Gol 1907: Justiça interroga pilotos do Legacy
Renata Mariz .
No primeiro depoimento à Justiça brasileira, o piloto Jan Paul Paladino, que pilotava o jato Legacy no momento da colisão com o voo 1907 da Gol, em 2006, matando 154 pessoas, negou ter cometido qualquer falha, mesmo sem intenção, que tenha ocasionado o desastre. Admitiu, porém, que nunca tinha voado naquele modelo específico de aeronave, fabricado pela Empresa Brasileira Aeronáutica (Embraer), embora tenha enfatizado a familiaridade com jatos semelhantes.
Depois de ressaltar, reiteradas vezes, que o sistema anticolisão (TCAS, pela sigla em inglês) parecia estar ligado em seu painel durante o percurso, Paladino jogou a responsabilidade para o controle de tráfego aéreo brasileiro, enumerando problemas que teriam contribuído para o desastre, tais como dificuldades de comunicação e defeitos nos radares. Joseph Lepore, que também estava na aeronave, será ouvido hoje. Eles falam de Nova York, por meio de videoconferência, com o juiz federal Murilo Mendes, em Brasília. Ambos são acusados de atentado à segurança aérea.
Parentes de vítimas do acidente acompanharam a audiência na sala onde o juiz ouvia as explicações de Paladino. Do lado de fora do prédio, manifestantes empunhavam faixas e vestiam blusas pedindo a pena máxima para os pilotos. Filha de uma passageira morta no desastre, Anne Rickli considerou as explicações de Paladino muito evasivas. “Parece que fica fazendo rodeios para enrolar e não responder as perguntas. O que nós queremos é um julgamento justo”, destacou Anne. Assim que os pilotos finalizarem seus depoimentos, as partes farão as alegações finais. A sentença, segundo o juiz Murilo Mendes, sairá no fim de abril ou, no máximo, em maio.
Ontem, o juiz se irritou com as interrupções do advogado de defesa, Theo Dias, que estava ao lado de Paladino, em Nova York. O pai dele, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, também acompanha o caso, do Brasil. Ambos ouviram uma reprimenda do magistrado, no momento em que Theo tentou sugerir ao magistrado fazer uma pergunta. “Era só o que faltava o senhor dizer o que eu tenho que perguntar”, reclamou, ríspido, Mendes. José Carlos saiu em socorro do filho, mas também ouviu. “O seu filho já fez três intervenções. Ele terá a sua vez de perguntar”, respondeu Mendes.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE / NOTIMP
Nos EUA, piloto do Legacy nega ter desligado transponder em voo
Americano depõe sobre colisão com Boeing da Gol, que matou 154
Álvaro Fagundes
Jan Paul Paladino, um dos pilotos do Legacy que colidiu com um Boeing da Gol em acidente que vitimou 154 pessoas em setembro de 2006, negou em depoimento ontem ao tribunal de Central Islip que o transponder (sistema anticolisão) do avião estivesse desligado no voo.
Segundo ele, tudo indicava que o aparelho funcionava perfeitamente. "Nenhuma mensagem indicava falha de qualquer tipo", afirmou Paladino durante a audiência no pequeno vilarejo americano, no Estado de Nova York.
O depoimento foi transmitido por videoconferência para a Justiça em Brasília, na primeira transmissão internacional desse tipo no Brasil.
Ele e o outro piloto do Legacy, Joseph Lepore -que vai depor hoje-, são suspeitos de voar com o transponder desligado. Depois do choque com a aeronave da Gol que ia de Manaus para Brasília, os dois conseguiram pousar em Mato Grosso.
Eles são acusados de atentado à segurança do tráfego aéreo, cuja pena é de reclusão de dois a cinco anos.
Paladino, que hoje trabalha na American Airlines, chamou de "teoria da conspiração" a afirmação de que eles teriam ligado o transponder só após o acidente.
"A minha preocupação principal era a sobrevivência", afirmou o piloto, que levantou a possibilidade da existência de um "buraco negro" no sistema de controle aéreo brasileiro.
"Nenhum piloto poderia prever os eventos e as falhas por parte do controle aéreo naquele dia", afirmou Paladino, no encerramento do seu depoimento, que durou cerca de sete horas.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP
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Piloto americano culpa controladores
Em depoimento prestado por videoconferência, o americano Jan Paul Paladino afirmou que ordem para que permanecesse na mesma altitude do Boeing da Gol partiu da torre de controle de Brasília
Em depoimento de quase sete horas, prestado por meio de videoconferência, o piloto americano Jan Paul Paladino afirmou ontem que recebeu instruções da torre de controle aéreo de Brasília, quando sobrevoava a cidade no jato Legacy da Embraer, para prosseguir a 37 mil pés, mesma altitude em que vinha de Manaus o Boeing da Gol com o qual se chocou em agosto de 2006.
Conforme o plano de voo, Paladino deveria baixar para 36 mil pés ao cruzar a cidade e seguir nessa altitude até o ponto virtual Teres, quando deveria subir para 38 mil pés e seguir assim até sair do espaço aéreo brasileiro. Mas o piloto não questionou a ordem do controlador e seguiu na rota até a colisão. O acidente matou os 154 passageiros e tripulantes do voo da Gol.
O Legacy, mesmo avariado, conseguiu pousar na base aérea da Serra do Cachimbo, em Mato Grosso. Paladino disse que teve sérias dificuldades de comunicação com os controladores de tráfego aéreo brasileiros, que em geral não dominam o inglês, e negou que o transponder do Legacy, equipamento que poderia ter evitado o desastre, tenha sido desligado durante o voo.
Mas complicou-se ao explicar a informação contida na caixa-preta e confirmada em vários laudos periciais, de que o transponder foi desligado durante o voo, possivelmente por distração. A maior prova é um diálogo do piloto com o auxiliar logo após o choque, em que os dois constatam que o equipamento estava desligado, e 35 segundos depois ele aparece ligado, no registro da caixa-preta. “Não houve, da minha parte, nenhuma ação voluntária para ligar ou religar o transponder”, disse Paladino, confirmando ainda que nunca havia pilotado um jato Legacy. Disse, no entanto, ter pilotado aviões similares.
Ele falou de Nova Iorque ao juiz federal Murilo Mendes, que estava no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, em Brasília. Segundo o ministério, foi a primeira vez que a Justiça brasileira fez um depoimento com videoconferência internacional. Hoje será ouvido o copiloto Joseph Lepore.
É a primeira vez que os dois prestam depoimento oficial à Justiça brasileira. Acusados de “atentado contra a segurança da aviação”, por atitude negligente, mas sem dolo, os dois podem ser condenados a até cinco anos de reclusão, mais multa, e ainda podem perder o brevê.
Paladino disse que a aviação brasileira tem, no geral, a mesma complexidade da americana, mas reclamou da “grande barreira da língua” que encontrou no contato com os controladores de tráfego do País. Afirmou também que houve atraso na entrega do plano de voo, o qual só recebeu meia hora antes da partida, e mal os dois tiveram tempo de conferir as coordenadas.
“Ele deu uma versão previsível, combinada com advogados, para explicar o inexplicável e fugir das responsabilidades que tiveram no acidente”, afirmou o promotor Dante D’Aquino. Os pilotos responderão pelo crime juntamente com dois controladores de Brasília que estavam de plantão na hora do acidente.
A Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907 realizou ontem manifestações nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Manaus, simultaneamente. Amigos e parentes distribuíram panfletos e exibiram faixas pedindo a condenação dos dois pilotos.
Fonte: JORNAL DO COMMERCIO / NOTIMP
Foto: FAB