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Enfim, cresce apreensão de drogas nas fronteiras

Só de maconha foram descobertas mais de 10t no último mês. O Ministério da Justiça comemora os números, mas especialistas alertam que é preciso levar em conta a carência histórica de fiscalização nessas áreas do país .

Renata Mariz / Igor Silveira .

Os 527,38kg de cocaína e as 10,5t de maconha apreendidos pela Operação Sentinela em junho, primeiro mês de funcionamento do Plano Estratégico de Fronteiras, foram motivo de comemoração por parte do governo. Ao anunciar os dados ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, frisou que, no caso da maconha, o aumento foi de 64,2% em relação às apreensões feitas de janeiro a maio de 2011. No caso da cocaína, a quantidade foi 233 vezes maior levando-se em conta o volume interceptado nas fronteiras em junho do ano passado. A forma aleatória de comparação e uma análise mais sensata dos dados levam especialistas no tema a uma única conclusão: "O sucesso de uma operação pontual vai parecer grandioso quando muito pouco vinha sendo feito meses antes", afirma José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo.

Robson Sávio Reis Souza, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e especialista em criminalidade, lembra que faltou fiscalização nas fronteiras neste ano muito em função do corte orçamentário que atingiu a Polícia Federal (PF), da ordem de R$ 1,5 bilhão — 35% do total destinado, R$ 4,2 bilhões. "A quase inexistência de ações regulares faz com que todas as operações pareçam exitosas. E elas são, de fato. O problema é mantermos a fiscalização permanentemente e a forma como ela foi feita agora", diz Robson, referindo-se ao planejamento estratégico anterior à ação e à integração das Forças Armadas, da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Força Nacional de Segurança (FNS). O coronel José Vicente engrossa o coro. "O desafio é tornar esse tipo de operação, baseado em inteligência policial, uma rotina nas nossas fronteiras, que estão abandonadas", diz.

Ações internacionais


O ministro Cardozo também admite que nem todo o volume de apreensões foi alcançado em regiões de fronteira. Algumas ocorreram em outros estados, mas a partir de informações obtidas por meio da polícia de áreas fronteiriças. "Confesso que fiquei surpreso positivamente com o resultado. Precisamos levar em conta que o efetivo da operação ainda não está completo. O próximo balanço deve apresentar números ainda melhores", ressaltou.

As ações em solo estrangeiro também foram destacadas por Cardozo. Para ele, a destruição de plantações de coca e maconha no Peru e no Paraguai, respectivamente, são fundamentais para que a Operação Sentinela continue produzindo bons resultados. "O número de apreensões não é um bom indicador porque esse resultado é relativo. O nosso desejo é levar essa quantidade de apreensões a próximo de zero. Isso vai significar que a vigilância na fronteira está tão intensa que não se pensa em fazer o transporte de drogas por ali. Também acredito muito no trabalho em países vizinhos", completou.

O Ministério da Justiça não quis divulgar quanto tem custado o reforço no Plano Estratégico de Fronteiras, nem o aumento de efetivo e a localização específica das ações por motivos de segurança.

O corte no orçamento federal atingiu programas fundamentais da PF, inclusive o Sentinela, em funcionamento permanente nas fronteiras desde 2010. Houve redução do efetivo da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Carros parados sem manutenção, dificuldade de pagar diárias de funcionários e outros problemas se tornaram rotina para a PF nos municípios fronteiriços. Até o veículo aéreo não tripulado, chamado pela sigla Vant e uma das principais promessas de Dilma Rousseff durante a campanha na área da violência, ainda não decolou por problemas de recursos. Cardozo destacou que "em agosto ou setembro", o Vant entrará em funcionamento.

Fora de circulação


Confira o balanço dos 30 primeiros dias da Operação Sentinela — iniciativa para coibir crimes transnacionais como o tráfico de drogas, de armas e o contrabando de produtos.

Apreensões
Maconha: 10,5t
Cocaína: 527,38kg
Aparelhos eletrônicos: 283,7 mil
Pacotes de cigarros: 358 mil

Abordagem
271.985 pessoas Prisões em flagrante 550 pessoas

Erradicação de plantações em países vizinhos

» Peru
900 hectares de coca (que originariam 600kg de cocaína)

» Paraguai
600 hectares de maconha (que produziriam 1,2 mil tonelada da droga)

Cocaína para a Europa

O Relatório Mundial sobre Drogas 2011, apresentado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) no último dia 23, posicionou o Brasil como país de destaque na distribuição de cocaína para a Europa. Segundo o relatório, o Brasil está se tornando um dos principais centros distribuidores de cocaína para o Velho Continente: em 2009, ocorreram 260 apreensões da droga na Europa com passagem pelo Brasil, somando 1,5t da substância recolhida.

Em 2005, foram 25 casos — um total de 339kg de cocaína. Apesar de campeão em número de casos, o país perde para o Equador e para a Venezuela no volume de droga enviada. Os países foram responsáveis, respectivamente, pelo envio de aproximadamente 2,5t e 6,5t em 2009.

A situação brasileira encaixa-se no que a Polícia Federal (PF) chama de microtráfico, caracterizado, segundo Márcio Nunes, coordenador-geral de Polícia de Repressão a entorpecentes da PF, pela baixa quantidade de entorpecente apreendido por abordagem.

"As mulas, muitas vezes sem antecedentes criminais, levam a droga em voos comerciais nas mais variadas formas possíveis", explica. Ainda de acordo com o levantamento, o Brasil foi o único país sul-americano citado como nação de saída da cocaína com destino à África. (Larissa Leite)

Fonte: / NOTIMP









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