Venezuela rompe relação com Colômbia
Decisão ocorre momentos após Bogotá acusar Caracas na OEA, em Washington, de abrigar guerrilheiros das Farc Evidências são fotos aéreas e vídeos; governo de Hugo Chávez ironiza provas e convoca órgão máximo da Defesa
ANDREA MURTA e FLÁVIA MARREIRO
A Venezuela anunciou ontem o rompimento de relações diplomáticas com a Colômbia, pouco após Bogotá apresentar na Organização dos Estados Americanos, em Washington, supostas provas da acolhida a guerrilhas colombianas no país vizinho.
Caracas fechou a sua embaixada na capital da Colômbia e deu 72 horas para que o embaixador colombiano deixe o país. O Executivo convocou uma reunião de emergência do Conselho de Defesa Nacional da Venezuela para estudar o caso.
O presidente Hugo Chávez acusou o colombiano Álvaro Uribe de tentar provocar uma guerra entre os vizinhos, com histórico de crises recentes.
As supostas evidências são fotografias, vídeos e fotos aéreas com identificações de coordenadas feitas pelos colombianos para indicar locais onde creem haver acampamentos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional) em solo venezuelano.
Há cinco acampamentos -quatro das Farc e um do ELN- cujas coordenadas foram, segundo a Colômbia, confirmadas por grupos desmobilizados e por GPS. O governo crê haver atualmente de 20 a 39 acampamentos na Venezuela -ao longo dos anos, 87 já foram montados.
Bogotá diz que os grupos planejam ataques contra a Colômbia sem que Caracas aja para coibi-los e que 1.500 guerrilheiros estão abrigados na Venezuela. A Colômbia pediu que a OEA lidere, em até 30 dias, uma missão para comprovar sua existência.
A sessão emergencial fora pedida por Bogotá. "Mostramos essas provas várias vezes a Caracas, e como resposta recebemos insultos", disse o embaixador colombiano, Luis Alfonso Hoyos.
O representante da Venezuela, Roy Chaderton, foi irônico: "Conta outra". Ele disse que as imagens eram questionáveis e as coordenadas, conhecidas e descartadas.
Durante a noite, a Colômbia divulgou mais fotos.
"DIGNIDADE"
Enquanto corria a sessão na OEA, Chávez anunciava em Caracas o rompimento das já congeladas relações e ordenava um alerta na fronteira com a Colômbia, alegando risco de agressão.
Disse que a decisão foi tomada por "dignidade". Minutos depois do anúncio em Caracas, o embaixador da Venezuela na OEA pediu a palavra para comunicar a ruptura. "Foi uma provocação. Mas em algumas provocações temos de cair mesmo", disse à imprensa.
Autoridades presentes manifestaram ceticismo quanto às provas. "Não se sustentariam num tribunal", disse um diplomata. O embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes, pediu diálogo: "A América do Sul é uma região de paz e é fundamental manter essa característica".
A jornalista FLÁVIA MARREIRO viajou a convite do governo da Colômbia.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, via NOTIMP
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Por telefone, Lula pede a Chávez 'saída' negociada
Leonencio Nossa
Logo após Hugo Chávez anunciar o rompimento de relações com a Colômbia, o Planalto passou a agir para reduzir a tensão entre os dois países. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Salvador que telefonou a Chávez, sem dar detalhes. Mas o Itamaraty informou que Lula sugeriu uma "saída" negociada da crise e ofereceu a ajuda do Brasil na busca de um entendimento. Lula tem uma visita programada à Venezuela no dia 6.
Lula e sua equipe avaliaram que o clima de tensão tem fatores midiáticos. O presidente Álvaro Uribe, a duas semanas de deixar o cargo, está, na visão do Planalto, à vontade para fazer acusações a Caracas. Chávez, por sua vez, sabe que o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, indicou disposição em negociar.
O assessor de Assuntos Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, lamentou a decisão de Chávez de romper relações com a Colômbia. Mas disse ter convicção que a situação vai se "recompor" com a posse de Santos. "Estou convencido de que haverá vontade das duas partes de resolver isso", disse Garcia, acrescentando que "o Brasil tem procurado em várias ocasiões e, com êxito em alguns momentos, reduzir tensões" na região.
Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO, via NOTIMP