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País pagou US$ 10 milhões por "carona espacial"






A viagem que levou Marcos Pontes ao espaço, em 29 de março de 2006, foi bem diferente do que havia sido combinado em 1997, quando o Brasil assinou um contrato para participar da construção da ISS (Estação Espacial Internacional).

Como membro "júnior" do consórcio, o país deveria entregar aos EUA alguns equipamentos para a estação, orçados inicialmente em U$ 120 milhões.

Em troca, o país teria direito a treinar e enviar um astronauta ao espaço em um ônibus espacial.

O contrato não foi cumprido: o Brasil não entregou equipamentos, após sucessivos atrasos. Do valor combinado, só foram investidos US$ 10 milhões.

Com a explosão do ônibus espacial Columbia, em 2003, as missões tripuladas americanas foram reduzidas, dificultando ainda mais uma eventual ida ao espaço do astronauta brasileiro.

Mesmo assim, a AEB (Agência Espacial Brasileira) não quis abortar a missão.

A solução encontrada foi conseguir uma "carona" com a nave espacial russa Soyuz. Por ela, o Brasil desembolsou US$ 10 milhões.

Ou seja, a viagem -batizada de Missão Centenário, em homenagem aos cem anos do voo do 14 Bis- custou US$ 1 milhão por dia.

O alto custo da missão foi motivo de polêmica e dividiu os próprios cientistas.

Nos oito dias em que ficou na ISS, Pontes realizou oito experimentos científicos diversos, que não renderam grandes avanços à ciência brasileira. Entre eles, plantar um pezinho de feijão e analisar radiação em bactérias.

Depois do retorno de Pontes à Terra, a AEB pouco avançou nas negociações para uma segunda missão espacial brasileira.

Atualmente, a participação do Brasil na construção da Estação Espacial Internacional está congelada. E sem previsão de retorno.(GM)

RAIO-X

MARCOS PONTES

NASCIMENTO
Bauru (SP), em 1963

FORMAÇÃO
Engenharia Aeronáutica, pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos (SP), com mestrado em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, na Califórnia (EUA)

NO ESPAÇO
Foi o primeiro, e até agora único, astronauta brasileiro. Viajou em março de 2006 de "carona" em nave russa

CARGO ATUAL
Intercala palestras motivacionais ao custo de R$ 15 mil com atividades no Centro Espacial Lyndon Johnson, em Houston, no Texas (EUA), mas é funcionário da AEB (Agência Espacial Brasileira)

OBRA
Livro de autoajuda recém-lançado "É possível! Como transformar seus sonhos em realidade" (Ed. McHilliard)

Astronauta vira autor de autoajuda

Cinco anos após ir ao espaço, o brasileiro Marcos Pontes também dá palestras motivacionais, por R$ 15 mil.

Ele se tornou também garoto-propaganda de travesseiro "Nasa", de "Nobre e autêntico suporte anatômico"


Giuliana Miranda

Prestes a completar cinco anos da viagem ao espaço, o primeiro (e até agora único) astronauta brasileiro, Marcos Pontes, especializou-se em outros voos: técnicas de motivação e autoajuda.

Com temas como "sua empresa é sua espaçonave" e "sou membro da tripulação, a importância do trabalho em equipe", ele cobra, a Folha apurou, cerca de R$ 15 mil por participação.

"Não dá para dizer ao certo quantas [palestras] são. Tem meses que são várias. Em outros, desaparecem", diz Pontes.

Ele diz que a ideia partiu do público, que o procurava em busca de conselhos profissionais e pessoais.

"Eu me especializei. Fui estudar e fiz cursos de coaching [treinamento] e gestão de pessoas", conta.

Tanto esforço parece estar dando certo. No mês passado, Pontes lançou o livro de autoajuda "É possível! Como transformar seus sonhos em realidade" (Ed. McHilliard), que mistura suas experiências no espaço a dicas de como ser bem-sucedido.

Nesse cinco anos, Pontes também se tornou garoto-propaganda de uma marca de travesseiros com tecnologia da Nasa. Nada a ver com a a agência espacial americana, porém: "Nasa", no caso, é sigla para "Nobre e Autêntico Suporte Anatômico".

O logotipo da empresa de travesseiros divide espaço no seu macacão de astronauta (uma espécie de réplica do que foi usado no espaço, com o qual ele se apresenta em terra) com a bandeira nacional e o símbolo da Agência Espacial Brasileira.

Segundo alguns críticos, Pontes teria ido para a reserva da Aeronáutica, logo após voltar da estação espacial, para ganhar dinheiro com palestras e produtos associados a seu nome.

Ele nega e afirma que, após anos fora da ativa e sem fazer os cursos obrigatórios, esse seria o caminho natural. Seguido, inclusive, por astronautas de outros países.

Em um texto em seu site (www.marcospontes.net), ele classifica essas críticas como "imbecilidade".

EFEITOS COLATERAIS

Visivelmente com alguns quilos a mais, o astronauta atribui as mudanças na balança a alterações hormonais, que seriam um dos efeitos colaterais dos dez dias que passou no espaço.

Pontes também diz ter desenvolvido várias alergias, além de hemorragias nos dois ouvidos. Esses inconvenientes, diz, não o fizeram se arrepender da missão.

SHOWMAN

Na última quinta-feira, Pontes deu uma palestra sobre robótica na Campus Party - maior evento de tecnologia do Brasil.

A simpatia do palco se manteve mesmo quando, ao terminar, foi cercado por gente querendo uma foto.

"Com esse macacão de astronauta, ele não consegue ir muito longe sem pedirem foto", diz sua assessora.

SEGUNDA MISSÃO

Pontes continua vivendo em Houston (EUA), onde, em 1998, começou seus treinamentos de astronauta.

Embora permaneça à disposição do Brasil para um segundo voo, ele afirma que é difícil que isso aconteça.

"Hoje eu diria que as chances são baixas", diz ele, citando cortes de verbas no programa espacial americano, entre outros fatores.

Ele continua trabalhando no Centro Espacial Lyndon Johnson, da Nasa, mas faz questão de frisar que não é contratado pela agência. "Sou funcionário AEB (Agência Espacial Brasileira)", diz.

Ele afirma, porém, que suas atividades em Houston já não são mais tão intensas. Os trabalhos andam "meio parados", diz.

FRASE

"Fui estudar e fiz cursos de coaching [treinamento] e gestão de pessoas (...) Não dá para dizer ao certo quantas [palestras] são. Tem meses que são várias. Em outros, desaparecem"
MARCOS PONTES

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP




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