O fascínio e as dificuldades do ITA

Madrugadas estudando, finais de semana enclausurados em casa, ansiedades de mais, certezas de menos. Essa descrição poderia traduzir perfeitamente a rotina de grande parte dos estudantes em ano de vestibular. Mas tudo isso pode ser multiplicado se o caso for de jovens que tentam ingressar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). A escola pública militar de ensino superior do Comando da Aeronáutica, que já chegou a ser considerada uma das instituições que possuem uma das seleções mais difíceis do mundo, apresenta um longo e cansativo processo de testes.

Efetivamente criado em 1950, por intermédio de uma portaria do Ministério da Aeronáutica, o ITA foi concebido como uma escola de formação de Engenheiros da Aeronáutica. Ligado ao Comando Geral de Tecnologia Espacial (CTA), o instituto é, hoje, uma das referências brasileiras no ensino de engenharia. Aos seus estudantes, disponibiliza alimentação gratuita e habitação a baixo custo dentro do CTA. Não possui processo seletivo seriado nem ensino a distância. E, atualmente, são seis as graduações ofertadas pela instituição, todas engenharias: aeronáutica, mecânico-aeronáutica, civil-aeronáutica, eletrônica, de computação e aeroespacial — este último um curso criado no início de fevereiro deste ano e ainda sem número de vagas definido.

Numa pesquisa divulgada em um portal de educação na internet em abril de 2009, o ITA liderou a lista das universidades brasileiras que possuem os mais difíceis vestibulares do País. O que torna, então, a seleção do ITA um processo tão complicado? Os candidatos que desejam estudar na instituição são submetidos a cinco testes: matemática, física, química, português e inglês. Porém, alguns dos conteúdos não são trabalhados no ensino médio, o que aumenta o grau de dificuldade dos estudantes em responder às questões objetivas e discursivas propostas. São classificados apenas aqueles que conseguem atingir um desempenho superior ou igual a quatro em cada uma dessas disciplinas, o que resultaria numa média geral de, no mínimo, cinco pontos.

Outro pilar que sustenta a reputação do ITA como responsável pelo mais árduo processo seletivo do Brasil é a concorrência. Uma vez por ano, estudantes de diversos estados brasileiros têm a oportunidade de conquistar uma vaga na renomada instituição. Para se ter uma idéia, no vestibular 2010, inscreveram-se 6.503 candidatos para um total de cerca de 130 vagas. Portanto, para ser aprovado no instituto, debruçar-se sobre livros e apostilas pode não ser suficiente.

Tampouco frequentar as aulas de um curso preparatório específico. É preciso mais: dedicação e abdicação devem ser as duas palavras de ordem ao longo do ano. Um dos motivos que sustentam o status do instituto são as oportunidades profissionais e acadêmicas que são oferecidas aos seus alunos, assim como a valorização do currículo. Isso sem mencionar a reputação da instituição Brasil afora, o que pode "abrir portas" para um trabalho em outro país no futuro. O fato é que, independentemente do fim, o meio é igual para todos os candidatos: para integrar aquela que é considerada a melhor comunidade de estudantes de Ensino Superior do Brasil, fazer o "feijão com arroz" não basta. Pelo contrário, é preciso ser, no mínimo, a "cereja do bolo".

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO, via NOTIMP