Simulador X-Plane reproduz com notável exatidão a experiência de pilotar aviões

Três minutos após decolar do Aeroporto de LaGuardia, em Nova York, o piloto percebe que uma revoada de ganços atingiu seu Airbus A320 a uma altura de 850 metros. A aeronave está a 340 quilômetros por hora e os painéis mostram que a turbinas começam a falhar. O avião inicia uma queda brusca e o piloto decide pousar no Rio Hudson. Mas ele erra ao definir a inclinação do nariz do Airbus e o coloca em rota de colisão com a Ponte George Washington. Nessa hora, em vez de se desesperar, o piloto aperta a tecla P, de pausa, do simulador. Levanta-se, toma um cafezinho e so então retoma sua tentativa de refazer, no computador, a proeza do piloto americano Chesley Sullenberger- que aterrisou no Rio Hudson em 2009, passando 270 metros acima da ponte e salvando a vida das 155 pessoas a bordo.

A sensação de pilotar uma aeronave no simulador X-Plane 10 é o mais próximo a que se chegou, no universo virtual, de reproduzir real de estar a frente do painel do painel de um avião. Lançada em dezembro, a décima versão do simulador de voo profissional mais popular do mundo permite escolher, entre 3000 aeronaves, aquela que se comandar, inclui helicóptero e o ônibus espacial, por mais de 34500 aeroporortos de todos os países. Aprovado pela Federal Aviation Administration (FAA), o órgão que cuida da aviação civil nos Estados Unidos, o programa é tão preciso que é utilizado para treinar pilotos profissionais e pra projetar novas aeronaves. Também é febre entre apaixonados pela aviação que querem aprender a pilotar sem sair de casa.

A versão básica do simulador custa 80 dólares, funciona em PCs Macs e pode ser comprada no site da empresa. Há também aplicativo para celulares e tablets, que simplificam a experiência dos computadores. A edição para profissionais sai por 750 dólares e pode ser usada comercialmente no treinamento de pilotos. Também permite destravar a frame rate (a quantidade de quadros existentes por segundo), o que deixa a imagem ainda mais parecida com a relidade. Essa versão calibra automaticamente os controles desenhados para o programa, como joysticks e cockpits, possibilita ouvir no rádio virtual as torres de controle reais dos aeroportos e habilita o uso em diversos tipos de tela, como as cilíndricas, que imitam o visor da cabine de uma aeronave.

A Laminar Research, que fabrica o software, cria, sob encomenda, joysticks e simuladores de cabines de aviões e helicópteros. Esses dispositivos são usados em treinamentos de companhias como a Boeing e de pilotos militares (é utilizada, por exemplo, pela Marinha americana) e chegam a custar 500000 dólares.

Diz a veja o engenheiro e piloto Randy Witt, um dos donos da Laminar: " O X-Plane não é um jogo. É um programa de engenharia que permite que uma pessoa aprenda a pilotar. Quem decola nele consegue também, em teoria, alçar voo na vida real. é posíivel ainda habilitar o programa para que instrutores acompanhem o desempenho de seus alunos". Para testar um aluno, o instrutor pode programar a ocorrência de falhas duante o voo, como a que fez Chesley Sullenberger no Rio Hudson, e condições extremas, como as temidas tempestades de nuvens cúmulos-ninbos do tipo que derrubou no Oceano Atlântico o Airbus A330 da Air France, em 2009.

Aprimeira versão do X-Plane foi lançada em 1993 pelo sócio de Randy Witt, o também piloto e engenheiro Austin Meyer. Ele sentia falta de um bom simulador para praticar em casa antes de decolar em um novo modelo de avião. "O único que existia era o Flight Simulator, da Microsoft, e eu fiquei bastante desapontado com ele" comentou Meyer. O Flight Simulator é o simulador de voo de maior sucesso comercial, mas é apenas um game e não é aprovado para quem pretende decolar na vida real. A Microsoft interrompeu a rodução do game em 2009, despediu o time envolvido com sua criação e promete lançar uma nova linha de simuladores em breve, com o título Flight, mais realista que a anterior.

Em 1988, Meyer começou a desenvolver o projeto do X-Plane. A principal diferença entre o X-Plane e o Flight Simulator, é a forma como ele recria a física no universo virtual. Os jogos avaliam o ângulo de ataque do nariz, a aceleração, a velocidade, a altitude e o posicionamento das asas. No X-Plane, a aeronave é dividida em 300 partes e são levadas em conta forças exercidas em cada uma delas para definir como se comportam os aviões.

Os games tradicionais de simulação de voo fazem uma imitação mais grosseira das forças envolvidas no voo. O X-Plane determina o comportamento do avião computando centenas de variáveis e levando em conta os dados reais de metereologia daquele exato momento que o programa busca na internet.

Desenvolvido para pilotos profissionais, o X-Plane permite que amadores sintam a emoção de comandar um Boeing, um caça e até aviões do passado. Os pilotos profissionais correspondem apenas 5 % dos 2 milhões de usuários do programa. Os manuais de uso mais avançado do X-Plane, porém, são escritos em linguagem profissional e pouco acessíveis aos leigos. É muito compensador, porém, conseguir decolar e voar em um simulador profissional. Diz Randy Witt "Só existe uma sensação que não conseguimos simular no X-Plane. O frio na barriga que a pessoa experimenta na primeira vez que pilota um avião de verdade".

Fonte: / NOTIMP