|

Air France 443: Trotes criminosos








O governo brasileiro deve empregar todos os meios legais e de inteligência de que dispõe para procurar identificar e, se possível, punir o responsável pelo boato de bomba no voo AF 443, que ia do Rio de Janeiro com destino a Paris e foi obrigado a fazer um pouso de emergência no Aeroporto Internacional dos Guararapes - Gilberto Freyre, no Recife, na noite de sábado, dez de julho.

Não se pode deixar impune nem considerar apenas uma brincadeira de mau gosto uma atitude capaz de criar pânico em centenas de pessoas, frustrar viagens programadas, de lazer ou negócios, causar prejuízos financeiros à companhia aérea e também aos passageiros. O alarme de que poderia haver uma bomba no Boeing 747 da Air France, que tinha a bordo 405 passageiros e 18 tripulantes, foi repassado do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, por telefone. O aeroporto do Recife chegou a ter atividades paralisadas. Dezenas de profissionais da Infraero, da Polícia Federal e do esquadrão antibombas foram mobilizados. A inspeção da aeronave e de toda a bagagem durou mais de 12 horas. Cães farejadores e até o novo body scan foram necessários para fazer a varredura.

Os passageiros ficaram sem saber o que ocorria até a chegada ao solo. Segundo relataram à imprensa, eles ainda sofreram com a falta de informações por parte da Air France e da Infraero. A divulgação de que a causa da escala não programada no Recife seria uma ameaça de bomba deve ter reavivado em muitos passageiros o trágico destino do voo AF 447. A aeronave também havia saído do Rio de Janeiro com direção a Paris e caiu próxima ao arquipélago de Fernando de Noronha, na madrugada de 1º de junho do ano passado, matando 228 pessoas a bordo, sendo 12 tripulantes. As causas da queda do Airbus 330-220 até hoje são desconhecidas. Até agora a caixa preta não foi encontrada no fundo do mar, mas nada indica que tenha sido um ato terrorista.

Passageiros do voo AF 443 tiveram que enfrentar interrogatório policial como suspeitos e deixaram o aeroporto sem a bagagem. E mais uma vez os consumidores se depararam com o despreparo de uma companhia aérea em atender num momento de dificuldade - a Air France não possui escritório no Recife e se viu obrigada a mandar uma equipe do Rio de Janeiro. Entre os passageiros desembarcados no Recife estava Maarten van Sluys, que perdeu a irmã Adriana no voo AF 447 e representa as vítimas daquela tragédia.

Um alarme de bomba durante o voo torna a viagem ainda mais dramática para aquelas pessoas que já têm um natural medo de voar, que sentem angústia por causa da sensação de confinamento dentro de uma aeronave - em terra ou a 10 mil metros de altitude. Mesmo passageiros experientes ficam receosos quando um avião é obrigado a mudar a sua rota e faz pouso de emergência, como voltou a acontecer três dias depois em um novo voo AF 443 com destino a Paris, que precisou retornar ao Rio de Janeiro. A causa desta feita foi uma pane no sistema sanitário da aeronave. Num primeiro momento, o temor é de que seja algo grave e que ponha em risco a sua segurança e a vida de todos.

Trauma, apreensão, irritação. Muitas queixas sobre as dificuldades para se acomodarem num hotel. Todo esse desconforto para os passageiros que tiveram que pernoitar no Recife no fim de semana foi causado pelo que ficou caracterizado por um simples trote, sem que ninguém ou qualquer facção criminosa tenha reivindicado autoria. A comunicação falsa de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado mas provoque a ação de autoridade é passível de punição pelo artigo 340 do Código Penal Brasileiro. A pena de detenção é de um a seis meses ou multa.

A Polícia Federal tem equipamentos e pessoal de inteligência qualificados para fazer o rastreamento e descobrir de onde partiu a ligação para a Infraero com a falsa denúncia de bomba. A identificação e a punição do autor devem servir de exemplo. Uma atitude irresponsável como essa tem que ser coibida para desencorajar o surgimento de novos alarmes falsos. A impunidade pode levar à banalização dos boatos, criando pânico e quiçá tendo consequências traumáticas.

Fonte: JORNAL DO COMMERCIO, via NOTIMP

Foto: Philippe Noret




Receba as Últimas Notícias por e-mail, RSS,
Twitter ou Facebook


Entre aqui o seu endereço de e-mail:

___

Assine o RSS feed

Siga-nos no e

Dúvidas? Clique aqui




◄ Compartilhe esta notícia!

Bookmark and Share






Publicidade






Recently Added

Recently Commented