NOTIMP - Noticiário da Imprensa - 14/07/2018 / Fundador da Embraer, Ozires Silva, avalia acordo com a Boeing: "Os fracos não vão sobreviver"
#Indústria #Aviação - Fundador da Embraer, Ozires Silva, avalia acordo com a Boeing: "Os fracos não vão sobreviver" ...   Primeiro presidente da fabricante brasileira apostou, no passado, em aeronaves para atender o mercado regional. Atuação da companhia no segmento foi o que atraiu, quase 50 anos depois, a atenção da gigante Boeing. Ele aposta na parceria para o futuro da Embraer ...
Arthur Costa ...
Fundador  e  primeiro presidente da Embraer, o engenheiro aeronáutico Ozires  Silva  relembrou em entrevista ao G1 os momentos mais marcantes da  trajetória  da companhia brasileira e projetou, a partir do anúncio de  acordo com a  americana Boeing, o futuro.
Ele  contou como um nicho de mercado,  negligenciado inicialmente pelas  gigantes da aviação mundial, foi o  trunfo para que a Embraer atraísse a  atenção da Boeing em uma nova  configuração recente do mercado.
Apesar  de reconhecer que qualquer  negociação impõe riscos, para ele, o medo  não pode frear as  possibilidades de crescimento. Ozires defende que a  privatização foi  crucial para a sobrevivência da companhia e, agora,  tornar a Embraer  forte pode assegurar o futuro.
Leia a entrevista na íntegra:
Nascimento da Embraer
Como surgiu a Embraer? Por que o Brasil não fabricava aviões antes e o que fez o senhor pensar que poderíamos produzí-los aqui?
Ozires Silva:  Essa conversa vem lá  de Bauru (SP) e começou quando tínhamos 13, 14  anos. Houve uma  influência grande do aeroporto de Bauru, que atraia  muito a molecada.
Nessa  época, estava terminando a segunda  guerra mundial, 1945, e um alemão  foragido da Segunda Guerra Mundial ,  fabricante de aviões na Alemanha,  se instalou lá no aeroporto. E ele  gostava muito de se cercar de  moleques e eu e o Zico, um amigo, ouvíamos  muito o alemão. Ele  descrevia com muito entusiasmo as maravilhas e  soluções técnicas que  tinha no avião. Com isso ele mudou nossa cabeça,  que pretendíamos ser  pilotos, e ele mostrou que projetar, criar e  construir aviões podia ser  tão interessante quanto voar.
E  normalmente quando vamos a um  aeroclube, sendo jovem, nem pensa em  quem fabricou, só se quer saber de  pilotar né? Aí que fomos  influenciados por isso, ele foi o primeiro a  falar sobre engenharia  aeronáutica, não sabíamos o que era isso.
Passamos  a querer ser engenheiros, tanto o  Zico, quanto eu, que nascemos em  famílias muito humildes e não tínhamos  condição de estudar no exterior.  Não tinha escola de engenharia  aeronáutica aqui no Brasil.
Foi  aí que apareceu a oportunidade  de ingressar na FAB (Força Aérea  Brasileira), em 1947, eu já tinha 17  anos, sendo a idade mínima para  entrar na antiga escola de aeronáutica,  antecessora da escola de  Pirassununga (SP). No primeiro concurso não  passamos.
Começamos  a estudar muito, e o alemão  sempre dizia pra nós "a escada da vida é  muito íngrime e as vezes com  degraus muito altos, vocês falharam no  primeiro porque não colocaram  esforço suficiente".
Estudamos  bastante e fomos  aprovados, em 1948, entramos na antiga escola de  Aeronáutica no Rio de  Janeiro, não era Pirassununga como é hoje. Nos  formamos pilotos,  militares, e começamos carreira, foi uma surpresa  quando vimos a própria  Força Aérea criar o ITA em São José dos Campos
A  criação do ITA fez uma diferença  enorme, nós tentamos entrar no ITA,  mas não podia, tinha que ter pelo  menos 8 anos de serviço .
Nesse  período o Zico morreu em 1955 num  acidente e é como se eu tivesse  ficado banguela, porque faltava aquele  amigo, que a gente trocava  ideias o tempo inteiro de como fabricar  aviões, relembrava as ideias do  alemão.
Em  1958 eu preenchi as condições de  conseguir uma bolsa de estudos da  própria Aeronáutica e ser aprovado no  concurso. Em 62 me graduei como  engenheiro Aeronáutico e fui convidado  pra trabalhar naquela época no  CTA em São José dos Campos, hoje o DCTA.
Olhando  para o meu diploma, no dia 14 de  dezembro de 1962, quando o recebi o  recebi, pensei: "puxa, consegui a  qualificação necessária, que era  justamente a subida da escada que o  alemão falava".
E  aí falei bom o que eu vou fazer,  aí comecei a trabalhar lá no  Instituto de Pesquisas (IPD) [da  Aeronáutica], comecei a conversar com os  colegas, falar que valeria a pena  a gente fabricar aviões. Nesse  período aprendi muito sobre a história  da construção aeronáutica no  Brasil.
Santos  Dumont tinha voado em Paris  em 1906 e a primeira pergunta para  responder foi porque Santos Dumont  fez em Paris e não no Brasil? E ele  mesmo respondeu no livro, em 1919,  que o Brasil não tinha as condições  necessárias para fabricar aviões.
Aí  questionamos na nossa cabeça quais  seriam essas condições, recursos  humanos, capacidade de pesquisas, e foi  aí que a gente pensou que a  concorrência mundial é muito grande e como  vamos vencer essa  concorrência mundial? Aí veio a experiência dos nossos  predecessores,  foram vários pioneiros desde 1910 no Brasil e, na  realidade nunca tinham  tido sucesso, aí surgiu a ideia de descobrir um  tipo de avião que não  era fabricado pelos dominantes no mundo, - Estados  Unidos e França - e  foi aí que descobrimos que com a invenção a jato,  os aviões ficaram  mais velozes, precisando de pistas mais longas,  pavimentadas, uma  estrutura maior que o avião convencional.
Vimos  nas revistas de Aeronáutica,  sobretudo nos EUA, que com a entrada do  motor a jato, 2,4 mil cidades  dos do país deixaram de ter transporte  aéreo e fizemos aviões para  preencher essa dificuldade de aeroportos  não pavimentados, mais curtos,  nas mesmas condições de um jato e foi aí  que surgiu a ideia de fazermos  esse projeto.
Lutamos  bastante, conseguimos  progressivamente conquistar mais colegas da  Força Aérea, tivemos um  ministro que foi uma força enorme, Márcio de  Souza e Mello, assumiu em  1967 o ministério e ele se convenceu que nós  tínhamos razão e o apoio  foi muito grande. Então começamos a demostrar  da "tese", que dizia que é  possível fazer um tal avião que possa  competir com os aviões maiores,  para etapas menores, ligando as pequenas  cidades às grandes.
Começamos a projetar o avião, que recebeu o nome de Bandeirante, e foi o primeiro avião que fizemos.
Ninguém  acreditava, que o pessoal  lá de São José dos Campos, que diziam que  nós éramos os malucos do outro  lado da Dutra, porque a Dutra corta a  cidade, e continuamos  perseverando. O ministro acreditava, cada vez  mais, e um número de  oficiais da FAB começou a acreditar, recebemos  ajuda material, sendo que  muitas unidades da Força Aérea mandaram  equipamentos para nós.
Em  22 de outubro de 1968 o nosso  avião decolou, foi um espanto em São  José. Eu diria que o espanto maior  foi quando o avião pousou, né? Porque  fizemos um avião que decola e  pousa. Usando esse avião como  demonstrador, nós começamos a demonstrar a  tese. A FAB criou um sistema  integrado de transporte aéreo regional,  estimulando a compra desses  aviões por meio do financiamento do BNDES e,  finalmente, em 1969,  conversamos com o ministro que precisávamos de uma  fábrica.
Tentamos  fabricar o Bandeirante em  série e várias empresas se interessaram, aí  propusemos criar uma empresa  no modelo da Petrobras, governo de um lado  e setor privado do outro, de  economia mista, mas em principio foi todo  mundo contra. Até o ministro  ficou em dúvida, mas ás vezes as coisas  conspiram para dar certo:
"Num  domingo, dia 20 de abril de 1969,  fazia seis meses que nosso avião  tinha andado, não tinha avançado em  nada para fazer a produção em  série, quando estávamos trabalhando e o  operador da torre de controle  me perguntou se eu podia receber o  presidente da república porque o  presidente estava indo para  Guaratinguetá e o aeroporto de lá estava  fechado, sendo o de São José a  alternativa.
Tive  a hora ali com o presidente do  Brasil fazendo uma ‘lavagem cerebral’  na cabeça dele de fazer essa  sociedade de economia mista. Na hora ele  não respondeu, mas falou que ia  pensar no assunto.
E  de fato pensou, tanto que no dia 26 de  junho de 1969 ele me chamou para uma  reunião no Planalto com o Ministério. Eu  fiz a apresentação da Embraer  e sua estratégia, que fabricaríamos  vários aviões e venderíamos no  mundo inteiro. O presidente se interessou  realmente e ele preparou a  lei para a criação da Embraer em agosto de 69.  Eu fui indicado o primeiro  presidente da Embraer."
Em  janeiro de 70 começamos a  fabricar no terreno do CTA e foi nesse  momento exatamente o pontapé  inicial. A FAB ajudou encomendando 80  Bandeirante, dando mercado pra  nós. Tem muitos deles voando na própria  Força Aérea. Posteriormente  fomos desenvolvendo outros aviões, tivemos a  privatização da Embraer e  está aí a terceira maior fabricante de  aviões comerciais do mundo,  exportando pra vários países.
Na sua opinião, por que o negócio deu tão certo?
Ozires Silva:  Porque nós começamos  com um sólido apoio do desenvolvimento humano,  falo exceto no Brasil,  porque no brasil parece que tudo depende do governo,  no mundo todo nós temos  que trabalhar com pessoas e essas pessoas têm  que ter a competência  necessária para trabalhar. Nós temos o ITA, não só  pelo ITA, mas a medida  que ganhamos mercado internacional recebemos  propostas de pessoas do  mundo inteiro para trabalhar, e foi assim,  passando para brasileiros, com  ideias próprias, criamos esse sistema de  aviação regional que não  existia no mundo.
Os EUA, sendo o maior mercado, tinha perdido 2,4 mil cidades e essas cidades começaram a comprar nossos aviões.
Privatização
G1: Como foi o processo de privatização? Foi positivo na sua avaliação?
[a companhia foi privatizada em 1994]
[a companhia foi privatizada em 1994]
Ozires Silva:  No fundo uma  companhia é feita com a força do trabalho, produtos,  capacidade de  competir e produtos aceitos no mercado internacional.  Então o que  aconteceu naquela época foi que houve uma crise muito  grande em 1989,  1990, quando uma crise de mercado começou. Por outro  lado, a legislação  no Brasil, nossas leis de modo geral enferrujam,  ficaram recebendo  emendas o tempo inteiro e acabam piorando nossa  atuação, foi o que  aconteceu.
Nós  tínhamos um cenário em 1970 quando  criamos como sociedade de economia  mista, que ela operava como empresa  e, com a lei hoje, com a mesma lei  operada por mudanças , veja o que  está acontecendo com a Petrobras. É  muito difícil gerenciar uma  companhia estatal, é muito difícil ter  êxito. A gente fica esperando  êxito da Petrobras mas não pode porque  ela está impedida por uma série  de restrições legais que o presidente  da Petrobras não pode modificar.
Na  época tomamos uma decisão muito  corajosa, muita gente foi contrária: o  Sindicato dos Metalúrgicos da  região foi absolutamente contra, mas sem  dúvida, acho que tínhamos  razão.
Se deixássemos a Embraer como estatal em 94, tenho certeza que a Embraer não existiria mais.
Passando  para o setor privado ela teria  êxito, teria sua estratégia, foi buscar o  produto que queria, não tinha  controle de preço, como a Petrobras está  submetida. Na realidade, assim  como na democracia, a voz do povo supera  a do governo e assim acontece  na empresa. Ela tem que trabalhar com o  mercado, se ele não responde  positivamente ao produto, pode ter certeza  que vai acabar quebrando.
Acordo Boeing-Embraer
G1: O clima agora é parecido?
[A Embraer e a Boeing negociam a criação de uma joint venture]
[A Embraer e a Boeing negociam a criação de uma joint venture]
Ozires Silva:  Agora foi diferente,  o problema foi externo. Acontece que o mercado  mundial dos grandes  aviões se centrou em duas companhias, sendo a  Boeing e Airbus, e ambas  têm grande suporte governamental, tanto Boeing  dos EUA quanto a Airbus  na Europa. São duas companhias muito potentes,  porque recebem uma ajuda  enorme.
Por  exemplo, só a Embraer tem 3,5 mil  engenheiros para criar aviões novos,  sendo um custo tremendo,  dificilmente uma companhia consegue manter.
Vemos hoje que o Brasil não tem condições de dar apoio para a Embraer.
Vemos hoje que o Brasil não tem condições de dar apoio para a Embraer.
Então  o que aconteceu quando a Boeing viu  que Airbus comprou a nossa maior  concorrente no Canadá, a Bombardier? A  Airbus abriu mais sua  concorrência para o mercado.
Já  estamos vendo uma rejeição de aviões  muito grandes no mundo. Já pensou  um embarque de mil passageiros, a  complicação é muito grande, então a  Airbus viu a oportunidade de entrar  no mercado de aviões menores em  milhares de cidades do mundo, já que  centenas de cidades é que podem  receber os maiores aviões.
Então  com essa compra desequilibrou o  mercado. A Boeing que há bastante  tempo fazia rejeição aos aviões  menores olhou para a Embraer e falou: ‘a  Embraer já tem esse caminho  percorrido, então vamos tentar uma  associação com a Embraer’.
Isso  está sendo discutido agora mas  movido por fatores externos do mercado.  As nossas empresas estão  distribuídas por diversas cidades do Brasil,  tem em Portugal, EUA,  Inglaterra e França. A Boeing viu uma grande  oportunidade de entrar  nesse mercado com um força já existente e  reconheceu que temos uma  equipe bastante desenvolvida, bem nivelado com  o que ela precisa para dar  esse salto para frente.
Não foi proposta da Embraer, foi da Boeing, proposta que está sendo discutida por duas empresas que sabem o que percorrer.
G1: Na sua opinião, essa decisão de agora é tão corajosa quanto foi a da privatização?
Ozires Silva:  Eu espero que sejam  maiores os resultados, a força de venda da Boeing,  sem dúvida é muito  maior e muito mais equipada do que a nossa.
Se  ela trabalhar convicta do produto que  tem pra vender, que vai desde o  avião de 100 lugares até 700, 800  lugares, você pode ter certeza que a  produção da Boeing no mundo vai ser  muito mais longeva.
G1:  Daquela época do Bandeirante,  que veio para suprir uma necessidade de  voos menores, não chegamos ao  esgotamento deste nicho. Ele é o futuro  da aviação?
Ozires Silva: Tanto  a Boeing como a Airbus desprezando,  por força das circunstâncias, o  mercado das pequenas cidades deixaram a  Embraer e a Bombardier  trabalharem livremente, sem pressão de mercado. A  competição ficou  entre elas, mas agora viram que as cidades menores  estão mais  economicamente ativas, com a mobilidade alta, criada pela  necessidade  do passageiro, para que ele não tenha que viajar uma ou duas  horas de  carro para chegar no aeroporto mais. As pessoas não gostam de  grandes  aeroportos, com grandes congestionamentos, gostam de um  tratamento mais  personalizado, e tenho impressão que nós temos essa  chave que está no  mercado internacional. Vamos estar no mercado novo  nessa associação da  Boeing Embraer.
G1: A Embraer vai ter voz nessa parceria?
Ozires Silva:  Basta perguntar para  a Boeing em Seatle (EUA). Eles estão a mais de 7 mil  quilômetros daqui e  vieram para cá por que? Você veja que o interesse  realmente existe e  encontrou um interlocutor ao nível dela.
Quanto  à voz da Embraer na Boeing é um  processo a ser construído e tenho  certeza que com a capacidade dos  dirigentes e funcionários da Embraer  nós temos certeza que essa voz vai  ter valor cada vez maior.
G1: O que diria para quem tem certo receio do acordo com a Boeing?
Ozires Silva: Essas pessoas medrosas, que não gostam do risco, são pessoas em geral que estão imobilizadas, porque o risco é permanente.
Você  pode imaginar que a RCA no século  passado era a maior companhia  eletrônica do mundo e que ela fosse  substituída pela Samsumg da Coréia  do Sul? Quando a RCA estava tranquila  no seu mercado, cruzando os  braços, estavam lá os sul coreanos  trabalhando para derrotá-la e  derrotaram.
De  modo que qualquer passo que você der à  frente você corre risco  inclusive que sua perna não aguente o passo.  Então o risco existe, nós  corremos lá atrás o risco do nosso avião não  voar, corremos risco e  acabamos tendo sucesso.
Ninguém  nasce embutido no sucesso,  para alcançá-lo tem que suar a camisa, tem  que lutar, tem que cometer  erro, corrigir. O risco faz parte do  negócio.
Eu  tinha 13 anos na minha cidade natal,  Bauru e vi numa vitrine que o  gerente colou: "aqueles que não pararam  avançaram tanto que jamais  serão alcançados", então a gente não pode  parar. Claro que tem que ter  cuidado para ter o menor risco, mas para  qualquer nova iniciativa tem o  risco, tudo isso que eu falei pode não  dar certo, mas como podemos  saber que não vai dar certo?
Tem  que tentar fazer, então vamos tentar o  risco ao mínimo possível e é o  que está acontecendo nessa negociação,  que começou há 7 meses, em  dezembro do ano passado. O risco está sendo  avaliado pelos dois lados,  tanto da Boeing quanto da Embraer.
Futuro
G1: Como o senhor vê a Embraer daqui a 20 anos?
Ozires Silva:  Essa é uma pergunta  que me faziam quando criamos a Embraer. Naquela  época diziam que a  Boeing não ia deixar a gente entrar no mercado  americano. “Vocês jamais  vão poder chegar”, diziam.
A maior surpresa do nosso primeiro avião foi realmente quando nós fizemos nossa primeira exportação, foi para o Uruguai.
O fato é que fomos conquistando posição, hoje temos uma posição muito forte nesse mercado e a liderança é da Embraer.
Na  competição entre Embraer e Bombardier,  a Embraer conseguiu dominar  esse mercado e vencer a companhia canadense  com mais intensidade do que  ela podia atacar no mercado internacional.
G1: A Embraer pode dominar o mundo com o acordo?Ozires Silva: Não sei se dominar o mundo, porque podem surgir outros concorrentes, os japoneses já lançaram aviões parecidos com os nossos, os russos, até a Coréia tem avião voando. O cenário está mudando um pouco.
Então a gente não pode pensar só no Brasil. O mercado é livre e competitivo.
G1: O senhor está otimista então com o negócio?
Ozires Silva:  Desejo que a  população procure entender como as coisas estão  funcionando e tenham  confiança na capacidade de decisão da Embraer.  Estamos conversando com  uma empresa extremamente séria, que embora dez  vezes maior que a  Embraer, é igualmente forte.
O  otimista que constrói o mundo. Se você  olhar os processos criativos,  ninguém sabe se a inovação vai dar certo  ou não, mas os corajosos  avançam e vencem, como o Steve Jobs fez a  Apple, como o Google foi  criado. De onde vem tanta informação? A  internet começa a falar já  sobre inteligência artificial, internet das  coisa... Quando poderíamos  imaginar que esse pequeno aparelho que você  tem no bolso pode ligar para o  Japão? Então veja que estamos desenvolvendo  com uma velocidade muito  grande.
Os fracos não vão sobreviver. Só os fortes e queremos que o Brasil seja um dos fortes.
G1: O senhor tem orgulho de ver onde a Embraer chegou?
Ozires Silva: Isso  eu gostaria de perguntar à  população, especialmente para o pessoal lá  da nossa região, do Vale do  Paraíba. Vocês estão orgulhosos ou não de  serem procurados pela maior  fábrica de aviões do mundo? É maior que a  Airbus.
Sinceramente essa pergunta eu gostaria de ter a resposta da sociedade, sem dúvida é um orgulho ver onde a Embraer chegou.
Uma  coisa que começamos do zero em São  José dos Campos, naquela época o  Vale era agropecuário e aparece uma  fabricante de avião que é um  produto muito complexo, das mais diferentes  tecnologias. Vamos das  estruturas materiais, aos sistemas e do domínio  da tecnologia. Estamos  no topo de um negócio extremamente sério e  sobretudo porque envolve  também a area de segurança da vida humana, que é  o item mais importante  a ser considerado.
Acompanhe aqui o Noticiário relativo ao Comando da Aeronáutica veiculado  nos principais órgãos de comunicação do Brasil. O NOTIMP  apresenta matérias de interesse do Comando da Aeronáutica, extraídas  diretamente dos principais jornais e revistas publicados no país.Fundador da Embraer, Ozires Silva, avalia acordo com a Boeing: "Os fracos não vão sobreviver"
Primeiro presidente da fabricante brasileira apostou, no passado, em aeronaves para atender o mercado regional. Atuação da companhia no segmento foi o que atraiu, quase 50 anos depois, a atenção da gigante Boeing. Ele aposta na parceria para o futuro da Embraer.
Por Arthur Costa, G1 Vale Do Paraíba E Região Publicado Em 13/07 - 19h16
Ministro de Temer vai aos EUA avaliar situação de crianças brasileiras separadas dos pais
Ministro dos Direitos Humanos, Gustavo do Vale Rocha, se reunirá com representações da ONU neste sábado. Em junho, governo disse que poderia enviar avião para buscar famílias.
Por Braitner Moreira E Marília Marques, G1 Df Publicado Em 13/07 - 19h39
O ministro  dos Direitos Humanos, Gustavo do Vale Rocha, viaja neste sábado (14) aos  Estados Unidos para avaliar a situação das cerca de 50 crianças  brasileiras separadas de seus familiares quando tentavam entrar de forma  ilegal no país. A informação foi confirmada ao G1 pelo Palácio do  Planalto.
A agenda prevê reuniões em Boston, Nova  York e Washington, com representantes da Organização das Nações Unidas e  da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Apesar dos encontros,  ainda não há uma definição sobre o destino dessas famílias detidas pelo  governo de Donald Trump.
Nas últimas semanas, governantes e  jornalistas de diversos países relataram a dificuldade em obter  relatórios sobre a situação nos abrigos. Em junho, o Ministério das  Relações Exteriores classificou a política imigratória de separação  familiar vigente à época como uma "prática cruel".
Cenário incerto
Na nota enviada ao G1, a  Presidência da República reafirma que está disposta a colaborar com o  retorno das famílias ao Brasil. Antes disso, porém, é preciso saber  quando e se elas serão soltas, e se os grupos têm interesse em retornar  ao país de origem.
JN: Governo dos EUA não cumpre prazo dado pela Justiça para reunir famílias
"Quando houver a liberação das famílias  por parte do governo americano e se houver interesse delas em retornar  para o Brasil, o governo irá colaborar com o transporte dos menores  brasileiros juntamente com seus familiares", diz o comunicado.
Em junho, durante a visita ao Brasil do  vice-presidente dos EUA, Mike Pence, Michel Temer afirmou que estava  disposto a "colaborar" com o retorno das crianças que, naquele momento,  estavam separadas dos pais.
Por que os EUA estão separando crianças de seus pais na fronteira?
Temer chegou a dizer, em conversa  com jornalistas, que um avião da Força Aérea Brasileira poderia ser  enviado aos Estados Unidos para esse traslado. Na nota mais recente,  enviada nesta sexta (13), a Presidência da República não detalha se  pretende recorrer à FAB ou à aviação comercial.
50 crianças nos EUA
A separação de pais e crianças na  tentativa de entrar nos EUA faz parte da política de "tolerância zero"  do governo de Donald Trump contra a imigração ilegal. Os meninos e  meninas retidos estão em abrigos, entre as mais de 2 mil vítimas dessa  medida.
A política migratória americana  estabelece que todo adulto que for pego atravessando a fronteira  ilegalmente deve ser criminalmente processado. Se for capturado, o  indivíduo é levado a um centro federal de detenção de imigrantes até que  se apresente a um juiz.
A política não fala em separação das  famílias, porém, isso acabava ocorrendo na prática já que as crianças  não podem ser mantidas nestes centros de detenção
No mês passado, no entanto, após  repercussão dos casos, o presidente americano cedeu às pressões e  assinou uma ordem para evitar a separação dos imigrantes que cruzarem a  fronteira com o México.
Segundo a nova ordem, famílias imigrantes  que entrarem ilegalmente nos EUA serão detidas juntas. Trump mandou o  Departamento de Defesa tomar as medidas para acolhê-las da forma  necessária.
O que acontece com as crianças?
O que acontece com as crianças?
Quando a medida de separação estava em  vigor, as crianças afastadas dos pais eram designadas pelo governo como  "crianças imigrantes desacompanhadas" e, por isso, levadas para abrigos  sob custódia do governo, sem saber para onde seus pais foram.
Na época, imagens que repercutiram na web  mostraram crianças dentro de grades, dormindo em colchões no chão com  cobertores de alumínio. Em um áudio divulgado em junho, crianças foram  ouvidas chorando ao serem separadas da família.
O arquivo foi entregue à advogada de  direitos humanos Jennifer Harbury por um denunciante. O local exato da  gravação não foi divulgado.
Prazo de vigência da MP dos recursos para atender imigrantes da Venezuela expirou
Da Redação Publicado Em 13/07 - 14h38
Encerrou-se  no dia 9 deste mês o prazo de vigência da Medida Provisória (MP)  823/2018, que abriu o crédito extraordinário de R$ 190 milhões para  assistência a migrantes da Venezuela. O texto chegou a ser aprovado pela  Comissão Mista de Orçamento (CMO), mas não foi analisado pelos  Plenários da Câmara dos Deputados e do Senado.
Quando o  prazo de tramitação de uma medida vence, a comissão encarregada de  analisar o texto deve elaborar um projeto de decreto legislativo que  discipline as relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da MP.  Contudo, de acordo com a Constituição Federal, caso o decreto não seja  editado em até 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia da medida,  ficam mantidas as relações jurídicas constituídas e decorrentes da  vigência do texto.
Logo,  não havendo conversão nem edição de decreto legislativo, as definições  da MP geram por si a consolidação dos seus efeitos. É o que ocorre em  atos jurídicos de efeitos imediatos como é a situação de transferência  de créditos orçamentários.
As  medidas provisórias possuem força de lei, portanto, têm implementação  imediata após a sua publicação. Uma vez recebidas pelo Congresso devem  ser analisadas por comissões mistas e, após terem um parecer aprovado  por esses colegiados, passam à analise dos Plenários — primeiro na  Câmara dos Deputados e depois no Senado.
Aplicação
Aplicação
O  crédito extraordinário determinado pela medida destinou-se ao Ministério  da Defesa para o custeio das ações da MP 820/2018, transformada na Lei  13.684/2018. A nova legislação estabeleceu ações de assistência  emergencial para migrantes e imigrantes em situação de vulnerabilidade  devido a um fluxo migratório provocado por crise humanitária. A lei  criou ainda o Comitê Federal de Assistência Emergencial, para coordenar  as políticas públicas a serem adotadas para atender os migrantes.
Segundo  o governo, a liberação dos recursos se justificou pela necessidade de  atuação imediata das Forças Armadas na operação de acolhida humanitária  no estado de Roraima, com o objetivo de evitar o agravamento do quadro  de vulnerabilidade social. O aumento populacional no estado, devido a  chegada de migrantes provocada pela crise na Venezuela, afetou a  prestação efetiva dos serviços públicos de saúde, saneamento básico e  segurança pública.
Na  justificativa do Poder Executivo para a MP, afirma-se ainda que “a  implantação do controle sanitário e do acolhimento humanitário é urgente  não apenas como medida de atendimento ao grande número de venezuelanos  que chega a Roraima, mas também de proteção à saúde de toda a população  local e de manutenção da ordem pública”.
Nos  primeiros seis meses deste ano, segundo dados da Polícia Federal, cerca  de 16 mil venezuelanos pediram acolhida em Roraima. O número é 20% maior  do que o registrado em todo o ano de 2017, quando foram recebidas pouco  mais de 13,5 mil solicitações.
Aconteceu no Senado: confira os destaques da semana
Da Redação Publicado Em 13/07 - 18h02
Licença-paternidade
A CRE aprovou o aumento da licença-paternidade a militares das Forças Armadas. O PLC 41/2018 segue ao plenário do Senado.
Dyogo de Oliveira: “O BNDES não tem intenção de deixar a Embraer”
Presidente do banco afirma que participação da empresa na JBS pode ser vendida e quer retomar ritmo de concessões de crédito que caíram nos últimos quatro anos
Afonso Benites Publicado Em 13/07 - 17h30
Presidente  do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo  Oliveira diz que a instituição não pretende vender sua participação na  Embraer, que acaba de anunciar um acordo para a joint-venture com a  Boeing no valor aproximado de 15 bilhões de reais. Hoje,  o banco tem 5,4% da empresa de aviação. Em entrevista ao EL PAÍS –  concedida em duas etapas, uma presencial e outra por e-mail –, Oliveira  ressalta, contudo, que não está descartada a venda das ações na empresa  de alimentos JBS, uma das envolvidas no escândalo da operação Lava Jato e  responsável por criar uma das maiores crises políticas da gestão Michel  Temer. O banco é acionista de 21% da companhia controlada pela família  dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Nos  últimos 15 anos, o banco estatal se deparou com uma curva em que houve  um aumento exponencial de concessões de crédito às empresas no Brasil.  Em seguida, veio a queda provocada pela recessão. Mas, após quatro anos  de maus resultados, o banco começa a retomar sua concessão de créditos.  “Ano passado o BNDES financiou 83.000 empresas. Em anos anteriores  chegou a financiar 140.000 empresas”, diz. Em 2017 foram concedidos 70,7  bilhões de reais, patamar semelhante ao de 2007. No período em que mais  financiou empresas brasileiras, em 2013, foram distribuídos 190,4  bilhões de reais. “Temos um estoque a desembolsar de 149 bilhões de  reais nos próximos anos”, afirma.
Às  vésperas de participar da conferência “Infraestrutura para a integração  da América Latina”, na próxima segunda-feira, o presidente do BNDES,  ex-ministro do Planejamento de Temer, tentará convencer empresas  espanholas a investirem no Brasil. No evento, promovido pelo Banco de  Desenvolvimento da América Latina (CAF), Oliveira tem a missão de vender  o Brasil para empresas da Espanha, o terceiro país que mais investe em  território brasileiro, com um estoque de 64 bilhões de dólares.
Pergunta. O BNDESPar continua na Embraer, após a joint venture com a Boeing?
Resposta. O  BNDES não tem nenhuma intenção de deixar a Embraer. Isso nunca foi  discutido. Estamos avaliando essas mudanças todas que estão acontecendo  de maneira bastante positiva. A empresa precisa ter aliança estratégica  com um grande player global, uma vez que seu principal concorrente  [Bombardier, que seu aliou à AirBus] fez esse movimento. É mais ou menos  como você mudar de categoria no boxe. Sair do peso leve para o peso  pesado. A Embraer competia no mais leve. Agora, entrou um peso pesado no  ringue. Não dá para lutar da mesma maneira.
P. O BNDES hoje detém cerca de 21% em ações na JBS. Ainda há o interesse do banco em vender sua participação na empresa?
R.  Todas as nossas ações estão passíveis de alienação. A JBS inclusive.  Evidentemente, que só faremos isso se houver uma oferta vantajosa para o  banco.
P. O senhor foi obrigado a sair do Ministério do Planejamento e vir para o BNDES? O que o motivou?
R.  Foi uma decisão do presidente [Temer] que há época teve a intenção de  deslocar para a equipe do BNDES alguém da confiança dele. Ele gostaria  de valorizar o BNDES. Nesse sentido, ele me convidou e, no meio de uma  mudança importante na estrutura ministerial, eu achei conveniente poder  colaborar com o BNDES e trabalhar nessa instituição valorosíssima.
P. Como está a concessão de crédito às empresas brasileiras?
R.  Estamos tendo até junho um crescimento nas consultas e enquadramentos,  que são as fases iniciais do processo. Estamos com 4% de crescimento em  consulta e 9% de crescimento em enquadramento. Como nos anos anteriores  foram muito fracos, os nossos desembolsos ainda estão caindo. No período  até junho, tivemos uma queda de 17% nos desembolsos. Mas o nosso  estoque de valores a desembolsar que vinha caindo durante vários anos  seguidamente, em junho voltou a crescer suavemente. Temos um estoque a  desembolsar de 149 bilhões de reais nos próximos anos. Tudo está muito  concentrado até meados do ano que vem. A tendência é que haja uma  acomodação e uma retomada do crescimento dos desembolsos do BNDES neste  ano e no ano que vem.
P. Essa queda na concessão de crédito se deve a quê exatamente?
R.  É resultado de três anos seguidos sem crescer e um 2017 em que  crescemos 1%. Isso desacelerou a demanda, principalmente da indústria  para novos investimentos.
P. De que maneira a operação Lava Jato influenciou nessa redução?
R.  Diretamente no banco, as empresas investigadas pela Lava Jato  representam pouco em relação ao montante de recursos que o banco  administra. A questão é mais no impacto no conjunto da economia. Houve  uma desorganização das empresas, que tinham muitos empregados. Isso tem  um impacto econômico que não é desprezível. O elemento principal não é  isso. É a recessão. O elemento que implica na maior parcela pelos  investimentos e impacta nos negócios do BNDES é a atividade econômica.  Uma atividade baixa impacta diretamente em nossa demanda. Agora, essa  reversão em consulta e enquadramento é a sinalização ao contrário.  Muitas empresas passaram a procurar o banco para ver se tem linha de  crédito disponível, apresenta proposta. Essa linha demonstra que está  começando a ter uma retomada de investimento.
P. Qual argumento vocês usam para convencer uma empresa a investir no Brasil?
R.  O Brasil tem um mercado interno muito grande. Em muitas áreas temos uma  demanda revelada, principalmente por infraestrutura. E muitos setores  da economia brasileira vão muito bem: agronegócio, setores exportadores,  mineração, papel e celulose, petróleo. Esses são os que mais demandam  investimentos.
P. Após seguidas quedas nas notas das agências de rating, como está a captação de recursos?
O BNDES  nunca teve dificuldades em captar recursos. Seja no Brasil ou no  exterior. Se não captou mais é porque não precisou. A dificuldade sempre  esteve em repassar os custos de mercado em função do diferencial que a  antiga TJLP apresentava. Como o custo da nova TLP converge para custos  da NTN-B de 5 anos até 2023, isso abre novas possibilidades de captação  no futuro, a exemplo da securitização de recebíveis. A antiga TJLP é uma  taxa administrada repactuável a cada três meses, o que torna a venda de  ativos de crédito em TJLP inviável em função do prejuízo que o banco  teria que incorrer para que os investidores assumissem o risco de  carregamento de uma taxa cuja remuneração pode mudar em função de  decisões de Governo. A securitização não é algo para logo. Estamos  fazendo os ajustes necessários nos contratos para tornar a transferência  de risco viável no futuro, desde que os projetos estejam maduros e  consolidados.
P. Quais projetos estão sendo financiados no exterior?
R.  Importante esclarecer que, por intermédio de suas linhas de apoio à  comercialização no exterior de bens e serviços, o BNDES não financia  projetos em outros países, mas a exportação de bens e serviços  produzidos no Brasil. Em quaisquer das modalidades de apoio à  exportação, não há remessa de recursos para o exterior. Os desembolsos  de recursos são efetuados em reais, no Brasil, diretamente ao exportador  brasileiro, com base nas exportações efetivamente realizadas e  comprovadas. O BNDES financia exportações brasileiras de bens de capital  e aeronaves, há 25 anos, tendo financiado 28 bilhões de dólares nas  operações de comercialização ao exterior deste segmento. No segmento de  serviços, o banco também financiou as exportações brasileiras de bens e  serviços de engenharia para 13 países, englobando cerca de 150 projetos,  no valor total de 10,5 bilhões de dólares, nos últimos 19 anos. Para  bens, aeronaves e serviços de engenharia, foram realizados  financiamentos para 43 países no valor de US$ 48 bi, em 25 anos.  Atualmente o saldo devedor dos financiamentos dos serviços de engenharia  é de US$ 4,2 bilhões e a carteira total possui um saldo devedor  aproximado de US$ 10 bi.
P. E hoje qual é o principal projeto financiado no exterior?
R.  A maior operação que temos hoje é a de exportação de trens e comboios  para a Argentina. O valor aproximado é de 1 bilhão de dólares. O  contrato estava pronto para ser esse mês, mas a Argentina atrasou o  edital para outubro. Só vamos saber quando fecharem a proposta.
P. Quais empresas estão envolvidas nesse contrato?
R.  São empresas instaladas no Brasil, mas são empresas internacionais que  fabricam vagões. Como a licitação está em curso, não posso citá-las  nominalmente para não criar qualquer embaraço.
P. Sobre o porto de Mariel, em Cuba. Qual o valor que o BNDES tem a receber? Qual é o prazo?
R.  No conjunto das operações de financiamentos de bens e serviços para  Cuba, o valor a receber monta cerca de US$ 530 mm, com prazo total  inferior a 18 anos.
P. O  BNDES está discutindo com o Palácio do Planalto o pagamento dos repasses  feitos ao Tesouro. Como está essa questão? Qual é o valor devido?
R.  O BNDES captou com o Governo Federal, entre 2008 e 2014, 414 bilhões de  reais em valores históricos para buscar reverter os efeitos da crise  internacional, em um primeiro momento, e depois para atender as  políticas oficiais de crédito então vigentes. Com a deterioração das  condições fiscais, o ritmo de investimentos que se observava até meados  de 2014 sofreu queda acentuada. Nessas circunstâncias, dada a frustração  de demanda elevada que havia no período pré-crise fiscal, o BNDES  emprestava menos do que recebia de volta de serviço financeiro das suas  operações de crédito. Foi o diagnóstico, revisado periodicamente, de que  a redução da demanda por recursos do BNDES era prolongada é que  justificou o primeiro pagamento antecipado ao final de 2015, o que  voltou a acontecer nos anos seguintes, e nesse ano será de 130 bilhões  de reais. Até o final do ano, o BNDES terá devolvido 310 bilhões de  reais dos recursos originalmente recebidos e o saldo-devedor, estima-se,  deverá ser algo na casa dos R$ 260 bilhões.
P. A ideia é antecipar esse saldo devedor, certo? Ele estava previsto para ser quitado até 2060?
R.  Estava previsto para ser pago entre 2058 e 2060. Estamos redistribuindo  esses pagamentos de uma maneira mais linear e isonômica ao longo desse  período e também reduzindo o prazo. A gente deve, provavelmente, reduzir  em aproximadamente 15 anos. Queremos terminar de pagar em 2045.
P. Qual a importância de reduzir esse prazo?
R.  Primeiro, dá uma previsibilidade maior para o BNDES se adaptar durante  esse tempo, porque não seria nada trivial chegar no último ano e ter 230  bilhões de reais para entregar para o Tesouro. E porque melhora o  desempenho do Tesouro no período, reduzindo a dívida pública. É uma  maneira de encerrar esse capítulo da dependência do BNDES em relação ao  Tesouro. O BNDES tem capacidade, tem acesso a recursos nacionais e  internacionais, não precisa depender do Tesouro para exercer a sua  função de banco de desenvolvimento. E pode fazer isso com seus próprios  recursos e com a captação de recursos em mercado.
P.  Sendo o cargo de presidente do BNDES um cargo de indicação do presidente  da República, qual a garantia que o senhor tem de que esse acordo será  cumprido pelos seus sucessores?
R.  É uma política razoável. É uma decisão correta. Só posso acreditar que  meus sucessores darão sequência em decisões corretas que beneficiem o  país. É claro que a principal decisão cabe sempre ao eleitor escolher  bons governantes que tomem decisões acertadas.
P. Em linhas gerais, o que dá de se fazer até o fim deste Governo, em dezembro?
R.  Até o final do ano temos de consolidar uma série de inciativas de  reformas e ações de controle fiscal que já estão em andamento. A Câmara  acabou de aprovar o projeto de lei das distribuidoras, isso é  fundamental. Cabe ao BNDES conduzir o processo de privatização dessas  empresas, que vai deixar seis Estados com energia elétrica. A falta de  privatização dessas distribuidoras trazia o risco desses seis Estados  ficarem sem energia elétrica. O projeto da cessão onerosa também acabou  de ser aprovado, que é medida muito importante no ponto de vista de  receitas para a União e dinamizar os investimentos. Há uma série de  agendas microeconômicas, que estão dentro de um grupo de trabalho criado  pelo Ministério da Fazenda para o desenvolvimento do mercado de  capitais. Há medidas conduzidas pelo Ministério do Planejamento para  melhorar a gestão pública, inclusive essa medida que permite o  remanejamento dos servidores do Governo, para evitar mais despesas e  novas contratações. Há uma pauta muito densa ainda que pode ser  conduzida até o final do ano que o Governo tem total condição de  conduzir. A própria privatização da Eletrobras que pode avançar alguns  passos.
P. O senhor acha que é possível concluir essa privatização da Eletrobras ainda no Governo Temer?
R. Talvez não seja possível concluir, mas é possível avançar.
P. Mas se não concluir essa privatização agora, volta algumas casas no tabuleiro, não?
R.  Não. Não volta. São coisas corretas, acertadas, que qualquer governante  vai chegar, que qualquer novo Congresso vai chegar e compreender a  importância de se fazer, de se ter o saneamento da empresa. A Eletrobrás  encontra-se completamente descapitalizada, você tem de capitalizar a  empresa, atrair recursos para que ela volte a investir, gerar energia,  volte a cumprir seu papel e se torne uma das maiores empresas de energia  do mundo. A Eletrobrás tem condições plenas e capacidade técnica para  ser uma das maiores empresas de energia do mundo. Só precisa ter uma boa  gestão e um arcabouço legal adequado. É isso que estamos trabalhando  para fomentar.
P. Qual é papel do BNDES para a retomada do crescimento?
R. O  BNDES está passando por um processo vigoroso de transformações. Fizemos  um planejamento estratégico do BNDES para fazer a transição do banco  dependente do Tesouro e de subsídios, para um BNDES que conduz o  processo de desenvolvimento do país através de ações objetivas e de  acessos a recursos para as empresas que agregam o valor e geram  crescimento. Estamos focando, principalmente a área de infraestrutura e a  área de pequenas e médias empresas. Em vertentes que têm inovação  tecnológica, comércio exterior, tecnologias ambientalmente sustentáveis.  Isso exigirá do BNDES uma transformação interna de todos os seus  procedimentos, a digitalização interna do banco e a relação com seus  clientes, o lançamento de novos produtos próprios deste mundo dinâmico  de empresas inovadoras. Ano passado o BNDES financiou 83.000 empresas.  Em anos anteriores chegou a financiar 140.000 empresas. O BNDES precisa  financiar ainda mais. Vamos ter de fazer a mudança de todos os processos  internos de aprovação. O BNDES tinha um único modelo de análise de  projetos. Não havia nenhuma diferenciação no tipo de projeto, de  garantia. Até os projetos não reembolsáveis tinham o mesmo processo.  Agora, estamos segmentando. Várias características serão mais adequadas.
P. Era o mesmo para uma empreiteira como para uma empresa de software?
R.  Sim. O mesmo. Independentemente para quem fosse. Identificamos vários  problemas de duplicação, de aprovações circulares. Agora, com as  mudanças, haverá uma redução de tempo enormemente. O BNDES trabalhava  com uma meta de ter 50% das operações aprovadas em até 180 dias. Com as  mudanças que estamos implementando, serão raras as operações que vão  passar dos 180 dias. Muitas das operações não demorarão nada, serão  automáticas. Nós vamos fazer a pré-aprovação dos clientes e do limite  que cada um pode operar com o banco. Já constitui as garantias e define  as linhas de crédito que cada um pode solicitar. Quando ele decide qual a  linha de crédito, a aprovação será automática. Não vai demorar nada.  Vamos antecipar as análises para que quando o cliente necessite do  recurso ele tenha o crédito quase que de imediato. Muitas linhas para  pequenas empresas já são digitalizadas e online. Por ter fácil acesso a  subsídios do Governo, ao longo de sua história o banco não precisou ser  mais proativo. Sempre foi mais receptivo. Hoje criamos uma área de  “originação” de crédito. Hoje, ele vai mais atrás das empresas, mostrar  seus produtos e que o acesso ao banco está facilitado.
P. O que vocês pretendem com esse encontro do Banco de Desenvolvimento da América Latina, na Espanha?
R.  Evidente que vamos aproveitar o evento para fazer uma extensa agenda de  encontros com empresas espanholas. Muitas que já têm negócios no Brasil  e outras que não têm e manifestaram interesse. Vamos fazer contato com  essas empresas no sentido de municiá-las de informações sobre a  capacidade de investimentos no Brasil e da capacidade que o BNDES tem de  apoiar esses investimentos.
P. Há alguma área específica que o banco está focando mais?
R.  Basicamente, infraestrutura. E principalmente a participação nos  processos de leilão, concessões de todos os setores: energia,  transporte, logística.
P. Leilão e concessão de que, especificamente?
R. Tem  de tudo. Aeroportos, rodovias, ferrovias, energia. Empresas de todos os  setores. O estoque de investimentos espanhóis está acumulado em 64  bilhões de dólares no Brasil. A Espanha hoje é o terceiro maior  investidor no Brasil hoje. Fica atrás dos Estados Unidos e China.
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