Dívida marca diferença de TAM e LAN
Alberto Komatsu, de São Paulo
O perfil de endividamento ajuda a explicar a diferença de valor de mercado da LAN e da TAM, que se unirão e formarão a Latam. Dois meses antes de anunciar a operação, a TAM encerrou o primeiro semestre com dívida total bruta de US$ 4,2 bilhões. É o sexto maior endividamento entre 11 companhias aéreas de capital aberto das Américas, exceto o Canadá. No total, a dívida somada era de US$ 64 bilhões.
Levantamento da Economática mostra que a dívida bruta da LAN em junho era de US$ 3 bilhões. O endividamento da empresa chilena é o penúltimo da lista. Só não é maior que o US$ 1,9 bilhão da regional Skywest, que no Brasil tem 20% do capital votante da Trip Linhas Aéreas.
Mais do que endividamento bruto, a relação entre o que a TAM gera de lucro antes do resultado financeiro em 12 meses para pagar sua dívida também se destaca no levantamento. Com base nos dados financeiro até junho, a TAM gerava o correspondente a US$ 4,1 para cada US$ 100 de dívida. Essa proporção só é menor em comparação com a American Airlines, que apresentou resultado negativo.
Já a LAN mostrou o segundo melhor desempenho nas Américas para amortizar sua dívida. A empresa gerou no primeiro semestre deste ano o equivalente a US$ 17,3 para pagar cada US$ 100 de dívida. A americana Southwest teve a melhor performance, com US$ 17,6 para cada US$ 100 de dívida.
A Gol Linhas Aéreas também teve melhor desempenho que a TAM. Em 12 meses até junho, a segunda maior empresa aérea brasileira gerou US$ 13,7 para pagar cada US$ 100 de dívida.
Em comunicado, a TAM disse que "a dívida varia principalmente em função da quantidade e valor das aeronaves classificadas como arrendamentos financeiros".
A expansão do endividamento da TAM, diz o analista de setor aéreo da Link Investimentos, Felipe Rocha, já vem sendo notado pelo mercado, por causa dos planos de expansão da companhia. "Nos últimos anos a frota da TAM cresceu de forma acelerada", diz ele.
O analista de aviação da Planner Corretora, Brian Moretti, destaca que a Gol está sendo mais eficiente na busca por novos consumidores. "A Gol está melhor posicionada na busca pelo consumidor da classe C", afirma ele.
A TAM também registrou uma das maiores relação entre dívida bruta e patrimônio líquido no levantamento da Economática. Ao fim de junho de 2010, a TAM tinha o equivalente a US$ 977,43 de dívida para cada US$ 100 de patrimônio. Nesse quesito, a empresa brasileira fica atrás só da Delta Airlines.
A TAM também registrou, conforme a Economática, uma melhora na sua margem líquida. Pelo levantamento de 12 meses, até 30 de junho, a taxa é positiva em 2,75%, o quarto melhor desempenho das Américas.
A LAN, por sua vez, está com margem líquida de 7,95%, a maior entre as 11 empresas aéreas do levantamento.
"A companhia [TAM] tem feito um repasse de preços e melhorou o segmento de carga", diz Moretti, da Planner, lembrando que o setor de cargas aumenta a rentabilidade de uma empresa aérea.
"A TAM fez uma diversificação e a área de cargas responde hoje por uma porcentagem maior do faturamento. Já a LAN começou como uma empresa de cargas", acrescenta Rocha, da Link.
Em recente entrevista, o presidente do conselho de administração da holding TAM S.A., Marco Antonio Bologna, disse que o transporte de cargas responde por cerca de 9% do faturamento da TAM. Na LAN, o executivo estima que essa área represente em torno de 35% da receita.
Bologna também destacou que contribuiu para o aumento do endividamento da TAM operações de hedge de combustível que foram realizadas no ano passado. Segundo ele, esse impacto negativo para os resultados financeiros ainda devem aparecer durante 2010.
Feita a fusão, os investidores procuram entender quanto da diferença de 8 pontos de margem entre as duas empresas se deve unicamente a uma questão de gestão e quanto se explica pelo diferente mercado de atuação, já que no Chile existe praticamente um monopólio.
Para Maurício Levi, sócio da Fama Investimentos, a nova gestão terá que resolver um problema de posicionamento da TAM. Para ele, no passado a empresa antes conseguia cobrar um preço mais caro por ofertar um serviço de melhor qualidade, mas hoje acaba competindo apenas em preço com a Gol, principal concorrente. "E como ela não tem DNA de baixo custo, fica difícil", afirma.
Já Márcio Macedo, sócio gestor da Humaitá Investimentos, considera que a Latam terá elevados ganhos de sinergia, com ampliação da ocupação das aeronaves, além de redução do custo de financiamento. "A LAN é uma das poucas aéreas do mundo com nota de crédito de grau de investimento. Isso deve reduzir o custo da dívida da TAM em uns dois pontos", afirma.
(Colaborou Fernando Torres.)
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP