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O caos aéreo e os Fokker 100 sem GPS






Marcelo Ambrósio

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Depois de ter visto o que aconteceu no Rio após o meu pouso, me considero um sujeito de muita sorte. Penei no caos aéreo de segunda-feira – depois teve o de terça... bem pior – em uma longa e desconfortável espera no “piso interiorrrr”, como falam as funcionárias das companhias que chamam a gente no alto-falante de Congonhas. A chuva e o nevoeiro haviam reduzido a operação no aeroporto aos mínimos de visibilidade. Quase à cobertura dos prédios em torno.

A questão é que a condição meteorológica, descobri nesse dia, afeta as companhias de forma diferente. Assim que fiz o checkin na Ocean Air, a gerente de operações Regina informou aos operadores que tanto CGH quanto SDU estavam fechando por falta de teto. Resignado, prepareime para esperar sentado, lendo um livro, pelo embarque.

Porém, entre o recebimento do cartão de embarque e a caminhada até o portão 21, a situação mudou. O aeroporto foi reaberto e logo passageiros da TAM e da GOL começaram a ser chamados.

À minha frente, a atendente Ariane repetia: “Sêim previsão no momêinto”.

Confrontada com a realidade, assim que a primeira decolagem aconteceu, a funcionária deu a segunda explicação: os Fokker 100 da Ocean Air não estão homologados para operarem em Congonhas e no Santos Dumont com os mínimos de teto.

Perguntei quantos voos da companhia tinham sido prejudicados pelo problema – desde a hora em que acordei ouvia jatos decolando do aeroporto – e ela respondeu: “Todos”. A gerente Regina, cujo sangue-frio diante das circunstâncias me impressionou, completou: “tenho aqui 500 passageiros retidos”. Os jatos que deveriam atendê-los, um estava em Cumbica, outro em Guarulhos e um terceiro no Santos Dumont, aguardando autorização para proceder o voo.

É uma situação com a qual passageiro algum estava preparado, até porque em nenhum local do site está escrito que a Ocean Air tem aviões menos qualificados que as concorrentes – embora eu, particularmente, prefira voar neles pelo conforto.

Como os bilhetes costumam ser mais em conta e a pontualidade é maior, sempre que pude optei pelos Fokker. A questão do equipamento me fez pensar se a economia vale a pena. Perder a manhã de trabalho vendo os outros seguirem para seus compromissos foi tão irritante quanto a negativa diante do endosso para as outras companhias. A justificativa da meteorologia, nesse caso, não valia: o problema não era o tempo, mas uma deficiência técnica não informada previamente a quem embarcaria.

Quem pedia reembolso, conforme as regras da Anac e do governo, era orientado a telefonar para o call center. Receber na hora, nem pensar. Lanche ou água? Nada. Permaneci de pé no portão enquanto Ariane refazia, à mão, a lista de espera e transferia quem resistiu para os lugares vagos.

A um dado momento, outra supervisora, a quem não identifiquei, a chamou e ordenou que não desse mais informação aos passageiros. Foi tão sutil que umas dez pessoas a ouviram. Gerência de crise é para quem tem, principalmente, boa cabeça, como Regina e Ariane.

Pousei no SDU às 14h20, quase quatro horas depois do previsto. Para os meus colegas de espera, aqui vai a informação que não nos passaram: o sistema de auxilio a pouso (ILS) de CGH está sendo modernizado, o que é bom. Enquanto o equipamento não é 100% operacional, a aproximação é feita em BARO / VNAV, procedimento que cruza os dados do GPS com a pressão atmosférica para a rampa final de pouso. E esse, parece, o Fokker 100 da Ocean Air não tem.

Fonte: JORNAL DO BRASIL, via NOTIMP



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