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Aviação: Falta de mão-de-obra qualificada





Brasil começa a se tornar referência para o mundo na formação de mão de obra demandada pelas fabricantes de aeronaves.

Universidades tentam ampliar cursos sem comprometer a qualidade

São Paulo, São Carlos (SP), São José dos Campos (SP) e Itajubá (MG). A indústria Aeronáutica brasileira atravessa um momento de elevada produção e, consequentemente, enfrenta o problema da falta de mão-de-obra qualificada.Na Helibras, filial da francesa Eurocopter, sediada em Itajubá, tal escassez é motivo de assombro. A empresa, que já está trabalhando em dois turnos, pretende dobrar de tamanho e mais do que triplicar o número de funcionários até 2012de 300 para 1 mil.

Está difícil encontrar profissionais especializados, tanto engenheiros quanto técnicos,em um momento em que estamos em plena capacidade produtiva, diz o vice-presidente da fabricante de helicópteros, Eduardo Mauad. É reflexo do expressivo crescimento da economia, que está levando junto o setor aeronáutico, acrescenta. A urgência com que a Helibras procura mão de obra qualificada está associada à recente encomenda do governo de 50 helicópteros EC 725 para as Forças Armadas, com capacidade para 30 passageiros.

Mauad conta que a maquete da nova fábrica com 11 mil metros quadrados está pronta e, para garantir a ampliação do quadro de pessoal, a companhia fechou parceria com a Universidade Federal de Itajubá (Unifei). A meta é criar um curso para formação de engenheiros aeronáuticos, no qual os estudantes terão a oportunidade de estagiar na sede daEurocopter, na França. Dessa forma, vamos garantir a mão de obra para o futuro, pois pretendemos ampliar a fábrica e produzir o primeiro helicóptero concebido aquimesmona companhia, afirma.

Paralelamente, a Helibras está buscando profissionais em eventos acadêmicos.

Na semana passada, com o Itaú uma das instituições financeiras que mais têm engenheiros em seu corpo de funcionáriosa empresa participou de uma feira de carreiras na unidade da Universidade de São Paulo (USP)emSão Carlos, que temumdos mais disputados cursos do paíso de engenharia Aeronáutica.

Ou fazemos isso ou não conseguiremos preencher os postos que se abrirão com a ampliação da nossa fábri ca, ressalta Mauad. Ainda há uma carência grande para os nossos projetos, admite, lembrando que o Brasil tem uma das maiores frotas de helicópteros do mundo. São quase mil em operação.

Desde a entrada no país,em1979, aHelibras ampliou a sua fatia de mercado 14% para 52%.

Na Embraer, fabricante de jatos comerciais regionais, a retomada das encomendas fez a empresa recontratar parte dos 4 mil funcionários que demitiu depois do estouro da crise mundial, em setembro de 2008. A empresa está operando hoje com 16 mil empregados espalhados pelo mundo e, para suprir a falta de profissionais especializados, recorreu a parcerias com centros de formação como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O projeto, batizado de Programa de Especialização em Engenharia Aeronáutica (PEE), busca atrair recémformados em engenharia de diversas áreas. A companhia seleciona 100 engenheiros por ano.

O aumento da produção de jatos executivos na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto tem absorvido grande parte dos profissionais que são formados pela unidade da USP em São Carlos. Para o coordenador do curso de engenharia Aeronáutica da instituição, Fernando Martini Catalano, com a fusão das empresas aéreas TAM e LAN, aumentará ainda mais a demanda por engenheiros, pois o centro de manutenção de todas as aeronaves da futura companhia, a Latan, funcionará na cidade do interior paulista.

A guerra por cérebros

Escassez de engenheiros aeronáuticos estimula uma disputa feroz entre empresas e bancos por esses profissionais. Centro de excelência em formação, o ITA quer dobrar o número de vagas

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São Paulo, São Carlos (SP), São José dos Campos (SP) e Itajubá (MG). O engenheiro aeronáutico é um profissional raro no Brasil, como um metal nobre, e vem sendo cada vez mais disputado no mercado não somente pelas empresas do setor.Nas poucas faculdades formadoras dessa nata acadêmica, como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), o assédio a esses cérebros feito pela iniciativa privada, especialmente bancos, já começa no terceiro ano. Ou seja, antes mesmo de o aluno fazer o estágio obrigatório que ocorre a partir do quarto e do quinto anos, ele já é abordado com ofertas de programas de estágio extremamente sedutores e com salários iniciais superiores aos R$ 5 mil praticados pela indústria Aeronáutica, que já estão acima da média para o engenheiro iniciante.

O coordenador do curso de engenharia Aeronáutica da USP São Carlos, Fernando Martini Catalano, revela que a procura pelas cabeças da universidade do interior paulista é tão grande que a instituição que forma apenas 40 engenheiros aeronáuticos por ano procurou alternativas para que os estudantes não abandonem a Aeronáutica no meio do caminho, seduzidos pelo canto dos bancos ou de empresas de vários setores, como petróleo e até mesmo parque de diversões. Buscamos exigir o estágio do quarto e do quinto anos nas áreas de formação, senão os alunos acabam indo muito cedo para bancos ou outras empresas, diz ele, acrescentando que a universidade também estimula o desenvolvimento de projetos de iniciação científica, que acabam dando uma exposição maior para o Brasil no exterior.

Existe realmente um deficit no mercado desse profissional, pois é possível contar nos dedos o total de faculdades com essa cadeira. Até gostaríamos de aumentar o número de vagas, mas não há professores suficientes para dar as aulas, uma vez que eles também são disputados, afirma Catalano.

Temos uma cadeira vaga há mais de quatro anos. O professor de certificação Aeronáutica e manutenção Aeronáutica da USP São Carlos, James RojasWatehouse, é taxativo: Quem dá aula, o faz por vocação e não pelo salário. Dono de uma empresa ligada ao setor aeronáutico, ele oferece estágio para alguns de seus alunos. Mas reconhece a dificuldade em concorrer com os salários do mercado financeiro.

Sonho de infância A grande procura pelos estudantes de engenharia Aeronáutica não é de hoje.

Muitos de nossos alunos estão hoje trabalhando em bancos, informa o vice-reitor do ITA, Fernando Toshinori Sakane.

Há uma procura grande porque o que os bancos procuram é cérebro. E eu acho que o iteano tem os conhecimentos de matemática, raciocínio lógico que interessam aos bancos, afirma. Ele lembra que algo entre 6 mil e 6,5 mil candidatos disputam anualmente as 130 vagas, das quais 80 são destinadas aos alunos civis, disponíveis a cada ano.Oinstituto tem planos de dobrar o número de vagas nos próximos cinco anos, mas ainda depende de o projeto ser incluído no Orçamento daUnião.

Um bom exemplo do assédio do mercado financeiro éConrado Engel, presidente da filial brasileira do gigante HSBC, maior banco do mundo. Nascido em Concórdia, Santa Catarina, ele saiu cedo de casa para estudar em período integral no disputadíssimo ITA. Ao se formar,em1980,Conrado se deu ao luxo de poder escolher onde queria trabalhar.

Com proposta da Embraer, seu sonho de infância e hoje uma das maiores fabricantes mundiais de jatos comerciais regionais, ele apostou as fichas no Citibank. Podia ter ido para a Embraer.

Fiquei impressionado com o programa de recrutamento que o banco montou no ITA para vender a carreira financeira aos novos engenheiros, relata.

A estudante da USP São Carlos Carolina Lima do Nascimento, 23anos,que está no quarto ano do curso de engenharia Aeronáutica, começa agora a escolher onde fará estágio. Ela diz que prefere seguir a carreira acadêmica e fazer mestrado.

Realmente, há um grande número de amigos meus que estão interessados em estágios oferecidos pelo setor financeiro, diz. Muitos comentam que o que mais atrai os estudantes é o salário inicial para o recém-formado. Eu pretendo ficar na área Aeronáutica porque é o que eu gosto.

Contudo, se não houver emprego, vou para a área financeira ou para outra oportunidade que aparecer, afirma.

O economista-chefe do Banco alemão West LB, Roberto Padovani, comenta que é grande o número de engenheiros no mercado financeiro. Nas últimas décadas, o país não cresceu e muitos engenheiros não tinham onde trabalhar. Isso reflete bem o retrato da economia atual, pois o país voltou a crescer e essa mão de obra começa a ficar escassa.Todos os tipos de profissões atravessam um momento positivo, de ganho salarial. O nível de desemprego nunca esteve tão baixo, afirma.

Intercâmbio como recompensa

Os cérebros das faculdades brasileiras de engenharia ganham destaque no exterior.

O estudante do quinto ano de engenharia Aeronáutica da unidade da Universidade de São Paulo (USP) em São CarlosWander Gustavo Rocha Vieira, 24 anos, teve o seu projeto de iniciação científica premiado internacionalmente.

Como recompensa, ganhou uma bolsa de doutorado de uma instituição canadense e, no próximo ano, embarca para Otawa para fazer o mestrado a partir de 2011.

Optei pelo mestrado, pois levarei apenas dois anos para concluir o curso e terei a oportunidade de poder voltar ao Brasil em um período mais curto, diz o estudante, que desenvolveu, em seu projeto, uma forma de reaproveitar a energia da vibração de partes do avião, como as asas em circuitos internos de baixa potência. Pretendo fazer o mestrado na área de helicópteros, confessa.

Iniciação científica na graduação tem sido uma forma de as universidades manter os estudantes no meio acadêmico, comenta o professor Fernando Martini Catalano, coordenador do curso de engenharia Aeronáutica da USP de São Carlos. Como o assédio dos bancos é grande, incentivar os projetos de iniciação científica na graduação tem sido também um grande diferencial para os alunos, que conseguem bolsa para estudar no exterior,como é o caso do Wander, diz.

O paranaense Juliano Augusto Bonfim Gripp, 22, integra um grupo que despertou interesse de uma multinacional. Estudante do terceiro ano de engenharia eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), ele participou de um grupo do instituto que fez a tradução recente de um novo software da Microsoft. Juliano faz parte de uma família de iteanos o irmão mais velho já se formou e faz mestrado, enquanto o mais novo está no primeiro ano e é mais uma testemunha do assédio do mercado financeiro no instituto. Tenho vários colegas que são procurados por bancos, diz. Ele confessa preferir continuar os estudos, e, quem sabe, ir para a área acadêmica. (RH)

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, via NOTIMP




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