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Equador: País enfrenta crescente ameaça de radicalização






Analistas temem que presidente radicalize com "caça às bruxas" e enfraquecimento das instituições democráticas, depois de sofrer suposta tentativa de golpe de Estado

Rodrigo Craveiro

Brasília – Faixa no peito, discurso determinando os eixos de seu governo e palavras repletas de confiança. "Não há porque ter medo. Aquele que caminhou sobre o mar e acalmou tempestades também nos ajudará a superar esses difíceis, mas esperançosos, momentos", declarou Rafael Correa, em 15 de janeiro de 2007, ao tomar posse como presidente do Equador. A pior das tempestades veio 1.384 dias depois, quando ele se viu acuado em um hospital militar no centro de Quito, cercado por policiais rebelados. A suposta tentativa de golpe de quinta-feira durou Cerca de 14 horas e terminou com forças especiais do Exército resgatando o chefe de Estado, em meio ao tiroteio.

Do balcão do Palácio de Carondelet, em Quito, aclamado como herói, Correa adotou um tom desafiador: "Hoje, um presidente não claudicou, como fizeram outros covardes". Passada a crise, especialistas em política na América Latina e moradores do Equador consultados pelo Correio apostam em uma radicalização do governo, em retaliação à insurgência policial, e preveem uma caçada à oposição.

Por e-mail, o costarriquenho Juan Carlos Hidalgo – expert do Cato Institute (em Washington) –, acredita que Correa saiu fortalecido da crise. "Aparentemente, ele não cedeu às demandas dos policiais, enfrentou-lhes e contou com o apoio das Forças Armadas", lembra. A imagem de um líder aturdido e hospitalizado ao ser atacado com bombas de gás lacrimogênio pode se transformar em um rico capital político. "Isso contribuiu para aumentar a popularidade dele no país, o que é preocupante, pois Correa não é um amigo da democracia", observa. Hidalgo acredita que o mandatário equatoriano tentará aproveitar o modo como manteve-se no poder para lançar-se ainda mais contra os adversários.

De acordo com o analista, o próprio histórico de Correa sustenta essa possibilidade. "Desde sua chegada ao poder, ele tem atacado e abusado das instituições democráticas e da separação de poderes", comenta Hidalgo. Em 2007, o presidente forçou a destituição de 56 deputados da oposição que se opuseram à convocação de uma Assembleia Constituinte. "Quando o Tribunal Constitucional considerou esse processo ilegal, o Congresso, controlado por Correa, decapitou o órgão", critica. Ainda segundo Hidalgo, a nova Constituição adotada em 2008 concentra os poderes do Estado nas mãos do presidente de forma "inconveniente". Ele acrescenta que o Equador tem sido palco de perseguição a meio de comunicação independentes e faz um alerta. "Há razões para temer que Correa aproveite sua posição para dissolver o Congresso, governar por decreto até novas eleições e caçar a oposição, acusada de golpismo", conclui.

Precipitação

Cientista político do Centro de Investigações sobre Desenvolvimento e Movimentos Sociais do Equador (Cedime), o equatoriano Jorge León Trujillo pensa que Rafael Correa se submeteu a riscos desnecessários, ao visitar um quartel com milhares de pessoas sublevadas. "Em um país que tem uma grande tradição de tolerar protestos, ele se precipitou em colocar o Exército contra a polícia", afirma. Trujillo culpa Correa pelo mau gerenciamento da crise. "O presidente ganha força agora, ao sair como herói, mas o drama vivido pelo Equador indica que seu poder foi questionado e perdeu a intocabilidade", opina.

Se Correa escolher as vias da polarização e do enfrentamento, poderá colocar em xeque a estabilidade governamental. O analista do Cedime explica que, dois dias antes da "tentativa de golpe", o presidente havia anunciado o desejo de decretar novas eleições parlamentares, a fim de obter a maioria absoluta no Congresso e concentrar todos os poderes. "Existe a possibilidade de que Correa trate de ter o máximo de poder possível a detrimento do Legislativo, com a oposição incluída", alerta Trujillo. Para ele, o chefe de Estado equatoriano pode tirar boas lições da disputa com a polícia equatoriana. Uma delas é a de que não se deve acumular problemas institucionais. "Há o risco de o governo promover uma caça às bruxas e se engajar em uma lógica autoritária, com ou sem o Congresso, deixando de lado os problemas reais."

Depoimento

"O Equador tem uma larga tradição de instabilidade e de democracia. Correa tem altíssima legitimidade, visível na popularidade de 60%, apesar de nem sempre respeitar as normas legais. A tragédia da sublevação policial não pôs em risco a democracia ou o governo. Seria um erro vê-la como um complô de golpe de Estado. A polícia acumula, há muitos anos, mudanças institucionais mal definidas. Os políticos trocaram a hierarquia da instituição, o que causou desconfiança e desmotivação"n Jorge León Trujillo, cientista político do Centro de Investigações sobre Desenvolvimento e Movimentos Sociais do Equador.

Fonte: ESTADO DE MINAS, via NOTIMP




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