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A crise que volta





A confusão que se implantou nos principais aeroportos brasileiros na virada do mês de julho para agosto, coincidindo com o fim das férias escolares, trouxe de volta preocupantes expectativas em relação ao transporte aéreo brasileiro. Três anos depois da pior crise do sistema aéreo brasileiro, a realidade mostrada no último fim de semana representa um alerta. A crise, que constrangeu o país e prejudicou gravemente os usuários e a própria economia, não parece superada, reforçando a ideia de que, entre os grandes desafios para a Copa de 2014, a questão dos aeroportos ocupa mesmo primeiríssimo lugar.

As razões da atual crise foram identificadas na confluência de dois fatos previsíveis. De um lado, mudanças e falhas na escala dos tripulantes da empresa aérea Gol e, de outro, um fim de semana em que o tráfego aéreo era especialmente intenso em razão do término das férias escolares, com grande movimento de voos fretados procedentes de destinos turísticos nacionais e internacionais. É indesculpável que, com a previsibilidade dessa coincidência, a empresa aérea não tenha adotado providências necessárias para evitar que dela resultasse um começo de caos em todo o sistema, como acabou ocorrendo. Milhares de passageiros foram prejudicados por atrasos ou pelo cancelamento de centenas de voos.

Ainda que a atual crise tenha origem bem identificada, diversas áreas envolvidas, entre elas as dos representantes dos trabalhadores de empresas aéreas, advertem que o problema não se restringe à companhia que causou o desarranjo. Nenhuma mudança importante ocorreu desde que, por outros motivos, deflagrou-se a crise, grave e intensa, que tumultuou o sistema aéreo brasileiro a partir de setembro de 2007, quando um Boeing da Gol caiu na Amazônia, e especialmente depois de julho do ano seguinte, quando um acidente com um Airbus da TAM, no Aeroporto de Congonhas, evidenciou descontroles públicos e privados, deficiências nos aeroportos, insuficiência na fiscalização e uma desatenção visceral em relação aos direitos dos usuários.

Houve então uma troca no comando do Ministério da Defesa, seguida meses depois por uma alteração na composição dos conselheiros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Houve também providências pontuais que deram aos passageiros instâncias oficiais para reclamações e possibilidade de pleitear indenizações. Mas o sistema como um todo permaneceu igual, comandado pela mesma Infraero e usando as mesmas estruturas aeroportuárias já reconhecidas como insuficientes e precárias na maioria das grandes cidades.

Assim, a confusão do último fim de semana, com os transtornos que gerou, não pode deixar de ser educativa. É imprescindível que, além das obras de ampliação e modernização dos aeroportos exigidos pela Copa de 2014, o país cobre de suas empresas aéreas serviços de mais qualidade que os hoje praticados e que a Anac, em nome dos usuários, cumpra com suas funções de controle e fiscalização.

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O que conflagrou a reprise do caos

Má implementação de sistema de escala é apontado como o estopim

Mais um dia de tumulto nos aeroportos, com 36,7% dos voos nacionais e 43,3% dos internacionais da Gol atrasados até as 20h de ontem, fez crescer a dúvida sobre a normalização do tráfego aéreo. O que decolou sem limite foram os temores de repetição do caos de 2007, abastecidos por relatos preocupantes de dirigentes sindicais e de funcionários da companhia.

Não está confirmada, por exemplo, a paralisação de 24 horas de pilotos e comissários da Gol que teria sido marcada para o dia 13. Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, que divulgou na segunda-feira nota de apoio à paralisação, dando credibilidade ao movimento, disse ontem ter marcado uma reunião com a área de recursos humanos da Gol para discutir as queixas dos funcionários para o dia 11. A empresa não confirma o encontro. O diretor de segurança de voo do Sindicato dos Aeronautas, Carlos Camacho, diz que existe só uma intenção de paralisação declarada anonimamente por pessoas que se dizem copilotos da Gol.

Eles mandaram um documento na semana passada marcando a greve e dizendo os motivos. O sindicato assumiu o movimento no sentido de apoiar as reivindicações. Mas, entendemos que os trabalhadores querem que a empresa negocie para mudar o que está acontecendo hoje na Gol, que é muito grave justificou Selma.

Entre os problemas, cita baixos salários, excesso de jornada, desvio de função, assédio moral e redução da participação da empresa no plano de saúde dos funcionários.

Gol desiste temporariamente de programa da Lufthansa

Cruzando versões de sindicalistas, da Gol e de funcionários da empresa, o cancelamento de voos decorreu da tentativa de sanar o problema criado pela aplicação de um sistema informatizado de escalas, chamado CrewLink, que teria sido fornecido pela alemã Lufthansa. Segundo um piloto da Gol que pediu para não se identificar, o grande erro da companhia foi fazer a mudança em julho, um mês de pico no transporte aéreo. Além disso, o programa não considerou regras do Brasil, o que teria levado muitas equipes a estourar a carga limitada a 85 horas de voo por mês.

De voo, não de trabalho. De trabalho são 160 horas, frisa o piloto.

Monitorando um sistema de denúncias online desde 2 de fevereiro, Camacho conta que recebia média de 85 por mês. Em julho, subiu para 346, 95% com origem na Gol:

Foi a implantação do sistema de escalas denominado Crewlink, que levou os integrantes da Gol à loucura.

Segundo o diretor sindical, houve diferentes formas de descumprimento às regras. Depois de uma reunião com o sindicato dos Aeronautas, o vice-presidente de Recursos Humanos da Gol teria ordenado o cancelamento dos voos para adequar as escalas e evitar a sobrecarga horária.

É uma das 10 mais lucrativas do mundo, mas não tem plano de previdência privada, de saúde, e uma diferença salarial muito grande em relação à média, disse Camacho.

Ontem, após reunião com a Gol, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) divulgou nota em que a empresa se compromete a aplicar em agosto escala na mesma configuração de junho ou seja, abandona ao menos temporariamente a CrewLink. Em nota, a Gol informou que continua trabalhando para normalizar a situação de seus voos. A assessoria não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre as reivindicações dos funcionários.

Fonte: ZERO HORA, via NOTIMP




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