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Do terror à política: Farc liberta seus últimos 10 militares sequestrados

Em gesto unilateral simbólico, a guerrilha das Farc liberta seus últimos 10 militares sequestrados. Operação humanitária para resgatar reféns teve participação do governo brasileiro. Especialistas creem que o grupo ensaia uma saída negociada .

RODRIGO CRAVEIRO .

O Brasil ajudou ontem a pôr fim ao drama dos últimos 10 militares que eram mantidos reféns pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) havia mais de uma década.

Ao soltar os quatro soldados do Exército e os seis policiais, a guerrilha esquerdista acenou com um gesto unilateral carregado de simbolismo. A concessão ocorre 36 dias após o grupo armado ter prometido renunciar à prática de sequestros. Ex-reféns e especialistas em conflito colombiano acreditam que a decisão das Farc abre espaço para o diálogo com Bogotá e para a reivindicação de um papel político nas esferas do poder.

"A guerrilha está obedecendo às condições impostas pelo governo para ambos sentarem-se e falarem de paz", afirmou ao Correio o ex-deputado Sigifredo López, sequestrado em 2002 e solto sete anos depois. "É uma ação humanitária, um gesto bonito do governo brasileiro", comentou.

Após horas de suspense, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) confirmou a libertação dos 10 militares, por meio de um comunicado. "Expressamos nossa grande alegria pelo êxito da operação, que permitiu, em um só dia, a reunião de 10 famílias que esperavam por isso há tantos anos", afirmou Jordi Raich, chefe da delegação do CICV na Colômbia. "Hoje, termina a agonia para essas famílias, e isso nos enche de satisfação", emendou. Caracterizado com emblemas do CICV, o helicóptero Cougar EC-725 — do Exército brasileiro — pousou no aeroporto de Villavicencio, capital do departamento (Estado) de Meta, às 19h42 de ontem (hora de Brasília).

Além dos 10 ex-reféns, a aeronave transportou oito soldados brasileiros, representantes da Cruz Vermelha e a senadora colombiana Piedad Córdoba. Dois dos libertados carregavam dois periquitos e uma capivara. Outro pulava de forma efusiva, enquanto beijava a bandeira da Colômbia. Segundo a emissora britânica BBC, os guerrilheiros entregaram os reféns à missão humanitária em algum ponto da selva, no sudeste do país, entre os departamentos de Meta e de Guaviare.

Cerca de três horas antes, Miriam Arcia, prima do sargento do Exército Luis Arturo Arcia, aguardava com ansiedade o pouso do helicóptero. "A colaboração e o esforço do Brasil foram muito importantes", disse ela ao Correio, por telefone. "Passaram-se 14 anos e muitas coisas mudaram. Foram 14 anos espera. Agora, queremos que não haja mais sequestrados", acrescentou.

O mesmo pedido foi feito por Olga Luis Rojas, separada por 12 anos do irmão, o suboficial de polícia Wilson Rojas Medina. "Nós seguiremos lutando até que não haja nem sequer um refém na selva. A guerrilha sequestrou também a sociedade e todas as famílias dos reféns.

É algo terrível e duríssimo", desabafou à reportagem, por telefone. A irmã, tios e primos de Luis Alfonso Beltrán Franco contavam os minutos para abraçar o primeiro sargento. "Vamos fazer um grande almoço para ele. Estamos muito eufóricos com a possibilidade de paz", revelou o primo Nixon Pérez. Ele admitiu que a família temia a morte de Franco, em um bombardeio das FORÇAS de segurança. "Somos muito gratos aos militares brasileiros e ao CICV."

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Cientista político da Universidad del Rosario (em Bogotá), Vicente Torrijos vê na libertação dos reféns uma tentativa das Farc de também soltarem suas amarras. "A guerrilha precisava destinar muita logística, inteligência e recursos humanos para evitar os resgates militares. Agora, quer se exibir perante o mundo como uma organização política responsável e capaz de negociar com o governo", explicou ao Correio, por e-mail. No entanto, ele duvida que o grupo desista dos sequestros motivados por extorsão.

Torrijos crê que as Farc já cumprem um papel ativo na política, moldando as agendas legislativas e sociais. "O próximo passo será negociar o futuro do Estado e dialogar para a criação de uma ressonante Assembleia Constituinte. Adornada pela semântica da paz e da reconciliação, ela deve desembocar numa coalizão, na qual uma das figuras-chaves da guerrilha seja candidata a vice-presidente", afirmou.

Para Eduardo Bechara Gómez, especialista em negociação e gerenciamento de conflitos da Universidad Externado de Colombia, a libertação dos militares volta a colocar no cerne da discussão nacional o balanço da luta entre guerrilha e Estado, além de questões em torno de uma solução negociada. "O cenário de confrontação armada mostra-se favorável para o Estado, que impediu as Farc de ingressarem em áreas próximas aos principais centros políticos e econômicos do país, além de ter capturado e matado suas lideranças", comentou. Sem saída, a guerrilha pode ser obrigada a impôr o diálogo sobre as armas.

Presente para o piloto

Depois de 14 anos em poder das Farc, o sargento Luis Alfredo Moreno entregou ontem uma lembrança ao piloto brasileiro e à tripulação do helicóptero: uma folha com a inscrição "Não há nada mais maravilhoso. A realidade deste sonho tão desejado: A liberdade! Obrigado pelo apoio".

Os libertados


Quem são os 10 militares soltos ontem pela guerrilha colombiana:

Exército
» Sargento Luis Alfredo Moreno Chagueza
» Sargento Robinson Salcedo Guarín
Capturados em 3 de março de 1998, durante a tomada de Miraflores, em Guaviare

» Primeiro sargento Luis Arturo Arcia
» Primeiro sargento Luis Alfonso Beltrán Franco
Sequestrados em 3 de março de 1998 em El Billar, no departamento (estado) de Caquetá.

Polícia
» Primeiro sargento José Libardo Forero
» Suboficial Carlos José Duarte
» Suboficial Wilson Rojas Medina
» Suboficial Jorge Humberto Romero
» Suboficial Jorge Trujillo Solarte
Os quatro foram detidos durante a tomada de Puerto Rico, no departamento de Meta, em 10 de julho de 1999.

» Sargento-mor César Augusto Lasso Monsalve
Encontrava-se em poder das Farc desde 1º de novembro de 1998, após a tomada do quartel da polícia na cidade de Mitú.


Fonte: / NOTIMP


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