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Modelos para a inovação da indústria brasileira







Marco Antonio Raupp

O Brasil já descobriu a importância da inovação tecnológica para a competitividade de suas empresas no mercado global. No entanto, para que a inovação tenha uma influência significativa na produção industrial e na oferta de serviços de um país - ou seja, contribua para a geração de riqueza -, são necessárias a definição de instrumentos de financiamento e a institucionalização de modelos adequados à realização de atividades inovativas, especialmente pesquisa e desenvolvimento.

Em termos de instrumentos financeiros, o Brasil já conta com um portfólio razoável, como a subvenção econômica, os incentivos fiscais, os programas da Finep e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os fundos de investimento ao capital de risco. Mas no que se refere a modelos - ou seja, à montagem de cenários para a ação articulada de diferentes atores cujos esforços resultam em inovação -, ainda carecemos de definições compatíveis com o potencial do país. Em outras palavras, precisamos eleger algumas formas de atuação pelas quais seja possível fazer a interação entre a base científica, o setor empresarial e os agentes de financiamento à inovação.

Todos os países que se destacam na produção industrial moderna construíram seus próprios modelos para promover a inovação tecnológica. Se ainda não chegamos a esse ponto, ao menos já temos alguns exemplos exitosos a serem considerados, nos campos da aeronáutica, do petróleo e do agronegócio.

O primeiro passo para a construção da indústria aeronáutica brasileira foi a criação do Centro Técnico Aeroespacial e do Instituto Tecnológico de aeronáutica. Foi dessa base que surgiu a Embraer e boa parte de sua cadeia de fornecedores.

No petróleo, criamos a Petrobras, mas o que a fez uma vencedora constante de desafios tecnológicos cada vez maiores foi o seu Centro de Pesquisas (Cenpes), e uma rede universitária associada, com especial destaque para a COPPE/UFRJ

A produção do nosso agronegócio é responsável por quase um quarto do PIB brasileiro e em 2009 respondeu por 42% de nossas exportações. Na base científica e tecnológica que dá ao nosso agronegócio uma produtividade cada vez maior está a Embrapa, em articulação com algumas escolas de agronomia, veterinária e zootecnia de primeira linha.

Esses exemplos mostram que o Brasil teve grande êxito quando fez esforços para a integração da base científica e tecnológica com setores econômicos. Inspirados nesses exemplos, estamos desenvolvendo no Parque Tecnológico de São José dos Campos, localizado no Vale do Paraíba paulista, um modelo que tem a pretensão de servir de referência ao país.

Como regra geral internacional, os parques tecnológicos nascem dentro de universidades que acumulam uma carga de conhecimento científico e tecnológico pronta para transbordar para a sociedade. Em São José dos Campos, onde não há uma universidade com tais características, o Parque Tecnológico está sendo construído com base em um modelo que aglutina instituições de ciência e tecnologia (ICTs), empresas e agentes de financiamento em torno de temas ou objetivos específicos.

Organizados no que denominamos Centros de Desenvolvimento Tecnológico (CDTs), já estamos atuando nas áreas de aeronáutica (software embarcado e estruturas leves), saúde (medicina assistida por computação, novos materiais e próteses, entre outras) e energia (novas fontes e otimização das matrizes já conhecidas). Em breve atuaremos também nas áreas de saneamento básico e recursos hídricos, espacial e ferroviária. Para o desenvolvimento de seus projetos, os CDTs contam com uma empresa-âncora, ICTs e, se for o caso, outras empresas da cadeia produtiva em questão.

Das áreas em operação no Parque, a de energia é a que se encontra em estágio mais avançado, já com resultados prestes a serem colocados no mercado.

O CDT de energia tem como empresa-âncora a Vale Soluções em Energia (VSE), uma sociedade criada pela Vale e o BNDES em 2007, que investirá US$ 720 milhões até 2012 e que conta com importantes financiamentos da FINEP.

Em área de 100 mil m2, onde trabalham mais de 300 cientistas, engenheiros e técnicos, as atividades da VSE no Parque contemplam o desenvolvimento de sistemas de potência que propiciarão produtos e soluções energéticas inovadores, eficientes e ambientalmente sustentáveis. Por exemplo, já está em fase adiantada de desenvolvimento um sistema termogerador de energia, alimentado por biocombustíveis ou pelos tradicionais combustíveis fósseis, que tem uma dupla função.

Ao mesmo tempo em que funciona como termelétrica, fornecendo energia para residências ou empresas, o equipamento transforma em água potável a água do mar, os esgotos sanitários ou os efluentes, como o vinhoto da cana-de-açúcar. Um equipamento único no mundo, que gera energia elétrica a partir de diversos combustíveis, permitindo priorizar as fontes mais limpas (como etanol), e que ainda "produz" água potável. A VSE iniciará as entregas do produto já no início de 2012.

Para executar seu amplo programa de desenvolvimento tecnológico, a VSE mantém parcerias com renomadas instituições de ensino e pesquisa, dentre as quais o Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA) e a Escola de Engenharia de São Carlos.

A experiência da VSE e sua articulação com instituições de ciência e tecnologia e agentes de financiamento já se mostra exitosa em termos de criação de uma plataforma tecnológica inovadora para a geração de energia por meio de fontes renováveis. Nossa expectativa é que esse modelo, gestado no Parque Tecnológico de São José dos Campos, possa também ser replicado, de modo a servir às nossas empresas que querem ocupar lugar de destaque no mercado internacional por meio da inovação tecnológica.

Marco Antonio Raupp é diretor geral do Parque Tecnológico de São José dos Campos e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Fabricantes brasileiros defendem regras atuais

Infraestrutura: Consórcio diz estar preparado para exigências do PNBL

Heloisa Magalhães e Ana Luiza Mahlmeister

Cinco empresas de capital nacional e Fundação CPqD que produzem e desenvolvem soluções de telecomunicações decidiram reagir - em coro - a posições de multinacionais do setor sobre a decisão da Telebrás de privilegiar o uso de produtos criados no país nas compras da estatal.

Em entrevista ao Valor, por teleconferência, dirigentes da Trópico, Padtec, Asga, Datacom, Icatel e a Fundação CPqD rejeitam afirmações de que a tecnologia desenvolvida no país seja mais antiga e de geração anterior à produzida em outros países, e que não tenha competitividade.

A Telebrás iniciou o processo de lançamento de editais para implantar a rede que atenderá ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A controvérsia é em torno do texto colocado para consulta pública referente ao primeiro edital divulgado. O documento trata dos sistemas de rede com tecnologia de multiplexação de ondas transmitidas em uma fibra óptica (tipo DWDM, a sigla em inglês).

A consulta pública terminou na sexta-feira. Jorge Salomão, presidente da Padtec, uma das empresas produtores de sistemas que se enquadram na demanda da Telebrás, diz que concorre com as multinacionais no mercado. "Temos o estado da arte (tecnologia atual), todas as operadoras como clientes, competimos, vencemos 80% das concorrências e exportamos para 40 países. Fomos pioneiros na aquisição de empresa de tecnologia em Israel e chegaremos muito longe. Vamos faturar R$ 200 milhões este ano", afirmou.

"Hoje, as empresas nacionais atendem a cerca de 10% das compras totais de infraestrutura de telecomunicações no país, mas há segmentos que respondem por mais da metade. O PNBL cria um horizonte mais promissor para quem desenvolve tecnologia", diz Salomão.

Para Raul Del Fiol, presidente da Trópico, a opção da Telebrás de basear-se na Medida Provisória 495, estimulando a compra de equipamentos desenvolvidos no país, é um mecanismo semelhante ao que já existe em vários mercados externos. "A proposta não é discriminatória. Quem desenvolver aqui, independentemente da origem do capital da empresa poderá apresentar proposta", afirma.

A Trópico produz redes transmitindo voz sobre IP, mas que integram diversos protocolos, e segundo Del Fiol, as teles que atuam no Brasil não discriminam a origem do capital, buscam preço competitivo. "Mas a participação de mercado está muito vinculada não só à tecnologia e qualidade, como as linhas de financiamento internacionais a juros baixos aliados a bônus para outras compras", afirma Igor Slaru, presidente da Icatel. A empresa, que estima faturar R$ 180 milhões este ano, é voltada à telefonia pública e criptografia eletrônica.

Del Fiol lembra que países como Estados Unidos, China, Coreia, Japão, Israel, França, Itália, Dinamarca e Finlândia têm práticas semelhantes de estímulo ao desenvolvimento local. E destaca que a alegação da Telebrás - em torno de segurança nacional em determinados sistemas para atender ao governo e às forças armadas - levanta a questão do software contendo vírus ou dispositivos de espionagem, baseada em fatos já ocorridos no exterior, que demonstraram fragilidade em redes.

O diretor da Asga, Francisco Mecchi Neto, também participou da entrevista. A empresa desenvolve equipamentos para acesso óptico e rádios digitais. Por outro lado, a Fundação CPqD, presidida por Helio Graciosa, que já foi do sistema Telebrás, é voltada para o desenvolvimento de tecnologia em telecomunicações.

Empresas e pessoas físicas que fizeram contribuições à consulta pública divulgada pela Telebrás para a contratação de infraestrutura óptica reclamam da falta de isonomia na licitação da estatal.

Outra observação recorrente é a preocupação com a obsolescência da tecnologia. "A Alcatel-Lucent acredita que há soluções tecnológicas mais atualizadas do que aquelas especificadas na consulta, o que permitiria que a administração pública pudesse ter acesso à tecnologia óptica de ponta", diz a contribuição assinada pelo diretor da companhia, Wagner Ferreira.

A exigência de equipamentos desenvolvidos no país é objeto da contribuição de José Antonio Morgado. Em sua visão, o país detém apenas 0,025% de patentes na área da tecnologia óptica requerida pela Telebrás. "Torna-se complexo, portanto, referir-se aqui ao conceito de "tecnologia desenvolvida no Brasil", particularmente no âmbito das regras do comércio internacional", afirma. Uma das alternativas apontadas pela Alcatel é permitir a participação a fabricantes com Processo Produtivo Básico, sem excluir os demais fabricantes que já atuam no país.

Outra observação é quanto à contratação de um único fornecedor. Uma das contribuições propõe a divisão da licitação por enlaces de anéis ópticos ou por região geográfica para que a Telebrás não fique refém de um único fornecedor em um projeto de âmbito nacional.

Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP




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