Especial: Acidente Noar Linhas Aéreas
Anac diz que avião estava regularizado .
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou ontem à tarde que estava tudo regularizado com o avião bimotor LET 410. Segundo o órgão, a manutenção da aeronave da empresa Noar Linhas Aéreas estava em dia, bem como a certificação de aeronavegabilidade.
O Comando da Aeronáutica, que investiga o acidente, afirmou, em nota, que usará os gravadores de dados e de voz das caixas-pretas do avião, já localizadas, para apurar o que aconteceu. A leitura dos dados será realizada no Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), desde que o material não esteja danificado.
Já os motores da aeronave, também retirados, serão encaminhados para o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos (SP), para análise.
Os gravadores, ou as caixas-pretas, de dados e de voz da aeronave PR-NOB foram localizados por equipe de investigação do segundo serviço regional de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos (Seripa 2) da Força Aérea Brasileira (FAB), segundo o comando da Aeronáutica.
Os procedimentos fazem parte do processo de investigação do acidente, acrescenta a Aeronáutica em comunicado oficial.
Em entrevista divulgada pela FAB, o chefe da divisão de Aviação Civil do Cenipa, tenente coronel Frederico Alberto Marcondes Felipe, disse que a primeira fase é a ampla coleta de dados. Além da atuação do Seripa 2, a Força Aérea deslocará para o Recife hoje uma equipe do Cenipa para ajudar nas investigações.
“As equipes vão levantar informações relativas aos destroços, à aeronave, ao processo de manutenção dela, às gravações do voo, à meteorologia, além de dados sobre os pilotos, seu treinamento, a empresa, tráfego aéreo e tudo o que for relevantes para as investigações.” Não há prazo para a conclusão do trabalho.
Piloto fez alerta, mas empresa nega falhas
Rivaldo Cardoso informou à torre de controle que havia defeitos no avião. Em coletiva, Noar disse que manutenção da aeronave estava em dia
Com apenas 55 segundos de voo, o piloto Rivaldo Cardoso, 68 anos, percebeu que o avião apresentava problemas. Comunicou o defeito à torre de controle. Dois minutos depois, informou que não iria conseguir retornar até a pista do Aeroporto Internacional do Recife, de onde havia partido, e que tentaria pousar na Praia de Boa Viagem, na Zona Sul. Após poucos segundos, a aeronave sumiu da tela do radar. Mesmo com a informação repassada pelo piloto, a companhia aérea garantiu, na tarde de ontem, durante coletiva, que o avião estava em dia com todas as manutenções obrigatórias. Negou também a informação de que havia relatos anteriores sobre a perda de potência do motor durante a decolagem.A cúpula da empresa assegurou que as famílias das 16 vítimas vão ser devidamente indenizadas. Durante coletiva, a Noar preferiu não divulgar valores. Informou apenas que o avião é assegurado e inclui, inclusive, danos a terceiros. O presidente da Noar, Djalma Cintra Júnior, foi o primeiro a falar. Bastante emocionado e com a voz embargada, declarou que a empresa sempre primou pela segurança.
“O que nós queríamos era devolver para as famílias uma a uma dessas pessoas. Pedimos a Deus que as acompanhe e conforte todas.” O diretor de assuntos corporativos e comercial, Giovanne Farias, confirmou que o avião que sofreu o acidente estava em manutenção durante o fim de semana. “A última manutenção foi realizada agora (fim de semana), durante três dias. Todas as nossas aeronaves estão em perfeitas condições. Depois da manutenção, o avião já voou 17 horas e 4 minutos. A Anac, que é o órgão regulador, já nos inspecionou várias vezes.”
Informado que Jairo Gonçalves, irmão do copiloto, teria dito, na manhã de ontem, que ele tinha o relatado recorrente perda de potência ao decolar, a Noar rebateu. “Não houve nenhum tipo de relato nesse sentido.” Giovane Farias ressaltou que a aeronave voava com 5.550 quilos. “O máximo permitido é 6,6 mil quilos.” A empresa possui seis comandantes e 5 copilotos e faz entre 8 e 10 viagens por dia. Opera há um ano e um mês no Recife, Maceió, Natal e Mossoró. A Noar contava apenas com duas aeronaves. O presidente da companhia informou que os dois aviões da empresa foram fabricados há um ano.
Questionados porque a empresa decidiu operar com o modelo Let-410, que apresenta um histórico de vários acidentes no currículo, Giovanne Farias explicou que, para a compra dos aviões, a Noar levou em consideração a “viabilidade econômica e a segurança.”
Giovanne declarou que, atualmente, a companhia atua com dois focos. “Uma equipe vai continuar dando apoio aos familiares e a outra segue em busca de obter respostas quanto aos motivos do acidente.” O último voo da aeronave foi na noite da terça-feira.
Sobre a responsabilidade dos pilotos, o diretor de operações, comandante Marco Sendin, fez questão de salientar que tanto piloto quanto copiloto eram bem treinados. O piloto tinha mais de 15 mil horas de voo, sendo mil delas nesse tipo de aeronave, e o copiloto, mais de 2 mil horas de voo, sendo 460 delas nesse tipo de avião.
Giovanne Farias ressaltou que as investigações já foram iniciadas e que a empresa pretende colaborar em todos os sentidos. “Não vamos medir esforços para esclarecer as causas desse acidente, pois a empresa cumpre rigorosamente todas as normas de segurança aérea, determinações da Anac e da Aeronáutica. Todas as informações que tivermos serão repassadas à imprensa, agora isso é tudo que temos a dizer”, explicou.
Após o relato inicial, todos os representantes da empresa avisaram que não iriam responder nenhuma pergunta. Depois da insistência dos jornalistas, eles resolveram falar.
A empresa suspendeu todos os voos previstos para ontem. Hoje, mesmo com apenas um aeronave disponível, a Noar alegou que os passageiros não vão sofrer prejuízos. Alguns devem ser relocados para outras companhias aéreas.
“Foi problema técnico”
O piloto Jairo Gonçalves, irmão do copiloto Roberto Gonçalves, foi enfático em afirmar que o acidente foi provocado por falha no bimotor. Disse, ainda, que o irmão já tinha reclamado de perda de potência nas turbinas e que a aeronave passou dois meses em manutenção.
JC – Qual a causa do acidente na sua opinião?JAIRO GONÇALVES – Sem dúvida foi um problema técnico com o bimotor. Meu irmão já tinha me dito que esse tipo de aeronave apresentava constantemente perda de potência nas turbinas. Como também sou piloto, conversamos muito sobre pilotagem. Esse problema não aconteceu com uma única aeronave. Seria uma falha de fabricação já identificada em outros aviões.
JC – E que providências teriam sido tomadas pela empresa Noar depois que Roberto Gonçalves identificou esse problema?
JAIRO – Ele me contou há três meses e, depois disso, as duas aeronaves da empresa teriam ficado paradas em manutenção por quase dois meses. Técnicos checos chegaram a vir aqui para fazer reparos.
JC – Então o senhor não acredita em falha humana?
JAIRO – Não, de forma alguma. Meu irmão era muito experiente. Pilotava há mais de 20 anos e tinha pelo menos duas mil horas de voo. Ele foi um herói. A experiência dele e do outro piloto permitiu que levasse a aeronave para longe dos edifícios, na tentativa de poupar vidas. Se não fosse experiente, não agiria dessa forma.
JC – O que o senhor acha, então, que aconteceu para provocar o acidente?
JAIRO – É difícil dizer, ainda mais agora, que tudo ainda está muito recente. Mas acredito que se eles tivessem um pouco mais alto, teriam conseguido controlar a aeronave e pousar. Eles voavam baixo, as pessoas viram. Pelas informações iniciais, estavam a 400 pés e não tiveram como ganhar altitude para retornar ao aeroporto.
JC – É verdade que Roberto Gonçalves não deveria estar naquela aeronave?
JAIRO – Sim. Pela escala da empresa, ele estaria de folga. Só trabalharia no próximo sábado. Mas um amigo pediu para que ele trocasse porque precisava resolver problemas particulares e meu irmão concordou.
JC – Como vocês souberam do acidente?
JAIRO – Um amigo ligou para um dos filhos do meu irmão e, na hora, ele disse que não poderia ser o pai porque ele estaria de folga. Mas depois, infelizmente, confirmamos a notícia.
JC – Para o senhor, seu irmão ajudou a salvar vidas?
JAIRO – Sem dúvida. Meu irmão foi um herói. Ele e o outro tentaram de tudo para salvar vidas, inclusive os passageiros. Mas não conseguiram.
Fonte: / NOTIMP
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Tenente do Cenipa fala sobre processo de investigação
A Força Aérea Brasileira (FAB) iniciou o processo de investigação do avião que caiu no Recife, nesta quarta-feira (13). Em entrevista à Força Aérea FM, o chefe da divisão de aviação civil do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), o tenente coronel aviador Frederico Alberto Marcondes Felipe, falou sobre o processo de apuração das informações que irão auxiliar na descoberta das causas do acidente e quais serão os próximos passos dos órgãos responsáveis.
Segundo informações preliminares confirmadas pelo tenente, o piloto entrou em contato com a torre de controle, após a decolagem, avisou que estava com problemas na aeronave e que retornaria para o pouso no aeródromo (um pequeno aeroporto, também conhecido como campo de aviação). Em seguida, foi informado que ele tentaria um pouso na praia de Boa Viagem.
Neste momento inicial de investigação, é feita uma grande coleta de dados. Já há uma equipe regional que está no local do acidente e outra do Cenipa se descola para lá. De acordo com o tenente, entre os dados que deverão ser coletados, estão as informações da aeronave em relação à manutenção, caixa preta, sobre a meteorologia, treinamentos do piloto e tráfego aéreo.
Ainda não há indícios ou causas que tenham levado à queda do avião. A ação inicial agora é saber quais serão as linhas de investigação para identificar os fatores e, principalmente, auxiliar na prevenção de próximos acidentes. Não há ainda uma previsão para a conclusão das investigações, pois dependem da complexidade e do andamento dos trabalhos, normalmente o prazo é de um a dois anos para concluir o processo.
Um dos elementos que irá guiar a investigação é o donwload dos dados da caixa-preta. As informações serão decodificadas e analisadas pelos órgãos responsáveis, mas não vai dizer exatamente como o acidente aconteceu, apenas facilitará o processo de investigação. Após a descoberta dos fatores de riscos que levaram à queda do bimotor, serão emitidas medidas preventivas para segurança nos voos junto com um relatório de conclusão das causas, disponível ao público no site da Cenipa.
No momento, cabe ao Cenipa a investigação completa do acidente e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) as atribuições das legislações e o acampamento da empresa de aviação, bem como sua regulamentação e pilotos. Já a FAB ficará responsável por apurar as medidas de segurança para evitar próximos acidentes e apurar as responsabilidades do acidente.
Fonte: Diario de Pernambuco / NOTIMP