|

Malvinas: Figueiredo temia 'um Vietnã na América Latina'; Figueiredo ameaçou apoiar Argentina militarmente se britânicos a invadissem

Figueiredo disse a Reagan que os argentinos tinham agido de forma errada ao ocupar as Ilhas Malvinas .

A presidente Dilma Rousseff vai se encontrar pela primeira vez, na próxima semana, em solo americano com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para discutir uma agenda bilateral entre os dois países.

O encontro ocorrerá há exatos 30 anos da conversa entre os presidentes das duas nações que teve como pauta central o conflito armado no Cone Sul. Em 12 de maio de 1982, o general João Baptista Figueiredo foi recebido na Casa Branca pelo presidente Ronald Reagan e manifestou toda sua preocupação com os efeitos da Guerra das Malvinas.

Para Figueiredo, existia o risco de que o acirramento do conflito fizesse com que a Argentina pudesse virar o "Vietnã da América Latina". "Na realidade, a única a ganhar seria a União Soviética", declarou o general brasileiro a Reagan.

Papéis secretos do governo militar brasileiro mostram toda a franqueza que caracterizava o estilo do presidente Figueiredo. Para Reagan, ele reconheceu que os argentinos tinham agido de forma errada ao ocupar as Ilhas Malvinas, mas não queria acirrar ainda mais os ânimos tornando pública essa posição.

Segundo arquivo do acervo do Conselho de Segurança Nacional, classificado como ultrassecreto, Figueiredo afirmou a Reagan: "Não posso dizer aos argentinos que eles foram violentos". Ele reconheceu que "os argentinos podem ser difíceis", acrescentando, em seguida, que "os argentinos são particularmente difíceis quando confrontados".

Segundo o documento, Figueiredo disse a Reagan que "os argentinos sabem que não aprovamos o ataque às Malvinas". "Nada nos pediram, mas fizemos com que vissem o perigo da situação", disse. "Dissemos aos argentinos, em várias ocasiões, que não usassem a força, mas não nos consultaram quando fizeram. Dissemos a eles que não fizessem isso, pois no recurso à força não teriam o apoio brasileiro", acrescentou.

Só que o general brasileiro disse a Reagan que considerava desproporcional o tamanho da força militar utilizada como reação pelos ingleses e estava levando a opinião pública a simpatizar com a causa argentina. Nessa ocasião, o navio argentino General Belgrano já tinha sido afundado pelos ingleses no conflito.

"Começa a surgir daí uma aversão aos Estados Unidos e aos ingleses por representarem uma força muito maior contra uma Argentina inferiorizada", disse o general brasileiro.

Reagan concordou e afirmou que "várias vezes pedira aos ingleses que não exagerassem no uso da força". "Dissemos isso a eles e vamos continuar a lhes dizer", garantiu.

Figueiredo ameaçou apoiar Argentina militarmente se britânicos a invadissem

Segredos das Malvinas. Documento ultrassecreto obtido pelo 'Estado' revela que mensagem foi passada diretamente ao presidente Reagan e ao seu secretário de Estado, Alexander Haig, durante visita do general brasileiro a Washington, em maio de 1982

MARCELO DE MORAES

Arquivos secretos mostram que o governo brasileiro alertou os EUA que não aceitaria que tropas britânicas atacassem a região continental da Argentina durante a Guerra das Malvinas. O documento inédito, ao qual o Estado teve acesso, narra dois encontros em maio de 1982 entre os então presidentes do Brasil, general João Baptista Figueiredo, e dos EUA, Ronald Reagan, além do secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig.

O documento pertence ao acervo do Conselho de Segurança Nacional, guardado no Arquivo Nacional, em Brasília, e tem a rara classificação de "ultrassecreto".

Na primeira conversa, no dia 11 de maio, na Blair House - a casa de hóspede oficial do presidente dos EUA -, Figueiredo encontra-se apenas com Haig, numa preparação para a reunião presidencial, dois dias depois, com Reagan.

Tanto ele quanto Haig lamentam que a disputa pelas Malvinas - que os britânicos chamam de Falklands - tenha se tornado um conflito militar e tentam operar como moderadores. Mas Figueiredo avisa que as consequências poderiam ser muito piores se os britânicos terminassem por combater em solo continental, em vez de apenas no Arquipélago das Malvinas.

O general brasileiro dá a entender que essa situação não seria aceita na América do Sul e o Brasil poderia até mesmo se posicionar militarmente ao lado dos vizinhos.

Segundo o documento, ao término do encontro, Haig perguntou a Figueiredo se "haveria algo que pudesse dizer ao presidente Ronald Reagan" como preparação para o encontro do dia seguinte.

Segundo o relato do arquivo, "o presidente Figueiredo, em resposta, disse que só tinha uma preocupação, qual seja a do fato consumado de que a Inglaterra promova ação no continente, o que teria repercussões desastrosas na América do Sul".

O documento deixa claro que "o presidente Figueiredo assinalou a necessidade de que essa hipótese seja evitada a todo custo". O receio brasileiro era que um ataque desse tipo, representando invasão de território sul-americano por um país europeu, provocasse forte reação popular contrária.

"Solidariedade americana". Segundo o relato do encontro, feito pela inteligência do Exército brasileiro, o presidente Figueiredo afirmou que, para o Brasil, "a situação é extremamente penosa". "Pois não se pode avaliar até que ponto se pode conter a opinião pública. Se ocorrer o pior, a solidariedade americana certamente eclodirá", cita o texto. "Que a Inglaterra não chegue a esse ponto, pois seria muito delicado", diz o documento.

Haig concorda com o presidente brasileiro, mas é extremamente direto ao afirmar que "não se pode controlar o que a Inglaterra vai fazer".

E vai mais além: afirma que não sabe o que Londres fará, "mas apenas que está pronta a fazer alguma coisa".

O secretário de Estado lembrou que, quando o governo peruano participou de uma intermediação em busca de um acordo diplomático, quase houve uma solução pacífica para a disputa pelas Malvinas.

Mas, sem acordo, a situação tinha se deteriorado desde então. Segundo a narrativa dos militares brasileiros, Haig teria dito que, naquele momento, "os Estados Unidos não sabem o que os ingleses farão, porque nada dizem". E avisou: "Estão nervosos".

Olho de Moscou. No mesmo encontro, Haig e Figueiredo falam abertamente sobre o risco de a União Soviética aproveitar-se do conflito para aumentar sua margem de influência em relação aos argentinos. No domingo, documentos secretos revelados pelo Estado mostraram que o governo brasileiro temia que os soviéticos ajudassem a Argentina até mesmo com seu programa nuclear, fornecendo urânio enriquecido.

Haig diz a Figueiredo que "a União Soviética já estava pescando em águas turvas", porque o embaixador soviético em Washington comentara que seu país não pretendia ajudar a junta militar que comandava a Argentina, "mas o povo argentino".

Conforme o relato do encontro, Haig "confirmou que a URSS estava jogando a longo prazo (sic)". Figueiredo concordou e afirmou que "quem estava lucrando era exatamente a União Soviética". E defendeu que "não se pode perder a Argentina para a causa do Ocidente e este objetivo somente seria realizável desde que o regime argentino não se desestabilizasse".

Na conversa, o presidente brasileiro afirma que seu medo era que o governo argentino caísse "nas mãos dos peronistas, como aliados dos comunistas, que dele posteriormente tomariam conta". Para Figueiredo, essa combinação poderia provocar o aparecimento no sul do continente de "uma Cuba muito maior".

Fonte: / NOTIMP


Leia também:










Receba as Últimas Notícias por e-mail, RSS,
Twitter ou Facebook


Entre aqui o seu endereço de e-mail:

___

Assine o RSS feed

Siga-nos no e

Dúvidas? Clique aqui




◄ Compartilhe esta notícia!

Bookmark and Share






Publicidade






Recently Added

Recently Commented