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Rio: Medo de contágio









Ruy Castro.

RIO DE JANEIRO - Nenhum país até hoje quebrou a cadeia do crime organizado sem a participação de um poder mais amplo, tipo federal -ponha aí os EUA, a Itália e outros em que, em algum momento, a situação pareceu fora de controle. As polícias Civil e Militar, de âmbito estadual, sozinhas, não resolvem o problema. Não raro elas são parte do problema.

O braço da lei só funciona se for longo, tentacular e asfixiante. Isso faz com que uma operação como a da Vila Cruzeiro e do Alemão, no Rio, só tenha sido bem-sucedida porque as Forças Armadas entraram com o peso de seu equipamento e presença. E, no quesito asfixia, só elas têm condições de aplicar um relativo torniquete na fronteira com os países que abastecem de armas e drogas as organizações criminosas.

O problema agora é por quanto tempo continuarão atuantes no morro e quem prestará continência a quem em futuras operações do gênero. Dentro dos seus códigos, estas são preocupações justas. Menos convincentes são as que se referem ao temor de que, pelo excesso de convívio com uns e outros, haja um risco de "contágio" dos soldados pelos maus policiais ou pelos próprios bandidos.

Se for isto, é uma volta fulminante a Rousseau e ao século 18: o ser humano é uma teteia, o meio é que o corrompe. Nossos soldados serão assim tão frágeis? Nesse caso, deveríamos mantê-los nos quartéis, limitados a funções seguras e burocráticas, a salvo das perdições do mundo. Mas nenhum soldado, em qualquer função de atribuição das Forças Armadas e em qualquer lugar, está livre de ser "contaminado" -nem que seja por traficantes de micos e periquitos na fronteira.

Prefiro acreditar que o soldado brasileiro esteja adestrado para resistir a tudo, inclusive às tentações. E se, ao ser posto à prova, sucumbir a elas, será só por um defeito de fabricação normal no ser humano.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP



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