NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 09/09/2013
Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado nos principais órgãos de comunicação do Brasil e até do mundo. O NOTIMP apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.
Protestos: baixa adesão, mas muita confusão
Mesmo com contingente inferior ao esperado, manifestações do Sete de Setembro resultaram em confrontos e prisões. Na avaliação de cientista política, data foi importante
Daniel Carmona
Das mais de 400 mil pessoas confirmadas em 150 cidades do país para o que seria, da esfera virtual para as ruas, o intitulado “maior protesto da história”, as manifestações realizadas no feriado do último sábado, 7 de setembro, tiveram adesão abaixo da expectativa. Em todo país, foram cerca de 20 mil manifestantes em 40 municípios. Ainda assim, o Dia da Independência terminou com mais de 350 manifestantes detidos em oito das principais capitais onde os protestos foram mais acalorados, com depredação de edifícios, ônibus, monumentos e confrontos com os policiais.
Além do Grito do Excluídos, passeata pela justiça social que tradicionalmente acontece no 7 de setembro nas principais cidades do país e conta como apoio de partidos e sindicatos, os protestos contaram coma presença de grupos com as mais variadas demandas, como o fim da corrupção, a desmilitarização da polícia, a manutenção do mandato do deputado federal Donadon e a prisão dos mensaleiros. Manifestações contra a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil, além de protestos contra a proibição às máscaras adotadas nos últimos dias em algumas localidades, também foram registradas.
Mais de três meses após o início das manifestações, que culminaram com o recuo no reajuste das tarifas de ônibus em grandes capitais, além de forçar a criação de uma agenda positiva pelo governo e pelo Congresso, poucas propostas saíram do papel. Até agora, além da revogação dos reajustes tarifários, houve a derrubada da PEC 37, aprovação do projeto que trata a corrupção como crime hediondo, fim do suplente de senador, fim do voto secreto no Congresso.
No Rio o governo estadual também recuou sobre demolições no entorno do Complexo do Maracanã (Museu do Índio, da escola Friendreich, do Célio de Barros e do Júlio Delamare). Mas outros temas permanecem em aberto, como a instituição do passe livre no transporte público, a desmilitarização da polícia e a reforma política, além de temas locais, como o cancelamento da concessão do Maracanã. A população, que chegou a participar em massa das primeiras manifestações em junho, porém, parece se distanciar do movimento, por causa do recrudescimento da violência nos confrontos entre polícia e manifestantes.
Na avaliação da cientista política Clarisse Gurgel, da Unirio, apesar do esforço dos movimentos sociais para que o protesto, de uma maneira geral, superasse os mais de um milhão de manifestantes que estiveram nas ruas das principais cidades do país em junho, mais um importante capítulo na história do país foi escrito no último fim de semana. “O que marcou as jornadas dos últimos meses foi de certa forma um desejo de fazer parte da história, mas isso está se assentando. É natural. O que acontece é que está se fazendo, talvez pela primeira vez, um debate que está na raiz do nosso conflito de independência”, avalia ela. “As Forças Armadas tomaram para si as comemorações do Sete de Setembro, mas isso faz parte um pouco da história da própria data, que surgiu a partir de uma decisão que veio de cima para baixo. No sábado, as Forças do Estado estavam todas no entorno de festa popular, que foi esvaziada. O povo tem medo de ir para rua , mas acaba que os governos estão caindo nas próprias armadilhas”, conclui.
Somente no Rio de Janeiro, a manhã de sábado terminou com 77 pessoas detidas nos protestos na região central que terminaram coma invasão ao tradicional desfile na Avenida Presidente Vargas. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 14 pessoas ficaram feridas na somatória dos confrontos, já que durante a tarde um outro protesto também tomou as ruas de Laranjeiras, próximo do Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense.
Na Lapa, reduto boêmio da cidade, casas noturnas tiveram que fechar as portas no sábado à noite por conta de confrontos no bairro. Em São Paulo, 40 foram detidos, segundo os registros da Polícia Militar, em uma série de eventos ocorridos na região central da capital paulista. Em frente à Câmara Municipal, os policiais agiram contra um grupo que estava como rosto coberto e passou a lançar pedras conta o edifício durante um ato contra o governador Geraldo Alckmin.
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Imprensa
Eduardo Almeida Reis
Não contem comigo para investigações, denúncias e outras providências detestáveis, quando só estou aqui para louvar o bem e comentar o lado bom das coisas. Vejamos as críticas feitas ao ilustre Aldo Rebelo, ministro do Esporte, nascido em Viçosa no ano de 1956. A Wikipedia inglesa informa que Viçosa fica em Minas Gerais, motivo mais que suficiente para o viçosense mineiro processar a Wikipedia, o Google, a ONU e a extinta União Soviética, de cujo regime político o ministro continua entusiasmado partidário.
Que me lembre, além da Viçosa mineira este país imensamente grande e bobo tem cidades homônimas no Rio Grande do Norte do deputado Henriquinho, nas Alagoas do senador Collor e no Ceará dos irmãos Gomes. Aldo José Rebelo Figueiredo nasceu nas Alagoas, pronuncia "subzídio" e se veste com um colete Adidas amarelo-ovo, motivo pelo qual já foi chamado de ministro Adidas. Nossa Viçosa, a mineira, que teve sua universidade conspurcada pelo honoris causa outorgado a um apedeuta, não merece o castigo adicional de ser acusada do nascimento do ministro.
Criticaram-no por ter levado mulher e filho em avião da FAB para passar o carnaval em Cuba: "viagem de trabalho", como explicou sua excelência. Entendo – e o leitor concordará comigo – que o alagoano Rebelo Figueiredo não tem culpa de ser ministro. Sua situação e a de muitos outros ministros e ministras é idêntica à da tartaruga no alto do poste: se um réptil da ordem dos quelônios aparece no alto de um poste é porque alguém o botou lá em cima.
Sendo quem é, o ministro é inimputável talqualmente os menores de 18 anos. Por via de consequência, sua mulher e seu filho também são inimputáveis e podem viajar nos aviões da FAB, sobretudo e principalmente para curtir o delicioso carnaval cubano. A condenar em todo esse episódio somente o fato de o ministro Adidas não se ter lembrado de me trazer duas caixas de charutos, dos bons. Contra pagamento em reais, é claro.
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Simulador reproduz turbulência que atingiu voo da TAM
Que turbulência é essa, que radares não detectam e que pode causar muito estrago? Nossos repórteres explicam o que aconteceu no voo 8065.
Fantástico - 08 de setembro
Uma turbulência que chegou de repente deixou vários passageiros feridos em um voo que vinha de Madri para São Paulo, no início da semana. Duas mulheres que se feriram mais gravemente tiveram que ser operadas, e ainda estão no hospital. Mas que tipo de turbulência é essa, que os radares não detectam e que pode causar muito estrago? Nossos repórteres em São Paulo e na Inglaterra explicam o que aconteceu no voo 8065.
Respingos de sangue, buracos no teto, passageiros feridos. São imagens inéditas, feitas depois de uma turbulência assustadora.
Na noite de domingo passado (1), o Airbus 330 da TAM decolou do aeroporto de Barajas, em Madri, rumo a São Paulo. O voo 8065 seguia tranquilo até mais ou menos metade do trajeto, mas tudo mudou por volta de 0h30, hora de Brasília, da segunda-feira, 2 de setembro.
“O avião deu uma queda. Não sei precisamente de quanto, mas uma queda livre. E quando ele sustentou, foi como se ele tivesse batido em algum lugar, no chão, por exemplo”, relata a empresária Renata Moreira.
“Foi tudo de repente, ele não vinha chacoalhando não”, lembra o programador Ricardo Pontes. ”Achei que fosse morrer. Só me ajeitei na poltrona e estava esperando o final”.
“Tinha muita gente sangrando, tinha gente com fratura. Fiquei imaginando que o avião nem conseguiria chegar a Fortaleza”, recorda o empresário Vagner Moreira.”Eu achei que tinha danificado a estrutura pelo impacto muito forte”.
O Airbus precisou fazer um pouso de emergência na capital do Ceará. Veja a mensagem do piloto momentos antes do pouso: “Nós temos quatro passageiros feridos com mais gravidade, com suspeita de braço quebrado, ok? Temos outros com cortes variados, cortes na cabeça, no rosto”.
Entre os feridos, estavam a funcionária pública Luciana Melo e o marido, o pedreiro Nilton, que voava pela primeira vez. Ela bateu o rosto. Ele quebrou uma costela.
“Quando eu despertei, ele já estava no chão gritando de dor: "Bem, pelo amor de Deus, nós vai (sic) morrer todo mundo". Eu falei: "vai mesmo". Eu bati com a cabeça assim no teto. Quando eu voltei, eu já caí sentada na outra poltrona”, conta Luciana. “E a menina que estava no banheiro machucou demais. Nossa, tadinha”.
A menina é a colombiana Tatiana Indira, que fraturou a coluna. Ela estava bem ao lado da peruana Graciela Aguillar, que quebrou a clavícula. Foram as vítimas mais graves. Ainda internadas em Fortaleza, deram ao "Fantástico" sua primeira entrevista sobre o caso.
“Ela saía do banheiro, eu entrava. De uma hora para a outra, o avião me golpeou. Bati contra o teto, a cabeça e as costas, e caí no chão sobre os braços”, conta Tatiana.
“A turbulência foi muito forte. Era como uma serpente veloz que corria e baixava e subia e que sacudia por todos os lados. Só me lembro de estar caída, de ver as aeromoças caídas. Vi tudo que caía. "Senhor de Nazaré, não me abandone". Só isso, eu disse”, relembra Graciela.
Mas o que aconteceu para o avião despencar de repente? Num túnel de vento na Universidade de São Paulo, em São Carlos, conseguimos visualizar o efeito da turbulência.
O formato das asas é o que sustenta o avião. O ar passa por cima mais rápido do que por baixo. Por causa disso, o ar de baixo empurra a asa para o alto. É a força de sustentação. Em algumas situações, como dentro de uma nuvem de chuva ou perto de uma montanha, existem muitas variações de velocidade e direção do ar. A sustentação também muda, e a aeronave balança. Isso é a turbulência. A sorte é que tanto as nuvens pesadas quanto as montanhas aparecem no radar do avião.
“Qual é a tática? Desvia ou passa por cima, desvia lateralmente, ou evita”, explicou Fernando Catalano, engenheiro aeronáutico da USP.
Mas existe um outro tipo de turbulência, que o radar não pega. É a chamada "turbulência de céu claro". Segundo o que o comandante disse aos passageiros, foi isso que aconteceu no voo que vinha de Madri.
A turbulência de céu claro acontece por causa de mudanças repentinas de pressão e temperatura no ar.
“Até a atmosfera se ajustar, equalizar essa temperatura novamente, ela vai fazer isso com movimentos de ar e isso é turbulência. Atualmente, essa tendência é aumentar. Isso é um dos efeitos colaterais do aquecimento global”, afirmou Catalano.
Agora que nós já conhecemos a teoria, vamos à prática. Na Inglaterra, o repórter Roberto Kovalick entrou num simulador de um grande jato comercial para enfrentar turbulência máxima.
O simulador é de um Boing 737, um modelo diferente do avião que passou pela turbulência. Mas segundo o instrutor, a sensação é exatamente igual.
O simulador consegue reproduzir nove níveis de turbulência. O nível nove é o pior que os aviões geralmente encontram. O instrutor e piloto Unash Daswani conta que já enfrentou uma turbulência de nível nove num voo real.
"Foi muito rápido, foram literalmente 30 segundos. As coisas começaram a voar pela cabine, estava no meio do jantar, as bandejas caíram no chão. Foi desconcertante, mas felizmente ninguém se machucou. Todos estavam em seus assentos", contou Daswani.
No simulador, é só apertar um botão e o aparelho começa a balançar.
"Parece uma estrada extremamente esburacada, ou que a gente está numa batedeira, num liquidificador”, explica o repórter Roberto Kovalick. “A turbulência que estamos enfrentando é igual à que atingiu o voo da TAM. É a chamada "turbulência de céu claro" porque não há nada - como nuvens, por exemplo - que indique que ela vai atingir o avião”.
"Você vê um belo e tranquilo horizonte e, de repente, a turbulência começa a balançar o avião. Não há nada no radar ou qualquer outra coisa. Você é pego de surpresa", disse Daswani.
"Nós já estamos chacoalhando neste simulador por uns 10 minutos, e a sensação é muito desagradável, principalmente aqui no estômago, que fica balançando da direita para esquerda, de cima para baixo. A sensação é terrível", relata o repórter.
Por mais assustadora que uma turbulência de céu claro pareça, nosso instrutor garante que é praticamente impossível que ela derrube um avião.
"A turbulência pode atrapalhar a direção, a velocidade e a altitude de um avião, porque ele fica balançando de cima para baixo dentro de bolsões de ar. Mas estas aeronaves são tão bem projetadas e construídas que os passageiros e os pilotos podem até se ferir, mas o avião não será afetado nem vai perder a sua capacidade de voar", garante Daswani.
No Brasil, o professor de engenharia aeronáutica explica a única maneira de o passageiro se proteger: apertar os cintos, sempre.
“A única garantia que você pode ter é que você não vai sofrer um sério trauma. Quanto mais você estiver seguro no seu assento, melhor”, apontou Fernando Catalano.
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DEFESA
CAÇAS REFORMADOS
A Embraer entregou, na terça-feira 3, o primeiro caça A-1 modernizado para a Força Aérea Brasileira, avião estratégico para ataques de longa distância. O programa prevê a reabilitação e a modernização de 43 caças até 2017, um investimento avaliado em, aproximadamente, 1,3 bilhão de dólares, segundo a Aronáutica. Outras 16 aeronaves estão na instalação da Embraer em Gavião Peixoto, interior de São Paulo. A reforma dará aos caças uma sobrevida de mais de 20 anos, além de incluir novos equipamentos, como um radar que dará mais precisão e poder de defesa à aeronave. A área de defesa e segurança da Embraer teve receitas superior a 1 bilhão de dólares em 2012, 18% do faturamento global da empresa.
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Aviação Civil
Fique ligado!
Gusttavo Lima foi um dos destaques da Operação Voe Seguro, ação de fiscalização de quatro órgãos federais em aeródromos do País, iniciada em janeiro. O piloto e o operador do jatinho do cantor receberam 90 multas da Anac. Foram tantas irregularidades que por dois dias a aeronave ficou proibida de decolar, em Sorocaba (SP). O sertanejo quer fazer carreira longa. Precisa cuidar de detalhes. A quarta fase da inspeção acabou na quinta-feira 5, na Amazônia: 144 aeronaves inspecionadas e 439 planos de voo fiscalizados, entre outras ações.
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Tecnologia
Finalmente
Daqui a pouco vai para a Base de Taiyuan, na China, o satélite CBERS-3. China e Brasil investiram cada um US$ 125 milhões para o lançamento, previsto para ocorrer entre novembro e dezembro. Os testes na engenhoca foram concluídos na segunda-feira 2, no Centro Espacial da China, em Sichuan. A previsão inicial era que o satélite iria para o espaço em 2012. Ele transmitirá dados sobre desmatamento, expansão urbana e agropecuária.
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E os brasileiros na Síria?
Os planos do Itamaraty para retirar os cidadãos em risco iminente
Com o agravamento da guerra na Síria, o Itamaraty informou que já foi elaborado um plano emergencial de retirada de cidadãos brasileiros do país por céu, terra e mar. Das 395 pessoas contadas pela embaixada brasileira em Damasco, porém, todas manifestaram intenção de permanecer na cidade. Segundo o ministro Luiz Eduardo Villarinho Pedroso, cônsul geral adjunto do Brasil em Beirute, no Líbano, elas tem dupla cidadania e estão enraizaras na Síria, com poucos laços com o Brasil. Muitas nem falam português. Um levantamento mostrou que a maioria pertence às classes média e média alta. Do total, 225 vivem em Tartus, cidade portuária próxima à fronteira com o Líbano, 140 na Capital e 30 espalhados pelo país. Desde julho do ano passado, a embaixada brasileira em Damasco funciona com apenas três trabalhadores locais e o restante da equipe foi deslocado para Beirute. O plano de evacuação, que levou cerca de seis meses para ser concluído, contou com a participação de voluntários da comunidade local, oficiais da Marinha do Brasil e membros da ONU, e depende da aprovação da Presidente Dilma Rousseff para ser posto em prática. Em 2006, quase três mil brasileiros deixaram o Líbano com a ajuda do governo brasileiro durante um conflito com Israel.
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Briga dos caças
Postura de Obama pode atrapalhar a Boeing
Cristiano Zaia
Faz mais de 15 anos que França, Estados Unidos e Suécia tentam convencer o Brasil a optar por Rafale, Boeing e Saab, respectivamente, para a polêmica compra de 36 aviões militares. Em 2009, durante visita do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy a Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota revelando que estava negociando a compra do Rafale, da fabricante Dassault, apesar de ser o mais caro – seu custo é de US$ 8,2 bilhões. Tal atitude despertou a ira dos outros dois países candidatos. Posteriormente, uma decepção de Lula com a falta de apoio de Sarkozy aos pleitos do Brasil em âmbito internacional teria tirado a França do páreo.
Desde então, a retomada discreta das relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos aumentou as chances de a Boeing ganhar a disputa, com o seu F-18 Super Hornet, cotado a US$ 5,2 bilhões. Em 2011, a fabricante firmou uma parceria com a Brasileira Embraer para construir um centro de pesquisa conjunto em São José dos Campos (SP). Mas, quando Barack Obama parecia personalizar a figura do país campeão nessa briga, veio à tona o episódio envolvendo a espionagem americana, por meio da Agência Nacional de Segurança (NSA). Esse atrito colocou os caças suecos, modelo Gripen, fabricado pela SAAB, na condição de favoritos, além de serem os mais baratos – US$ 4,3 bilhões.
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"O Brasil não ficaria isolado dos efeitos"
Louis Bazire
Posso assegurar ao público na Europa e ao redor do mundo que nós não saímos por aí bisbilhotando os e-mails das pessoas ou estudando suas ligações telefônicas", afirmou o presidente, salientando que estão sendo discutidas mudanças nos programas de espionagem. No dia seguinte, na reunião do G-20, Dilma e Obama se reuniram a portas fechadas. "Obama assumiu responsabilidade direta e pessoal pela investigação das denúncias de espionagem", afirmou a presidenta Dilma, na sexta-feira 6, antes de retornar ao Brasil. Sobre a viagem a Washington, prevista para o dia 23 de outubro, Dilma disse que "depende das condições políticas a serem criadas pelo presidente Obama". A presidenta, que irá abrir a Assembleia Geral da ONU no dia 24 deste mês, revelou também que irá propor uma nova governança contra a invasão de privacidade.
Ainda não se sabe se as arestas foram devidamente aparadas, de tal forma que não inviabilizem as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, empacadas desde a década passada. "A espionagem é um golpe às relações entre dois governos que já não se olhavam muito", diz o americano Thomas Trebat, diretor do Centro Global de Estudos da Universidade Columbia, no Rio de Janeiro. "Isso esfria o clima de negócios para as multinacionais americanas no Brasil." A fabricante americana de aviões Boeing, por exemplo, tem batalhado nos últimos anos para vender seus caças à Força Aérea Brasileira, num contrato bilionário. Agora, a eventual preferência sobre os suecos da Saab e os franceses da Dassault pode ser prejudicada pela crise diplomática (leia abaixo).
A espionagem atrapalhada de Obama, que também respingou no México, abre espaço para outros países "invadirem" o quintal americano. Neste ano, o presidente chinês Xi Jinping já se reuniu três vezes com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto. O Brasil, por outro lado, se aproxima da União Europeia com uma proposta de livre comércio. "Os Estados Unidos, para manterem o poder hegemônico, vão sempre usar todas as práticas que considerarem necessárias, mesmo que isso viole a soberania dos seus parceiros", diz a professora Cristina, da Unifesp, que lançou recentemente o livro "Os Estados Unidos e o Século XXI", da editora Elsevier. Ao Brasil, resta a obrigação de reclamar. "Deixar passar esse episódio em branco seria um erro", afirma Trebat. Erro que só não é maior que o do xerife vacilão.
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VULNERABILIDADE.GOV.BR
ALEXANDRE ARAGÃO E ALANA RIZZO
A possível espionagem feita por países estrangeiros está longe de ser a principal ameaça à segurança das informações confidenciais brasileiras. O maior risco vem de falhas do próprio governo, como ter sistemas desatualizados e funcionários sem treinamento. Entre o ano passado e este ano, o número de ataques a sites e servidores do governo (aqueles com endereço terminado em gov.br) aumentou quase 40%. É o que mostram dados obtidos por VEJA junto ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, por meio de Lei de Acesso à Informação. Outra questão preocupante é a origem doa ataques : mais de 70% partiram de servidores do exterior, o que na prática inviabiliza a punção aos responsáveis.
No primeiro semestre de 2013, o governo federal foi alvo de 427 ataques, um aumento de 38,5% em relação o mesmo período de 2012 . Sites como o da Presidência da República e o da Receita Federal chegaram a sair do ar após ações orquestradas por hackers, mas nem sempre as investidas percebidas pelo público são as mais sérias. "A situação é mais grave em redes de computadores que controlam a distribuição de energia elétrica e o tráfego aéreo, que são passíveis de sabotagem, causando acidentes ", explica engenheiro Routo Terada, coordenador do Laboratório de Segurança de Dados da USP. " As ferramentas de proteção dessas redes estão quase sempre desatualizadas".
A responsabilidade por essa desatualização é do próprio governo. Um estudo pelo tribunal de Contas da União mostrou que apenas um em cada dez órgãos da administração pública pesquisados faz análise de risco de seus sistemas, o que aumenta a vulnerabilidade. A implantação de um sistema nacional de defesa cibernética começou em 2012, com um orçamento de 44,7milhões de reais para investimentos, mas pouco mais da metade foi gasta. Esse sistema, quando concluído, será operado pelo Centro de Defesa Cibernética do Exército, que também terá a responsabilidade de garantir a segurança digital dos megaeventos internacionais. Até agora, apesar dos riscos, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude passaram incólumes a grande ataques cibernético. Mesmo assim, não é possível garantir que as redes nacionais terão os mesmos desempenho durante a Copa do Mundo e a Olimpíada do Rio de janeiro. Não é preciso ser um hacker para descobrir a senha para que isso não ocorra: investimento e preparação.
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Comércio e confiança, duplo déficit com EUA
Sergio Leo
Está pavoroso, para as contas externas, o comércio entre Brasil e Estados Unidos: o país importou dos americanos US$ 6,8 bilhões a mais do que exportou para os EUA, entre janeiro e agosto de 2013, na comparação com o mesmo período do ano passado. O rombo nas contas comerciais já é 21% superior ao déficit no comércio bilateral em todo o ano de 2012. Razão mais do que suficiente para que a Casa Branca ficasse de olho no Brasil. Mas não para justificar o escândalo descoberto também durante a semana, de espionagem dos EUA nas comunicações da presidente Dilma Rousseff.
Até então, mesmo desanimada com a falta de temas mais fortes para a agenda de sua visita de Estado a Washington, em outubro, Dilma estava disposta a não transformar a espionagem americana denunciada pelo ex-agente terceirizado Edward Snowden em empecilho à visita aos EUA. A bisbilhotagem em e-mails e as desculpas que se revelaram esfarrapadas por parte de autoridades americanas deveriam ser o tema de um discurso duro, em frente a Obama, no pronunciamento público após o encontro. E a agenda bilateral seguiria.
Azedaram-se os humores, não só no Palácio do Planalto, com a revelação, no Fantástico, de que os arapongas da NSA, o serviço de inteligência americano, vangloriavam-se de registrar os contatos de Dilma com a própria equipe, e se perguntavam se o Brasil seria inimigo ou problema. "O mais grave é a falta de sensatez do governo americano, que não teve coragem de ligar e pedir desculpas", comentava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a seus interlocutores em São Paulo, na semana passada.
Difícil imaginar um gesto dos EUA capaz de reparar o dano
Antes do fim de semana, o presidente Barack Obama, encontrou-se com a presidente Dilma Rousseff, mas só na quarta-feira haverá uma resposta do governo americano à reclamação da presidente brasileira. O clima, no governo, é de adiamento, por tempo indefinido, da visita de Estado. Já não se esperavam acordos muito empolgantes, mas a visita, em si, teria uma função simbólica, de mostrar prestígio para a chefe de governo. A denúncia de que Dilma era vigiada sem escrúpulos pelo aparato de segurança americano anula o efeito positivo, a menos que surja algum gesto da Casa Branca e do Departamento de Estado dos EUA - inimaginável, até agora - capaz de reparar o estrago político.
A nova denúncia no Fantástico, ontem, de que a Petrobras também foi vigiada, confirma suspeitas no Planalto de espionagem comercial, e torna mais difícil a resposta de Obama, que não sabe a extensão dos vazamentos em poder de Snowden.
"Grave, gravíssimo", para Lula, é todo esse episódio. Entenda-se aqui a manifestação do ex-presidente e conselheiro de Dilma como sinal político do que o principal partido governista espera, a partir do escândalo. Ao lado da palavra "grave", outra, "soberania", tem sido muito repetida por esses dias. Lula tem dito que continua acreditando ser importante a "parceria estratégica" com os EUA, que classifica de "parceiro comercial extraordinário". Mas acredita que não bastarão declarações diplomáticas para minimizar a intrusão nas comunicações do governo, e que o Brasil está "desafiado" a construir um sistema antiespionagem, se necessário com ajuda dos parceiros dos Brics (não é inocente a menção aos também experts em espionagem Rússia, Índia e China).
O ministro da Defesa, Celso Amorim, ao reagir às primeiras denúncias, no primeiro semestre, já havia aproveitado para lembrar a necessidade de autonomia e desenvolvimento local de tecnologias na área militar e de informática. Assessores de Dilma, que, há alguns meses, a partir de comentários de Dilma, começavam a acreditar na possibilidade de um acordo para renovar a frota da Força Aérea Brasileira (FAB) com jatos da Boeing americana, agora estão céticos, por ter aumentado o clima de desconfiança com Obama.
Mas o incômodo com a fragilidade do país em relação à bisbilhotagem virtual, auxiliada por empresas dos EUA, ainda que Forçadas pela legislação americana, ameaça transbordar para outros debates no governo. Interlocutores de Lula na semana passada não deixaram de notar comentários do líder espiritual do PT em relação a uma das empresas associada - por determinação governamental - aos esforços de espionagem: "O Google leva US$ 4 bilhões em publicidade brasileira e paga imposto de renda nos Estados Unidos", acredita Lula.
Há duas semanas, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, anunciou que empresas de Internet devem ter nova regulamentação para pagamento de impostos em breve, para deixar de fazer no exterior parte da cobrança por serviços prestados no Brasil. O Google, na ocasião, divulgou nota afirmando pagar todos os impostos devidos no Brasil, que superaram R$ 540 milhões em 2012.
Não se espere animosidade contra empresas dos EUA nos leilões de infraestrutura, por exemplo. E seguirá funcionando a miríade de grupos de trabalho bilateral sobre temas técnicos, educativos e culturais. Mas a revelação de que os EUA desrespeitam a privacidade até da presidente da República deu argumentos aos que defendem desenvolvimento de tecnologias locais em áreas sensíveis.
Com ou sem aproximação entre os chefes de Estados dos dois países, o fato é que o Brasil não conseguiu aproveitar o aumento na cotação do dólar e a recuperação da economia americana para melhorar suas contas de comércio com aquele país. O tombo colossal nas exportações de petróleo, 55%, ou US$ 2,2 bilhões, explica grande parte do aumento no déficit comercial bilateral. Mas mesmo retirando-se da conta o impacto da queda na exportação de óleos brutos de petróleo, o déficit comercial com os EUA está quase 70% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
O forte aumento nas vendas de suco de laranja (331%) e de alguns derivados de petróleo (acima de 100% e até 600% no caso do tolueno) não compensou a queda na exportação de semimanufaturados de ferro e aço, peças e partes de automóveis, moto-compressores, geradores elétricos e outros produtos da pauta tradicional com os EUA.
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Exército e BM se uniram em Porto Alegre
Agentes dos serviços de inteligência do Exército e da Brigada Militar se uniram para prevenir distúrbios no desfile de 7 de Setembro em Porto Alegre. E isso contribuiu para que não se registrassem maiores conflitos ou depredações, acredita o secretário estadual da Segurança Pública, Airton Michels:
– Até para preparação da Copa do Mundo, nosso pessoal tem mantido contato estreito com as Forças Armadas. Inclusive eu.
A combinação levou mais de 1,3 mil PMs às ruas de Porto Alegre, para patrulhamento. Misturados aos 10 mil populares que prestigiaram o desfile, estavam vários integrantes da Agência Regional de Inteligência (PM2), além de militares da S2 (serviço reservado do Exército).
Apesar da vigilância, um grupo pequeno de mascarados voltou a quebrar as fachadas de bancos no Centro. Os vândalos entraram em choque com a Brigada Militar (BM) quando voltavam para a área central de Porto Alegre, depois de terminado o desfile. Ao revistar um grupo de skinheads, PMs encontraram facas, soqueiras, canivetes e toucas ninjas.
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7 de Setembro teve 225 prisões no país
Atos de repúdio e ondas de vandalismo voltaram no feriado em 12 capitais, mas Porto Alegre foi das que tiveram menos incidentes com violência
HUMBERTO TREZZI
Se em junho o Brasil, gigante deitado em berço esplêndido, acordou com as manifestações e no auge do inverno voltou a hibernar, no sábado de clima quente ele mostrou que continua vivo. Como já era previsto pelos órgãos de segurança pública, o desfile militar de 7 de Setembro foi oportunidade para a realização de grandes protestos país afora.
Pacíficos, em alguns casos. Repletos de vandalismo, em pelo menos 12 capitais. Manifestantes com máscaras pretas, os chamados Black Blocs, foram presos em Brasília, Rio, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife e Salvador. Houve confronto, e mais de 30 pessoas ficaram feridas, entre manifestantes e policiais. Pelo menos 225 pessoas foram presas no maior protesto desde junho – três dessas acabaram detidas em Porto Alegre. Ontem, 22 seguiam detidos em 12 capitais. Foi o mais violento Dia da Independência em três décadas.
Em junho, os protestos eram contra frustrações e abarcavam dezenas de motivos – da volta da inflação aos salários do Judiciário, do monopólio da investigação pelas polícias aos baixos vencimentos dos professores, passando pelo combate à corrupção.
Já neste 7 de Setembro ocorreu a volta das tradicionais bandeiras políticas, sindicais e de esquerda. Grande parte dos manifestantes concentrou sua ira contra símbolos do capitalismo (como patrocinadores da Copa do Mundo). Outros preferiram desfraldar bandeiras de décadas atrás, como a punição dos torturadores da ditadura militar e a abertura de arquivos judiciais do regime autoritário. Não por acaso, escolheram o dia em que acontecem os maiores desfiles militares no país para se manifestar.
Manifestantes invadiram uma barraca do Exército
Em Porto Alegre, um grupo de mascarados vaiou tropas do Exército que desfilavam, gritando:
– Você, patriota, não passa de um idiota!
Um grupo de Black Blocs invadiu uma barraca do Exército no Parque Farroupilha, logo após os desfiles. Os mascarados picharam a lona com slogans e, após negociação com os militares, deixaram o local. A Polícia do Exército também impediu que mascarados interrompessem o desfile.
Houve quem tentasse protestos mais genéricos, como o estudante de Engenharia Matheus Caetano, 18 anos, que na capital gaúcha abriu um cartaz pedindo "fim da corrupção". Foi vaiado por outros manifestantes, que tentaram tirar seu cartaz, dizendo que essas eram bandeiras "de direita".
O advento de protestos no 7 de Setembro não chega a ser novidade. Foi assim em 1983, durante a ditadura militar, quando três dezenas de pessoas foram presas. Foi assim em 2001, quando o Grito dos Excluídos terminou em pancadaria em Porto Alegre e Florianópolis. A diferença, neste fim de semana, foi a intensidade. A prisão de centenas de pessoas não era registrada há 30 anos, quando saques ocorreram no Rio durante a ditadura.
A volta dos protestos em grande escala não espanta o sociólogo Marcelo Kunrath Silva, que integra um grupo de pesquisa sobre associativismo, contestação e engajamento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele admite que Porto Alegre perdeu o protagonismo dos protestos, mas eles se mantêm, de forma menor e mais organizada. Kunrath acha que essa é a tendência: menos massas nas ruas, protestos conduzidos por militantes. E o prognóstico para o fim deste ano e 2014 é de mais mobilizações.
– Teremos protestos nas datas nacionais e, depois, muita mobilização, já que é ano de Copa do Mundo e eleições. Será algo cíclico – analisa.
NAS CAPITAIS
As manifestações em outras grandes cidades do Brasil
- Recife – Onde também existia proibição de máscaras, PMs e Black Blocs entraram em conflito quando os policiais exigiram que os manifestantes mostrassem o rosto. Quatro jovens foram presos.
- Vitória – Cerca de 150 manifestantes que carregavam cartazes e bandeiras com dizeres pedindo igualdade de direitos, melhorias nos serviços públicos e fim da corrupção entraram em confronto com a PM, após bloquearem as principais avenidas.
- Belo Horizonte – Os Black Blocs chutaram um relógio que marca a contagem regressiva para a Copa do Mundo, lançaram balões de tinta contra a PM e alguns, ao serem advertidos, viraram-se de costas e abaixaram as calças. A Polícia Militar mineira prendeu 27 manifestantes.
- Salvador – Dois ônibus foram apedrejados e lojas foram depredadas por manifestantes.
- Curitiba e Fortaleza – Nesses locais a PM agiu de forma diferente, se antecipando aos protestos e prendendo os Black Blocs. Foram 26 presos na capital paranaense e 30 detidos na cearense, antes dos desfiles, pelo fato de usarem máscaras e portarem objetos considerados perigosos.
- Maceió – A PM optou por encerrar o desfile quando os mascarados apareceram. Isso foi feito quando faltavam mil pessoas para desfilar.
- Natal – A PM prendeu apenas um manifestante, por destruir uma placa de trânsito.
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