Brasil é outra coisa
Na visão de especialistas, a viagem de Barack Obama deve ser examinada em dois momentos distintos: a visita ao Brasil e a passagem pelo resto da região. A diferenciação teria sido feita pelo próprio presidente americano, que explicitou, em vários momentos, a importância que o gigante sul-americano alcançou no horizonte dos EUA. Na última sexta-feira, Obama foi mais uma vez agradável com o governo brasileiro: telefonou para a presidente Dilma Rousseff, em meio ao caos da ofensiva na Líbia, e reiterou o convite para que ela vá a Washington.
Para o embaixador Roberto Abdenur, que representou o Brasil nos EUA no primeiro mandato de Lula, a visita de Obama a Brasília explicitou o resultado de um processo de diferenciação que os EUA têm feito. “O olhar americano para o Brasil, nos últimos 10 anos, vem se sofisticando, e muito é pela ação de nomes como o embaixador Thomas Shannon. Hoje, para eles, existe a América Latina e o Brasil”, afirma.
Abdenur considerou a visita um “salto qualitativo” na relação entre os dois países, pelo conteúdo das conversas entre os dois lados e pelo “denso” conteúdo do comunicado conjunto. “Foram assinados 10 acordos que abarcam as mais diversas áreas, inclusive as ditas sensíveis, como energia nuclear, ciência e tecnologia e cooperação espacial”, observa. O embaixador lembra ainda que, na diplomacia, são “muito importantes” os gestos simbólicos — como o fato de Obama ter se antecipado à visita de Dilma aos EUA.
Seu antecessor em Washington, Rubens Barbosa, também considerou o diálogo produtivo, e a visita, conduzida de maneira “pragmática e sem ideologias”. “Foram discutidas coisas concretas, apesar de algumas ainda estarem no nível das intenções. Mas o acordo sobre biocombustível para aeronaves, por exemplo, é um mercado de US$ 300 bilhões”, afirma. Ele cita a cooperação espacial também como um ponto importante, por abrir possibilidade de restabelecer o programa brasileiro, com o lançamento de foguetes a partir da Base de Alcântara. “Sem os EUA, isso não existe.”
Na opinião de Cristina Pecequilo, contudo, Obama não fez mais do que um “papel de mercador”, vindo ao Brasil para conseguir soluções para seus problemas econômicos. “Ele poderia ter oferecido algo mais, já que estão pedindo tanto: pré-sal, empregos (por meio do aumento nas exportações ao Brasil)”, critica. “Não há nenhum grande impedimento, por exemplo, para os EUA apoiarem um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança. Será que não estava na hora de falar sobre isso mais assertivamente?”, questiona. (IF)
O que ficou para depois
Alguns dos pontos que ficaram em aberto na agenda Brasil-EUA nessa viagem podem ser tratados na visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, que deve ocorrer entre agosto e outubro
Vistos
O governo e, em especial, o empresariado brasileiro ainda esperam que o país entre no grupo dos que não necessitam de vistos para entrar nos EUA. O Brasil já tem uma boa taxa de aprovação, e o assunto continuará sendo discutido por meio da embaixada em Washington, segundo o Itamaraty
Previdência
Devido à dificuldade de integrar dois sistemas previdenciários tão diferentes e de definir detalhes sobre os cálculos atuariais, a assinatura de um acordo foi adiada
Etanol
Tema controverso, foi deixado de molho enquanto os dois presidentes se aproximam. A Casa Branca argumenta que uma redução nas tarifas de importação do combustível brasileiro, bem dos subsídios pagos aos produtores americanos, depende do Congresso dos EUA.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE / NOTIMP