Netanyahu marca para agosto sua visita ao Brasil
Visita de primeiro-ministro israelense será antecedida por vinda do ditador sírio ao país; ambas são inéditas. Diálogo entre Brasil e Irã, porém, é entrave às pretensões de Lula de atuar como mediador nas negociações de paz
MARCELO NINIO
Apesar de sua insatisfação com a aproximação do Brasil com o Irã, o governo de Israel confirmou a visita do premiê Binyamin Netanyahu para o dia 11 de agosto. Será a primeira visita oficial ao Brasil de um chefe de governo israelense na história.
A viagem de Netanyahu deve ser precedida por outra visita importante e inédita do Oriente Médio, a do ditador da Síria, Bashar Assad.
Ainda não há confirmação oficial, mas a data que vem sendo articulada para a chegada de Assad a Brasília é 30 de junho.
Em março, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Israel, a possibilidade de um encontro entre Netanyahu e Assad no Brasil foi levantada pelo presidente israelense, Shimon Peres.
Na época havia planos vagos de visita ao Brasil dos dois líderes. Peres sugeriu que as datas coincidissem e que o governo brasileiro organizasse um contato entre Assad e Netanyahu para tentar reavivar o processo de paz entre os dois países.
Até o momento, porém, as visitas têm sido tratadas separadamente, e não há previsão de encontro entre os dois. Israel e Síria mantiveram negociações indiretas de paz por meio da Turquia até o fim de 2008, quando a ofensiva israelense na faixa de Gaza interrompeu o diálogo.
Um dos entraves para a entrada em cena do Brasil como facilitador do processo seria a desconfiança de Israel.
A mediação brasileira do acordo nuclear com Teerã, na semana passada, causou imenso desconforto no governo israelense, principalmente as cenas de confraternização entre o presidente Lula e o colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que questiona o Holocausto e defende que Israel seja varrido do mapa.
Até agora está agendada só a visita de Netanyahu a Brasília, inclusive com hora marcada: encontro ao meio-dia com Lula. Mas é possível que o premiê também vá a São Paulo, onde Israel reabriu há pouco um consulado.
Quando esteve em Israel, Lula ouviu um coro afinado de repúdio ao aquecimento das relações do Brasil com o Irã, que uniu governo e oposição em um alerta sobre as supostas intenções belicosas do programa nuclear do Irã.
Após o acordo assinado na semana passada, a reação oficial israelense foi de silêncio. Mas o sentimento é de ceticismo, tanto em relação à eficácia do acordo quanto à neutralidade do Brasil para intermediar negociações de paz entre Israel e os árabes.
Lula parecia estar comemorando o título da Copa do Mundo, mas o acordo é como se fosse um gol no início do jogo, comparou um diplomata israelense, pedindo para não ser identificado. Para Israel, o Irã só tenta ganhar tempo com a iniciativa.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP