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Entre a esperança e a desilusão





Apesar das declarações constantes do presidente Lula e do ministro da Defesa, Nelson jobim, em favor do caça francês Rafale, as outras concorrentes não esconderam a surpresa diante da notícia de que a decisão já teria sido tomada pela proposta da Dassault — que continua sendo a mais cara. A posição oficial, tanto da norte-americana Boeing quanto da sueca Saab, é de que a disputa continua, que não há um anúncio oficial do governo, que jobim negou a decisão diante das câmeras. Na verdade, o que a informação da escolha gerou nos outros dois candidatos foi um misto de desilusão e esperança. Desilusão pela falta de transparência, pelo privilégio dado a um dos concorrentes de negociar a oferta em separado, pela mudança nos critérios de avaliação. Esperança pela promessa expressa em um comunicado do Ministério da Defesa, divulgado na quinta-feira, de que o governo “levará em consideração, também, outras informações enviadas pelos governos interessados e pelos proponentes”.

A Saab já se mobiliza, e pretende enviar ao Ministério da Defesa, na próxima semana, um adendo à oferta apresentada em novembro, como um último suspiro. Mas, como a notícia pegou os suecos de surpresa, ainda será preciso espremer a proposta, principalmente nos quesitos preço e offset (contrapartidas), para ver se sai uma oferta melhor do que já foi a “melhor e última oferta”. A Boeing, no entanto, parece menos disposta a mexer em sua proposta sem antes saber do governo brasileiro o que, na verdade, está sendo pedido. “Queria que alguém pudesse me explicar os novos critérios de avaliação. Por que vou mexer no meu preço, se isso parece não estar importando para o governo, que prefere um avião ainda 20% mais caro?”, questionou o gerente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Boeing, Mike Coogins. “Transferência de tecnologia, pelo que entendi, não é mais o principal, nem o preço”, desabafou.

Show mantido
O governo americano mantém a programação de enviar, ainda este mês, um porta-aviões para o litoral do Rio de Janeiro com pelo menos 15 aviões Super Hornet usados pela marinha americana. A demonstração dos caças seria a tentativa final do lado americano. Se, contudo, a decisão aparentemente tomada for irreversível, o show dos F-18 servirá para mostrar o que o governo brasileiro perdeu por um precinho mais camarada.

Mais que uma compra
Em seu primeiro dia de trabalho de fato à frente da representação dos Estados Unidos, o novo embaixador, Thomas Shannon, tentou recuperar a defasagem sofrida pelos últimos cinco meses sem um alto representante norte-americano no Brasil — justamente o período mais crítico da concorrência para a compra dos caças. Em encontro com o ministro jobim, na tarde de ontem, Shannon se empenhou em mostrar ao brasileiro a importância da parceria bilateral em segurança e a sua expectativa de aumentar essa cooperação. A preocupação é mostrar ao governo brasileiro que não só os franceses oferecem os caças “acoplados” a uma estratégia maior de defesa.

Comida, diversão e arte
Para quem assistiu à versão do diretor Fernando Meirelles para o cinema de Ensaio sobre a cegueira, as cenas recentes de pessoas, em desespero, brigando por comida após o terremoto que devastou a capital do Haiti foram como um triste déjà vu. No último sábado, no entanto, cerca de 30 jovens haitianos tiveram a experiência inversa. Após sentirem na pele o que escassez de tudo pode gerar em si próprios e nos que estão à sua volta, eles viram, na tela, a mazela dos moradores de uma cidade atingida por uma “epidemia” de cegueira. A exibição, que foi seguida de uma discussão sobre as semelhanças entre a ficção de Saramago e a realidade dos haitianos, marcou o reinício das sessões de filmes promovidas pela embaixada do Brasil na capital todas as semanas. Hoje à tarde, será a vez da produção brasileira Estômago, que traz o tema da comida como meio de adquirir poder — também outra discussão possível no país arrasado por um terremoto.

Há quem pense, contudo, que a escolha dos filmes até agora não foi muito feliz. Afinal de contas, tudo o que os cidadãos daquele país não precisam é de “mais desgraça”. Já a equipe de diplomatas brasileiros acredita que é pertinente levantar esses temas agora, como forma também de ajudar os haitianos a reconstruírem suas vidas. “Essas sessões de cinema são parte da contribuição da Embaixada do Brasil para a recondução do país à normalidade, o mais rápido possível”, defendeu o embaixador brasileiro, Igor Kipman. Para o próximo sábado, porém, um filme mais “Sessão da Tarde” talvez caísse bem — com pouco mote para discussão, mas alguns bons motivos para risada. Isso os haitianos também precisam.

“Queria que alguém pudesse me explicar os novos critérios de avaliação. Por que vou mexer no meu preço, se isso parece não estar importando para o governo?”

Mike Coogins, gerente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Boeing

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, via NOTIMP





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