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Negociatas em família






Em apenas 170 dias no cargo de ministra da Casa Civil, a discreta Erenice Guerra saiu da sombra de Dilma direto para a demissão sob suspeitas de corrupção

Leonel Rocha, Leandro Loyola e Marcelo Rocha

Filiada ao PT desde 1981, a advogada Erenice Alves Guerra, de 51 anos, sempre ocupou cargos públicos longe dos holofotes. Nascida em Brasília, foi funcionária da Eletronorte, estatal do setor elétrico, exerceu funções em três áreas do governo no Distrito Federal do então petista Cristovam Buarque, entre 1995 e 1998, e chegou ao Ministério de Minas e Energia em 2003. Em março, Erenice assumiu o lugar da amiga e antecessora Dilma Rousseff como ministra-chefe da Casa Civil, uma espécie de gerente de todo o governo. Erenice poderia ter terminado seu trabalho como uma das ministras mais discretas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas Erenice emergiu do anonimato diretamente, sem escalas, para os escândalos de corrupção e mau uso dos cargos públicos. Na semana passada, ela “pediu demissão” após uma temporada de apenas 170 dias no cargo.

RAPIDEZ

Discreta por 29 anos em cargos públicos, em menos de uma semana Erenice Guerra saiu do anonimato para o estrelato dos escândalos. Erenice, a pessoa mais próxima de Dilma no governo, caiu depois de denúncias de tráfico de influência e irregularidades contra seus familiares, dos quais muitos ocupavam cargos de confiança, aqueles preenchidos sem concurso, na administração federal (leia o quadro na última pág. da reportagem). A acusação decisiva para a queda de Erenice atingiu seu filho Israel Guerra, acusado de intermediar negócios entre empresas privadas e o governo. Na quinta-feira, o jornal Folha de S.Paulo revelou que Israel teria tentado ajudar uma empresa a obter financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com o consultor Rubnei Quícoli, representante da empresa EDRB, Israel queria cobrar R$ 40 mil e uma “taxa de êxito” de 5% para ajudar a empresa a obter um financiamento de R$ 9 bilhões no BNDES.

O financiamento público pleiteado pela EDRB seria usado para montar uma central geradora de energia solar no Semiárido do Nordeste. Segundo Quícoli, Israel não estava sozinho na tentativa de ajudar a EDRB. Quícoli teve contato também com Marco Antônio de Oliveira. Ex-diretor dos Correios, Oliveira é tio de Vinícius Castro, ex-assessor jurídico da Casa Civil e compadre de Israel. De acordo com Quícoli, Oliveira teria avisado que a comissão a ser paga pela EDRB seria usada para pagar dívidas das campanhas de Dilma à Presidência e do senador Hélio Costa (PMDB) ao governo de Minas Gerais. Oliveira nega ter feito essa afirmação, assim como o envolvimento na negociata é desmentido pelas campanhas de Dilma e de Hélio Costa. Para fechar o negócio, Israel apresentou a Quícoli um contrato da Capital Assessoria e Consultoria, que pertence a seu irmão, Saulo, e à mãe de Vinícius. Quícoli e os sócios da EDRB dizem que rejeitaram a oferta. Quícoli foi filiado ao PDT e ao PSDB no passado. Ele foi processado por coação e receptação de moeda falsa. Em 2007, esteve preso durante dez meses. O BNDES afirma que o negócio não saiu e que o financiamento pleiteado pela EDRB seria de R$ 2,25 bilhões.

Dias antes, o filho de Erenice, Israel Guerra, havia sido acusado de negócio semelhante. A revista Veja publicou que Israel teria assinado um contrato com Fábio Baracat, representante da empresa aérea de transporte de carga MTA Linhas Aéreas. Israel receberia R$ 24.800 mensais e a mesma “taxa de êxito” de 5% cobrada da EDRB caso o contrato fosse fechado. A missão de Israel seria facilitar a contratação da MTA. Baracat afirmou à revista ter sido levado por Israel a encontros com Erenice. Depois, Baracat negou parte do que teria dito. Erenice também negou. A MTA obteve um contrato de R$ 19,6 milhões com os Correios.

Erenice ajudou a encaixar parentes em diversos cargos comissionados no governo

A MTA é uma empresa emergente. Seus negócios nos Correios começaram a crescer em 2009. No papel, ela pertence a um casal que vive no Rio de Janeiro. Mas seus endereços registrados na Junta Comercial são de seus representantes. Não há uma sede. O presidente da MTA era Artur Rodrigues da Silva, ex-coronel da Aeronáutica e ex-diretor de Operações dos Correios. Silva afirma que passou a administração da MTA para a filha. A MTA assinou contrato com os Correios 20 dias antes da nomeação do coronel para o cargo.

Os Correios eram uma área de influência de Erenice. Há dois meses, o presidente Lula decidiu demitir toda a cúpula da estatal. Indicada pelo PMDB do senador Hélio Costa (MG), ex-ministro das Comunicações, a diretoria era apontada como incompetente. Institucionalmente, os Correios são subordinados ao Ministério das Comunicações. Mas a nova diretoria – formada por David José de Matos, Nelson Oliveira de Freitas e Artur Rodrigues da Silva – não foi indicada pelo atual ministro, José Artur Filardi. Recentemente, Filardi comentou com amigos que recebeu o pacote pronto do Palácio do Planalto. A nomeação de Matos para a presidência dos Correios é atribuída a Erenice.

Fonte: REVISTA ÉPOCA, via NOTIMP




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