O fantasma do apagão aéreo
Na crônica da anarquia dos serviços de utilidade pública, as péssimas instalações aeroportuárias e os abusos das companhias aéreas figuram entre os que mais agridem direitos inalienáveis dos cidadãos. Sai ano, entra ano, o descalabro permanece ante a inércia do governo quanto à concepção e execução de política estrutural capaz de pôr ordem e eficiência ao setor. A submissão dos usuários a toda sorte de tormentos é fenômeno incorporado à regular desídia no tratamento a passageiros. Mas é justo durante as festividades atinentes ao Natal, ao ano-novo e ao período de férias que a balbúrdia se converte em extrema tortura a todos os que desejam viajar.
Não há nenhum indício de que, agora, o cenário dramático não se reproduzirá. Salões lotados e filas quilométricas estão nas expectativas dos próprios gestores do sistema — os públicos e o das empresas. A movimentação nos terminais estará 10% acima da registrada em 2010 (acréscimo de 1,5 milhão de pessoas). Não terá efeito estimável a decisão da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de enfrentar o problema mediante convocação de mais funcionários. É como se o desleixo crônico pudesse ser arredado, de uma hora para outra, com o simplismo de irrelevante arranjo burocrático.
Vai na mesma direção da inoperância a distribuição de cartilha para evitar o apagão aéreo. O texto da publicação alinha instruções aos viajantes para se livrarem de eventuais tumultos. Além de não constituir instrumento apropriado para superar a convulsão esperada, há na iniciativa confissão de que não será possível evitá-la. Já a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) cogita antecipar o compartilhamento de guichês de check-in das empresas, projeto previsto para aplicação a partir de março. Como não foi testado sequer em situação normal, são escassas as esperanças de que funcione — até porque a experiência está restrita ao Aeroporto de Guarullhos.
Perdido o tempo para a reestruturação dos equipamentos de terra e do modelo organizado à feição de cartel — omissão de que partilham as autoridades administrativas e as agências reguladoras —, resta ao governo recorrer a medidas com dinamismo correspondente às adversidades delineadas com alta dose de fatalismo. Os dirigentes da frota que compõe a aviação civil anunciam a adoção de ações emergenciais para garantir tranquilidade aos embarques e desembarques nos horários previstos. Sustentam que haverá mais aeronaves e pilotos nos principais aeródromos do país.
Aí está a renovação de compromisso que jamais foi cumprido ou, se cumprido, executado de forma inorgânica e desarticulada. Cabe aos órgãos governamentais examinar as operações projetadas e monitorá-las a fim de que se efetivem na prática. É o mínimo que milhões de brasileiros esperam.
Fonte: / NOTIMP