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Galeão se renova para Copa, mas obras podem demorar mais que o previsto



Chico Santos .

Quarta-feira, 27 de julho, 6 horas da manhã. Poucos carros na entrada do estacionamento do terminal 1 do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, que apresenta certo ar de abandono. Só uma ou duas cabines de acesso estão em funcionamento. Dentro, a surpresa: as 1.266 vagas estão ocupadas e, além disso, muitos carros parados estão parados em cima das calçadas. A dificuldade é grande para conseguir uma vaga, embora dentro do terminal não haja sinais de grande movimentação de passageiros. O preço da diária - R$ 29, nas primeiras 24 horas - estimula o uso como garagem pelos viajantes.O estacionamento é somente um dos muitos problemas que tornaram lugar comum, no Rio de Janeiro, falar mal do Galeão, aeroporto inaugurado em 1977 (o terminal 1), durante o regime militar, com o objetivo de tornar-se o "hub" (concentrador) de voos internacionais para o Brasil, condição que manteve até a inauguração do aeroporto de Guarulhos (SP), em 1985.

Em 2010, o Galeão teve o pior índice de eficiência entre os principais aeroportos do país (categoria 1), com piora de 6% em relação a 2009, segundo relatório da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O indicador é baseado em uma fórmula internacional que leva em conta o total de embarque e desembarque, volume de cargas, receitas, custos, número de funcionários e outros dados.

Agora, ante o ceticismo de especialistas e do governo do Estado, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) promete entregar em 2014 um aeroporto renovado, com capacidade anual de movimentação de passageiros ampliada de 17 milhões para 44 milhões e com modernos edifícios garagens, totalizando 6,5 mil vagas.

"Posso garantir que o Galeão estará pronto para receber o público (da Copa do Mundo)", diz o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. Segundo ele, a Infraero não tem programação específica de obras visando a Olimpíada de 2016. "Com essas reformas (que estão em andamento), nosso foco é investir no Galeão para que venha a ser um grande "hub" nacional."

A transformação do aeroporto carioca em um grande "hub" nacional é um dos sonhos do governo do Estado, que, contudo, duvida da sua concretização sob os auspícios da Infraero e torce para que a prometida inclusão do terminal no programa de concessões do setor, deixado pelo governo para uma segunda etapa da programação, não caia no esquecimento.

O subsecretário de Transportes do Estado, Delmo Pinho, 16 anos de Infraero, considerado um dos maiores especialistas brasileiros em assuntos aeroportuários, duvida, por exemplo, da capacidade prevista - 44 milhões de passageiros - e também não acredita que os novos estacionamentos ficarão prontos para a Copa de 2014.

Segundo Pinho, a capacidade operacional do aeroporto deverá estar em 20 milhões de passageiros quando as obras em andamento estiverem concluídas. Em relação aos estacionamentos, que terão dois edifícios-garagem, de cinco andares cada, o subsecretário diz que não estão sequer licitados, o que, na avaliação dele, praticamente inviabiliza a execução das obras até 2014.

A Infraero informa que "ainda este ano" será lançada a licitação para a escolha da empresa que fará o estudo de viabilidade econômica para a construção do novo estacionamento. A partir desse estudo, uma nova licitação será lançada para escolher a empresa que fará as obras e que será também responsável pela "exploração comercial dos estacionamentos dos dois terminais do aeroporto".

Segundo o superintendente do Galeão, Abibe Ferreira Júnior, no cargo há cinco meses, será construído um prédio novo de cinco andares para ser o estacionamento do terminal 1. No terminal 2, que já tem um prédio-garagem de três andares, serão construídos dois andares adicionais. A Infraero estima que quando estiverem prontos os dois edifícios-garagem, a capacidade o número de vagas no terminal 1 passará de 1.266 para 1.896, e no terminal 2, de 1.476 para 2.486.

Esses números, somados às 1.568 vagas já existentes em um estacionamento alternativo na área entre os dois terminais - o uso da área exige esquema especial de transporte das pessoas até os terminais -, e a outras 600 vagas, que deverão ser criadas, elevarão a capacidade total de estacionamento do Galeão para 6.550 vagas. "Acredito que fica pronto para a Copa, porque a iniciativa privada vai fazer e explorar", disse Ferreira, destacando o interesse que o vencedor da licitação terá em antecipar o retorno do investimento.

Com a construção do novo edifício-garagem, deverá ser desativado o atual estacionamento do terminal 1, que fica no andar inferior do terminal de embarque e desembarque, uma configuração hoje condenada pelas normas internacionais de segurança. Ferreira disse que, embora não tenha até hoje sido comunicado formalmente pelos órgãos de segurança, a tendência é que a desativação venha a ocorrer, ainda não havendo uma nova destinação definida para a área.

O estacionamento alternativo, que é desconhecido de grande parte dos usuários, "foi o que aliviou (a pressão)" nas férias de julho, avalia o superintendente do Galeão. Ele admite que houve falha na comunicação do aeroporto com o público. "Vamos cuidar para que não aconteça o mesmo nas férias de verão."

Infraero quer terminar tudo em 2014

As obras de conclusão do terminal 2 e de modernização do terminal 1 do Galeão estão orçadas em R$ 657,5 milhões, sendo R$ 356,4 milhões para o terminal 2, inaugurado parcialmente em 1999. Desse valor estão excluídas as obras dos novos edifícios-garagem, a serem concedidos ao setor privado. As obras foram iniciadas em 2008, começando pela substituição das juntas metálicas das placas de concreto de uma das duas pistas.

A Infraero promete entregar tudo em 2014, embora o principal da obra do terminal 1, conhecido entre os funcionários do aeroporto como "obrão", ainda não tenha começado e nem sido licitado. O início da obras está previsto para o primeiro trimestre de 2012.

A reportagem visitou as instalações e obras do Galeão acompanhado do superintendente Abibe Ferreira Júnior e assessores. No terminal 2, cuja área interna só tem 50% em uso desde a inauguração, as obras estão a cargo da construtora Paulo Otávio e estão em fase de execução do acabamento para a colocação dos equipamentos. Segundo Ferreira, quando estiver pronto o terminal 2 dobrará o número de pontos de "check-in" de passageiros, de 64 para 128.

O número de esteiras de movimentação de bagagem no terminal passará de seis para 12. No terminal 1, das nove esteiras de bagagem, quatro são novas e as outras cinco estão sendo substituídas. Ferreira disse que está prevista a instalação de um sistema automático de esteiras para transferir do terminal 2 para o terminal 1 as bagagens de conexões entre voos domésticos e internacionais. "Queremos para 2014, mas teremos, com certeza, para 2016", afirmou.

Não haverá acréscimo no número de pontes de embarque - são 38 no total dos dois terminais -, mas o superintendente disse que haverá adaptações, por exemplo, para receber aviões do porte do A380 (Airbus), o maior do mundo atualmente em operação. Ferreira disse que está negociando com a Emirates Airlines, que deverá iniciar operações para o Rio nos próximos meses, para que ela utilize o gigante anglo-francês no Galeão.

As obras em andamento no terminal 2 já incluem a instalação de todos os novos equipamentos de combate a incêndios, mas os técnicos informaram que ainda falta licitar a parte elétrica e a de ar-condicionado. Um especialista que preferiu não se identificar disse que as instalações elétricas e hidráulicas e de ar-condicionado estão entre os maiores problemas do terminal 1 do Galeão por necessitarem de substituição, e de readequação, em alguns casos, urgente.

Ferreira disse que todos os problemas existentes nessas áreas estão sendo ou serão resolvidos. O sistema de ar-condicionado, uma das mazelas mais reclamadas pelos usuários do aeroporto, funcionava bem no dia da visita da reportagem. Segundo Ferreira, parte das máquinas de refrigeração está sendo adquirida e outra parte está sendo reformada. Ele disse ainda que tanto os elevadores que atendem o público como os de serviço já foram trocados ou reformados.

De acordo com a Ferreira, após a conclusão das obras, as operações internacionais ficarão totalmente concentradas no terminal 2, ocupando cerca de 30% da sua área. O restante desse terminal e mais todo o terminal 1 serão utilizados para atender os voos domésticos.

No terminal 1, Ferreira define as mudanças feitas até agora como "pequenas intervenções", a maioria delas concluídas entre 2009 e 2010, incluindo reforma do piso, da fachada do terminal, do teto, dos 44 banheiros e a substituição de 75 portas automáticas. As obras executadas somam R$ 45,53 milhões, segundo dados fornecidos pela Infraero. Correspondem à conclusão total de 12 e parcial de um, de 15 lotes planejados. Desse total de lotes, faltam R$ 21,53 milhões em obras a executar, a maior parte em substituição de elevadores e de escadas rolantes. (CS)

Movimento de passageiros deve crescer 22%

A direção do Aeroporto do Galeão espera que este ano passem por seus portões e pontes de embarque e desembarque cerca de 15 milhões de passageiros (foram 6,9 milhões no primeiro semestre, sendo 1,8 milhões em voos internacionais), com crescimento de 22% sobre os 12,3 milhões de usuários de 2010 e de 200% sobre os 5,06 milhões do ano 2000. O número previsto para este ano corresponde a 86,7% da capacidade instalada atual, que é de 17,2 milhões de passageiros. Para 2014 a previsão é de que o movimento fique entre 17,2 milhões e 20,2 milhões de passageiros.

A atual direção do aeroporto vem comemorando a atração de muitas empresas de aviação internacionais, muitas delas que já haviam voado para o Rio no passado. Em junho deste ano, a Alitalia retornou e estão previstos para outubro e novembro os retornos da Lufthansa e da KLM. Também em outubro a British Airways aumentará sua frequência de voos semanais para Londres de três para seis. Para janeiro de 2012 está prevista a chegada da Emirates e a direção do aeroporto está negociando a vinda da Singapore Airlines.

O crescimento da demanda e o retorno de empresas internacionais que utilizaram o Galeão no passado é comemorado pela Infraero. "Estamos empenhados em mudar a imagem ruim. Há muito a fazer, mas as obras não param", diz o superintendente Abibe Ferreira Júnior, que atribui a sobrevivência da "pecha" a um "espancamento muito grande" no passado.

Para Delmo Pinho, subsecretário de Transportes do Estado do Rio, o Galeão é o único aeroporto em condições de crescer sem maiores restrições, absorvendo a demanda que os aeroportos paulistas já não conseguem dar conta e tornando-se novamente um "hub" nacional. Segundo seus cálculos, 40% dos voos que passam por Guarulhos, Congonhas e Viracopos não são destinados a São Paulo, provocando sobrecarga.

"Esse tesouro, só o Rio de Janeiro tem: o aeroporto certo, no local certo e no tamanho certo", afirma Pinho. Ele avalia que o Galeão segura a demanda da região Sudeste até 2018, mas reclama da falta de agilidade para implementar as mudanças necessárias. Além das dúvidas quanto à realização das reformas mais básicas, como os novos estacionamentos, o subsecretário de Transportes do Rio duvida da execução em tempo hábil de outras obras que ainda não entraram para valer no cronograma da Infraero, como a construção de dois terminais sem pontos de conexão para aeronaves ("concourses") com capacidade total para 5 milhões de passageiros por ano.

Esses "concourses" ficariam à margem do pátio de estacionamento de aviões, do outro lado dos dois terminais de embarque e desembarque e serviriam para desafogá-los. O superintendente Ferreira confirmou que os "concourses" estão no planejamento da Infraero, mas não deu prazo para execução das obras. Para Pinho, a grande dificuldade para construir os "concourses" será definir como os passageiros vão circular entre eles e os terminais de embarque.

Para Pinho, a Infraero perdeu a capacidade de planejamento desde a extinção do Instituto de Aviação Civil (IAC), órgão de planejamento estratégico que era vinculado ao Departamento de Aviação Civil (DAC), da Aeronáutica. O governo do Rio aposta suas fichas na concessão do aeroporto do Galeão, assim como será feito com Guarulhos, Viracopos e Brasília. Para Pinho, foi bom que o Rio tenha ficado para uma segunda leva, porque, no seu entendimento, a primeira vez sempre é passível de apresentar falhas.

Pelo menos em um ponto, Estado e Infraero estão se entendendo: o superintendente do Galeão disse que já foi procurado pelas autoridades estaduais para negociar a área onde ficará a estação do corredor de ônibus expresso (BRT na sigla em inglês) que deverá ligar o aeroporto à Barra da Tijuca, prometendo resolver um dos mais graves problemas do terminal carioca, o da acessibilidade.

Fonte: / NOTIMP







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