Correios e Infraero ficam fora de disputa partidária
Paulo de Tarso Lyra.
Um dos primeiros desafios da presidente eleita, Dilma Rousseff, após a posse em 1º de janeiro, será encontrar nomes qualificados para comandar os Correiose a Infraero. Se por um lado são duas estatais com cofres recheados e capacidade de investimento elevado - seja em obras ou em licitações para a contratação de produtos e serviços - as duas acabaram tornando-se sinônimos de corrupção e clientelismo nos últimos anos. Dilma já avisou a aliados que pretende modernizar as duas empresas, empregando técnicas de gestão semelhantes às aplicadas na iniciativa privada.
O primeiro sinal da mudança de estratégia aconteceu já durante a formação da equipe ministerial, ao deixar os dois ministérios que controlam as estatais fora da disputa partidária. Dilma nomeou Paulo Bernardo para o Ministério das Comunicações e deixou o Departamento de Aviação Civil sob o controle do ministro Nelson Jobim, da Defesa.
Paulo Bernardo já havia, em julho, comandado um primeiro processo de saneamento nos Correios que levou à demissão do então presidente Carlos Henrique Custódio. O trabalho foi feito em conjunto com a então chefe da Casa Civil, ministra Erenice Guerra. Quando Erenice deixou o cargo, em setembro, acusada de tráfico de influência, o sucessor de Carlos Henrique, David José de Matos, quase perdeu o emprego, mas acabou mantendo-se no comando da empresa. Já Jobim assumiu o cargo de ministro da Defesa no auge da crise aérea, em julho de 2007.
Durante a composição de seu ministério, Dilma chegou a pensar em agregar o Departamento de Aviação Civil à Secretaria dos Portos, formando a Secretaria de Portos e Aeroportos. A Pasta seria ocupada pelo ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas as negociações políticas emperraram. O PSB passou, então, a ser cotado para assumir o Ministério, mas como o partido insistiu na indicação do prefeito de Sobral, Leônidas Cristino, Dilma desistiu da reestruturação e o Departamento de Aviação Civil voltou para o Ministério da Defesa.
Na tarde de terça-feira, Dilma reuniu-se com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e com o ministro do Planejamento - e futuro ministro das Comunicações - Paulo Bernardo.
Pessoas próximas à presidente eleita demonstraram cautela quanto ao teor das conversas, alegando que as negociações para evitar um caos aéreo estão sendo conduzidas pelo atual governo, incluído a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Dilma não quer melindrar o governo que acaba no dia 31 de dezembro, mas já traça planos para reverter o quadro negativo a partir de janeiro.
Na manhã de ontem a presidente eleita concluiu sua equipe ministerial, com o anúncio do deputado eleito Afonso Florence (PT-BA) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a deputada Iriny Lopes (PT-ES) para a Secretaria Especial de Política para as Mulheres.
Os dois petistas fecham os 37 ministros que tomam posse ao lado de Dilma no dia 1º de janeiro. Nenhuma nova Pasta foi criada. O PT ficará com quase a metade das Pastas da Esplanada, 17 ministérios, e controlará o maior orçamento livre, R$ 56 bilhões em valores de 2010. O PMDB, do vice Michel Temer, ficou com seis Pastas, mas perdeu peso político. O PSB fechou sua cota com duas Pastas, sem conseguir aumentar seu espaço. PP, PR, PCdoB e PDT com uma. Oito ministros não têm filiação partidária.
Dilma aumentou o número de mulheres, passando de três para nove. A presidente eleita manteve dez ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - sendo que alguns foram deslocados - e reconduziu outros dois que já fizeram parte da atual gestão - praticamente um terço do total.
Dilma participa hoje, junto ao presidente Lula , de comemorações natalinas e deve ir a um encontro com catadores de papel e da população de rua de São Paulo. Depois, a presidente eleita seguirá para Porto Alegre para passar o Natal com a família.
Fonte: VALOR ECONÔMICO / NOTIMP
