é opção para a Defesa

Após desgaste por ter declarado voto em Serra, ministro Nelson Jobim faz juras de amor ao Palácio do Planalto e à presidente, mas Dilma estuda indicar seu vice para assumir a pasta

Denise Rothenburg e Ullisses Campbell

Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff vem cogitando adotar no Ministério da Defesa a mesma saída à qual recorreu seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, quando perdeu seu ministro José Viegas, no fim de 2004: substituir o titular da pasta pelo vice-presidente da República. Na ocasião da demissão de Viegas, José Alencar assumiu o posto que Dilma agora pensa em dar a Michel Temer.

Ontem à noite, a presidente se reuniu com Temer por mais de uma hora. O peemedebista, entretanto, resiste à ideia. Seus fiéis colaboradores no partido têm dito a ele que, no papel de vice-presidente, está mais solto para cuidar da política. Como ministro, não teria tanto tempo assim. Além disso, Nelson Jobim não deseja deixar o cargo. Depois de ter irritado Dilma ao dizer que havia votado no adversário dela, José Serra, na eleição presidencial do ano passado, Jobim aproveitou uma entrevista dada ontem ao programa Roda viva, da TV Cultura, em São Paulo, para tentar reconstruir os laços com a presidente. Ele justificou a revelação de que votou no tucano alegando que "todo mundo sabia" das suas relações com o ex-governador paulista. "Não sou dissimulado. Sempre disse o que pensava e o que fazia", destacou.

Jobim afirmou que gostaria de permanecer no governo e negou que a sua relação com a presidente tenha "azedado" depois de declarar abertamente que votou em Serra. O ministro também negou que exista pressão para que ele deixe o cargo. Em determinado momento da entrevista, fez algo raro: elogiou de forma exagerada a figura da chefe, até mesmo em momentos nos quais não havia contexto para tanto: "A presidente é extraordinária e minha relação com ela é ótima, não tem problemas", disse, em tom enfático. O ministro afirmou ainda: "Estou no governo porque me dá prazer" e deixou claro que, se depender dele, não entrega o cargo. A entrevista foi veiculada na noite de ontem.

Jobim não trabalha com a hipótese de deixar o governo, tanto que falou de planos para a pasta, como a formulação de um texto legal que dê garantias para projetos de longo prazo do ministério que comanda. Segundo ele, são projetos considerados estratégicos por Dilma e que não devem ser interrompidos caso sejam alvo de contingenciamento orçamentário. O objetivo da medida, segundo o ministro, é assegurar o investimento do setor privado a projetos de longa maturação. "São projetos estratégicos que possam assegurar que o setor privado possa investir num prazo de 20 anos para o cumprimento de um determinado projeto que tenha maturação de 10 ou 20 anos", explicou.

Sobre os escândalos no Ministério dos Transportes, Jobim disse que se trata de "ajustes" e que não enxerga uma crise. "Nós podemos pensar que o processo democrático é um processo tranquilo", justificou. Segundo ele, não há problemas no fato de o governo examinar os contratos de obras em rodovias firmados por meio de convênio entre o exército Brasileiro e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A Procuradoria-Geral da Justiça Militar investiga suspeitas de fraudes nos empreendimentos, que envolveriam oito oficiais, num desvio de recursos públicos que teria chegado a R$ 11 milhões.

IRRITAÇÃO A irritação de Dilma com Jobim não vem de hoje. Na China, ela chegou a conversar sobre os caças russos com o primeiro-ministro Vladimir Putin, sem falar com seu ministro. Quanto à homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília, há um mês, Jobim ressaltou no discurso que FHC "nunca levantou a voz para ninguém". O comentário soou provocativo, porque Dilma tem fama de se alterar com os subordinados.

Ainda naquele pronunciamento, Jobim citou Nelson Rodrigues de uma maneira dúbia, que desagradou não só à presidente, como a todo o PT. "Ele (Nelson Rodrigues) dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento." Na época, o ministro disse que havia se referido à imprensa.

Fonte: / NOTIMP

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Planalto considera reduzidas as chances de Jobim ser demitido

Raymundo Costa e Fernando Exman

Auxiliares da presidente Dilma Rousseff disseram ontem ser improvável a demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, em razão da entrevista em que ele informa ter votado no adversário da presidente, José Serra, na disputa presidencial de 2010. A presidente, segundo essas autoridades, reprovou a fala, classificada no Palácio do Planalto como "infeliz", bem como não tem gostado de outras manifestações do ministro, mas não pensa em demissão, o que lhe traria fama de antidemocrática.

A eventual demissão do ministro envolve interesses que a presidente Dilma Rousseff ainda avalia e sob os quais está formando opinião. São interesses que vão da tentativa revanchista de transformar a Comissão da Verdade num tribunal de julgamento a negócios bilionários na área de defesa que transcendem a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira (FAB), prevista para 2012.

Entre interlocutores da presidente e do ministro, essa é a única explicação visível para o noticiário recorrente sobre a queda de Jobim. É fato que os dois, ambos de temperamento forte, não tiveram bom início na transição. Hoje, no entanto, têm projetos sensíveis encaminhados.

Jobim, por exemplo, tem uma reunião marcada com o PSDB: quer apoio dos tucanos para aprovar no Congresso a criação da Comissão da Verdade nos termos em que ela foi negociada com as Forças Armadas. Pelo acordo, as famílias dos desaparecidos políticos terão acesso à memória do que ocorreu com seus parentes. Os militares que testemunharem, por seu turno, não poderão ser processados criminalmente, como quer parte da esquerda.

No que se refere aos contratos e acordos militares, o contencioso Brasil-EUA voltou a crescer. No próximo ano, o governo escolherá os caças para reequipar a aeronáutica. As chances do Super Hornet americano continuam pequenas, mas outros conflitos entraram em cena.

Brasil e Colômbia pretendem assinar um acordo militar, no próximo dia 4, para o patrulhamento de 50 quilômetros de cada lado da fronteira. O objetivo é o combate ao tráfico de drogas, de armas e aos crimes ambientes. Algo como já ocorre hoje com a Bolívia, por exemplo, e que posteriormente se pensa em estender à Venezuela. Mas somente as forças dos dois países participariam das ações: além dos militares, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e afins. Ou seja: não participariam forças externas aos países fronteiriços, o que poderia significar a retirada dos EUA da região, que mantêm bases e estreitas relações com a Colômbia. Além disso, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) seriam avisadas.

O Brasil também decidiu reativar a base de Alcântara, no Maranhão, mas os americanos não estão incluídos no projeto. Recentemente, em Itaguaí, Dilma cortou a primeira chapa de aço do submarino nuclear - parceria brasileira com a França.

Os três comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e aeronáutica, além do chefe do Estado Maior Conjunto) apoiam a permanência de Jobim. Mas todos, inclusive Jobim, hoje consideram que sua declaração foi "desnecessária", como disse o secretário-geral das Presidência, Gilberto Carvalho, e que esse é um assunto da presidente.

O que é considerado estranho, na Defesa, é que uma declaração feita há uma semana por Jobim continue sendo repercutida nos jornais. Frase, aliás, que ele já havia dito em outra ocasião. "Ninguém desconhece que o Jobim gosta de mandar, que ele é amigo do Serra, foi ministro do Lula e agora é um ministro leal a Dilma, como pode observar quem lê toda sua entrevista", disse um interlocutor do ministro ao Valor.

No PT, há quem considere a eventual demissão de Jobim a verdadeira "caça às bruxas" a que se referiu nos últimos dias o ministro Gilberto Carvalho, ao afirmar que Dilma não faria demissão em massa de aliados suspeitos de corrupção. No caso, seria uma discriminação ideológica.

Semanas antes, houve outra onda de boatos sobre a saída de Jobim do governo. Tudo por conta de uma frase do escritor Nelson Rodrigues que o ministro usou em discurso na festa de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "E nós precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram. Ele (Nelson Rodrigues) dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento".

Nos últimos dias, Jobim chegou a demonstrar sua insatisfação com o governo a integrantes da Executiva Nacional do PMDB. Os peemedebistas sabem que Jobim se ressente do fato de não estar mais presente nas principais discussões do governo, assim como ocorria na gestão de Lula. Mas não estão dispostos a se indispor com Dilma por Jobim.

Fonte: / NOTIMP









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