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Vai encarar?



Obama, o sedutor Prêmio Nobel da Paz, não está para brincadeiras .

De um lado, joga charme para o Brasil de olho nos negócios da camada de pré-sal. De outro, joga bombas na Líbia para enfraquecer Muamar Kadafi e garantir o petróleo do Oriente Médio .

Por Hugo Cilo .
Colaboraram: Carla Jimenez e Denize Bacoccina .

No mesmo dia em que o presidente americano, Barack Obama, no domingo 20, arriscava frases em português e maltratava a pelota em embaixadinhas na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, 23 caças foram autorizados por ele a bombardear a Líbia, de Muamar Kadafi – no mais intenso ataque bélico desde a invasão do Iraque, há oito anos.

As duas iniciativas, uma de calculada simpatia e outra de caráter militar, reforçam que a questão energética está no topo das prioridades de Washington.

Desde o primeiro dia no Brasil, Obama deixou claro, tanto à presidente Dilma Rousseff quanto aos empresários a quem se dirigiu em evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no sábado 19, em Brasília, que os Estados Unidos têm grande interesse em se aproximar do País, especialmente para comprar petróleo do pré-sal.

Para a política externa americana, essa é uma questão estratégica. Atualmente, os principais parceiros comerciais dos EUA são: Canadá, México, Arábia Saudita, Nigéria, Venezuela e Rússia.

“Podemos ajudar com tecnologia e apoiar o desenvolvimento dessas reservas com segurança, e quando vocês estiverem prontos para começar a vender, queremos ser um de seus melhores clientes”, disse Obama aos empresários, ressaltando a instabilidade política existente em outras partes do mundo. “Os Estados Unidos não poderiam estar mais felizes com o potencial de uma nova e estável fonte de energia.”

Garantir um parceiro estável para compensar a necessidade de importar a matéria-prima – o país importa 50% do total de quase 19 milhões de barris de petróleo que consome diariamente – pode, com certeza, ser de grande valia para quem está à mercê de fornecedores problemáticos, como a Venezuela e a Arábia Saudita – este último, vizinho da Líbia, atualmente sob intenso clima de guerra.

O ditador Kadafi tem mostrado resistência para sair do poder, o que terminou, inclusive, por criar um terreno fértil para a invasão dos países da coalizão, França, Reino Unido, Canadá e Itália, liderados pelos americanos.

Depois de ser criticado pela hesitação, durante as revoltas sociais da Tunísia e do Egito, os EUA tiveram a chance de se apresentar “do lado bom da história” ao invadir a Líbia, avalia Salem Nasser, professor de direito internacional da FGV, de São Paulo, especialista em Oriente Médio.

“Ajudar na derrubada de Kadafi melhora a imagem dos países da coalizão junto aos outros povos árabes desejosos de mudança”, afirma Nasser. “E os deixa bem colocados para decidir sobre o futuro do país e sobre a exploração econômica de suas riquezas.”

Em sua visita ao País, Obama não precisou usar a força para conquistar a simpatia dos brasileiros, hipnotizados por seu discurso no Theatro Municipal, do Rio de Janeiro, no domingo 20, quando chegou a dizer que “o Brasil não era mais o país do futuro, porque o futuro já chegou”.

Carismático, anunciou uma potencial agenda econômica conjunta, que não se restringe ao pré-sal. O setor de infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, que devem demandar investimentos de até R$ 200 bilhões, por exemplo, já estão na mira de Obama.

Na segunda-feira 21, o presidente do Eximbank, Fred Hochberg, afirmou que a instituição, responsável por financiar as exportações e importações americanas, vai colocar US$ 1 bilhão à disposição das empresas brasileiras envolvidas em projetos ligados aos eventos esportivos. Bom para os Estados Unidos, excelente para o Brasil, garante Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador Rio-2016.

“Esses recursos endossam nosso trabalho e abrem precedentes para novas fontes de financiamento”, afirma Nuzman. Além desse dinheiro, o banco americano vai emprestar outros US$ 2 bilhões para que a Petrobras contrate empresas ou compre produtos e serviços americanos para a cadeia de petróleo e gás.

A onda de investimentos americanos pode escancarar, efetivamente, uma inegável janela de oportunidades para o País. Mas a hora é de mostrar o poder de barganha. O campo militar é um exemplo clássico.

A americana Boeing, que disputa com os franceses da Dassault e os suecos da Saab a venda de 36 caças à Aeronáutica num contrato de R$ 10 bilhões, aumentou seu poder de sedução após a visita de Obama.

“Estamos extremamente empolgados com os resultados das conversas de Obama com Dilma”, disse à DINHEIRO Joe McAndrew, vice-presidente de negócios da Boeing. “O lobby do governo americano nos ajuda a mostrar os benefícios dos nossos caças em comparação aos concorrentes, especialmente o preço, a tecnologia e a ampla rede de assistência pelo mundo.”

No caso do pré-sal, Dilma disse a Obama, em reunião reservada, que o Brasil pode priorizar os EUA desde que exista uma facilitação de entrada de outros produtos brasileiros em contrapartida – tanto em commodities agrícolas quanto em manufaturados. Entre as ideias está a venda casada de etanol de cana-de-açúcar e petróleo.

“A proposta é positiva para os dois lados, uma vez que Dilma quer promover o etanol e Obama precisa de petróleo e quer reduzir emissão de poluentes”, disse Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, à DINHEIRO.

A notícia foi recebida com empolgação por Marcos Jank, presidente da Unica, a entidade que representa a indústria sucroalcooleira. “O esforço conjunto entre o Brasil e os Estados Unidos para desenvolver o setor de energia verde é, indiscutivelmente, algo que nos enche de otimismo.”

Surpreendentemente, quem não se mostrou plenamente satisfeito com o interesse de Obama pelo petróleo brasileiro foi o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

“Quem compra petróleo não é o governo americano, são as empresas”, afirmou o presidente da estatal, em tom irritado ao ser questionado sobre a disposição americana de se tornar um cliente preferencial do Brasil. “Não existe hoje nenhum instrumento à disposição do governo.”

Mais tarde, Gabrielli adotou um tom mais ameno, afirmando que os americanos podem criar instrumentos que facilitem o comércio exterior.

O porquê da reação de Gabrielli não ficou claro, mas pode revelar que a empolgação com Obama e suas boas intenções não é unanimidade. Isso, porque, os Estados Unidos jogaram duro com o País nos últimos anos, restringindo, por exemplo, a entrada do etanol brasileiro e da carne.

Em encontro reservado com empresários, entre eles, o presidente da CNI, Robson Andrade, Obama ouviu dos brasileiros que a expectativa é por uma relação “ganha-ganha”.

“Quando olhamos para o Brasil, vemos a chance de vender mais a um mercado de 200 milhões de pessoas que cresce rapidamente”, disse Obama, antes de receber a bola de volta. “Nós é que queremos vender para vocês”, rebateu Andrade.

O desafio brasileiro agora é tirar partido desse clima de sedução, principalmente quando há mais de um pretendente a se tornar parceiro estratégico no horizonte. A economia que mais cresce no mundo, a China, também está de olho no potencial de extração de petróleo do País e nas variadas opções de bons negócios no campo da infraestrutura.

Há dois anos, a Petrobras recebeu um empréstimo de US$ 10 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China, que será pago com o fornecimento de petróleo durante dez anos. Não por acaso, dentro de três semanas a presidente Dilma Rousseff irá à China, onde vai se reunir com o presidente Hu Jintao e com o primeiro-ministro, Wen Jiabao.

Entre 12 e 15 de abril, ela visitará também as cidades de Pequim, Sanya e Boal, com uma agenda cheia de compromissos econômicos. A presidente aproveitará esses encontros para tentar ampliar o acesso de produtos brasileiros ao mercado chinês.

“O Brasil deve estreitar relações com os EUA e com a China, mas não pode se esquecer de que ambos têm dificultado o acesso de produtos brasileiros”, diz Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para quem os dois países têm defendido bem seus interesses nas mesas de negociação. “Precisamos aprender a fazer o mesmo.”

Fonte: REVISTA ISTO É DINHEIRO / NOTIMP








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