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Rei sueco usará visita para "vender" jato






Assis Moreira, de Estocolmo

Depois de presidentes e ministros, agora é o rei da Suécia que estará no Brasil, dentro de duas semanas, defendendo os interesses da indústria aeronáutica de seu país para obter o contrato bilionário de fornecimento de jatos de combate para a Força Aérea Brasileira (FAB).

O rei Gustaf XVI afirmou ontem que ficará "extremamente orgulhoso e feliz" se o jato sueco Gripen for o escolhido na competição da qual também participam o francês Rafale, da Dassault, e o americano F-18, da Boeing,para fornecer 36 caças para a FAB. A declaração, durante entrevista a jornalistas brasileiros no Palácio Real, foi feita em um tom quase empresarial, apesar da neutralidade da monarquia especialmente quandose trata de negócios.

Depois de ressalvar que sua posição não é de fazer negociação, o monarca sueco disse esperar que o Brasil "faça a escolha certa", ao ser indagado se haverá algum problema se o Brasil escolher o Rafale, contrariando a preferência da comissão técnica militar que listou o Gripen como favorito. Completando a resposta do rei, a rainha Silvia, de origem brasileira, considerou que seria "maravilhosa" a cooperação entre a Saab, que produz o Gripen, e a Embraer, destacando a "qualidade" dos produtos suecos e a "excelência" do construtor aeronáutico brasileiro.

Os monarcas suecos começam no dia 23, em Brasília, uma visita oficial de quatro dias, coincidindo com a aproximação da data para o governo Lula escolher definitivamente qual aeronave será escolhida para renovar a FAB.

A convite do ministro da Defesa, Nelson Jobim, o rei visitará, na Amazônia, a base militar de São Gabriel da Cachoeira e o projeto de cooperação dos militares com populações locais, incluindo indígenas. "Não estávamos planejando fazer essa visita, pois já fomos várias vezes à Amazônia, mas o ministro nos convidou", disse o monarca.

"Somos uma pequena economia e temos de ser muito precisos", afirmou ele, sobre a tecnologia sueca e a disputa pelo contrato com a FAB, ao mesmo tempo em que lembrou a antiga relação bilateral e a presença da indústria sueca em São Paulo. São mais de 200 subsidiárias no país empregando 50 mil pessoas, "maior do que uma cidade na Suécia".

Ele se declarou "muito orgulhoso de ainda estar na negociação, com outros grandes competidores de grandes nações". E reiterou que "os produtos(suecos) são muito bons, mas também muito eficientes em termos de economia", numa alusão indireta ao preço dos concorrentes, a começar pelo francês, que seria duas vezes mais caro que o sueco.

A moderna monarquia sueca mais e mais encabeça delegações empresariais dopaís na busca de negócios no exterior, ainda mais que a economia sueca continua em recessão. Como o rei disse ontem, "dependemos também de exportações".

A visão em setores do governo de Estocolmo é que o Brasil vai economizar e participar diretamente do desenvolvimento técnico do Gripen. E que não vale gastar demais na aquisição de um Ferrari, que seria o caso do francês Dassault, quando se pode ter um Volvo, que seria o Gripen, oferecendo segurança e qualidade com preço menor.

O casal real visitará também projetos ecológicos e sociais, o que levou à indagação sobre o que pensam sobre o fato de um país, que tem uma dívida social tão grande como o Brasil, investir até R$ 10 bilhões na compra de jatos de guerra. "É uma questão muito difícil de ser respondida. Eu penso que o Brasil está fazendo um grande trabalho de apoio na área social. Não quero entrar em política, então encerro por aqui (a resposta)."

Orei Gustaf enfatizou a importância de cooperação tecnológica bilateral,citando especificamente a área de etanol. Os suecos acham que dá para desenvolver junto com o Brasil tecnologia para utilização plena da cana-de-açúcar, na segunda geração de produção de etanol.

A Suécia importa boa quantidade de etanol brasileiro. Para isso, recebe autorização especial da União Europeia para importar quase sem cobrar tarifa de importação, quando os outros países europeus impõem uma dura taxação sobre o produto.

Orei observou o desenvolvimento "muito grande" da produção offshore de petróleo brasileiro, mas considerou que isso também depende do preço do petróleo. "Talvez para desenvolver esses recursos, o preço (do barril) precisasse ficar em US$ 70". Acima de US$ 100, ele vê incentivos para outras tecnologias.

Na entrevista, o rei manteve sua tradicional prudência nas declarações.Disse que preferia não comentar o apoio do Brasil ao governo do Irã na questão nuclear, mas observou que o tema devia ser tratado "com muito cuidado". "Não sabemos exatamente a ideia do projeto (dos iranianos), o que eles têm em mente", afirmou.

O repórter viajou a convite do governo da Suécia

Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP





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