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Rio: Não estamos surdos







Erik de Castro.

Rio - A ação da força-tarefa formada pelas polícias Militar, Civil e Federal, em conjunto com a Marinha e o Exército na ocupação da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, foi exemplar. Um sucesso acompanhado ao vivo pelos brasileiros, sob comando do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que vem demonstrando impecável visão estratégica e determinação. Beltrame lembra o personagem Vital, interpretado por Carlos Alberto Riccelli no meu filme ‘Federal’, no seu idealismo discreto, no comando de uma força-tarefa para desbaratar o tráfico de drogas.Vital não triunfa. Beltrame triunfará?

A forma com que os militares foram recepcionados emociona, demonstrando uma mudança no modo como a população enxerga as forças de segurança. Em meio às operações, mandei um SMS para o celular de um amigo do COT (Comando de Operações Táticas da Polícia Federal), solicitando que me ligasse para falarmos de assunto pessoal. Ele imediatamente me retorna, conversamos e, antes de desligar, a revelação: “Erik, estou aqui no Complexo do Alemão”. Eu mal imaginava que ele estava lá, no olho do furacão. Foi como se, na época da Segunda Guerra, eu ligasse para um amigo do Exército e ele me atendesse no campo de combate em plena Itália! Pergunto: “E como tá aí?” Ele: “Erik, é a operação mais linda de que eu já participei”. Eu: “O povo brasileiro, aí dentro e aqui fora, está com vocês”. Ele: “A gente sente isso daqui”. Encerrei: “Fica com Deus, cara.” “Você também, irmão.”

Pesquisa da FGV mostra que o Alemão e a Rocinha são as favelas mais pobres do Rio. O Alemão tem 30% de miseráveis ganhando menos de R$ 145/mês. Estes cidadãos vivem agora a esperança da inclusão no mapa da administração pública, como a chegada de hospitais, escolas, saneamento, cultura e serviços que voltam a ser oferecidos. Tomara que este seja o início de um movimento para resolver a contaminação do aparato de segurança e dos poderes executivo, legislativo e judiciário que hoje sofrem com a influência do crime organizado.

A simbologia da reconquista daquela região é muito forte. Que a imagem da Igreja da Penha sirva de inspiração para todos nos iluminando com a paz e o amor tão sonhados. Lembremos sempre das palavras do Rei: “Não importam os motivos da guerra/ A paz ainda é mais importante que eles/ Esta frase vive nos cabelos encaracolados/ Das cucas maravilhosas/ Mas se perdeu no labirinto/ Dos pensamentos poluídos pela falta de amor/ Muita gente não ouviu porque não quis ouvir/ Eles estão surdos!” Não estamos surdos.

Erik de Castro é cineasta, diretor do documentário ‘Senta a Pua!’ (2001), sobre participação da Força Aérea Brasileira na Segunda Guerra, e de ‘Federal’

Fonte: JORNAL O DIA, via NOTIMP




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