Programas de milhagem vivem boom no País, mas reclamações aumentam


BIANCA PINTO LIMA .
As empresas do setor aéreo encontraram nos programas de fidelidade uma importante fonte complementar de receita. Pioneira no setor, a TAM criou seu sistema de pontos em 1993 e hoje possui uma operação separada para o programa, que conta com 8,9 milhões de associados. A concorrente Gol pode seguir pelo mesmo caminho e já estuda transformar o Smiles em uma unidade de negócios.
Entre 2007, antes da aquisição da Varig, e 2010, a emissão de bilhetes pelo Smiles disparou quase 600%. Mas o crescimento dos programas vem acompanhado do aumento no número de reclamações, que envolvem desde a restrição de assentos até o roubo de pontos.
O sistema de milhagem da TAM é administrado desde 2009 pela empresa Multiplus, que abriu o capital um ano depois. No 3.º trimestre de 2011, 12,5 bilhões de pontos foram resgatados pelo sistema da subsidiária, uma alta de 172% ante o mesmo período de 2010. O Smiles também responde hoje por boa parte do faturamento auxiliar do grupo Gol. A receita com o programa teve um crescimento de 17% entre o segundo e o terceiro trimestres do ano passado.
Lançado em 2009, o programa da Azul vem igualmente ganhando espaço, junto com o avanço da companhia no mercado nacional. Ainda bem menor que o sistema das líderes TAM e Gol, o Tudo Azul fechou 2011 com 1,8 milhão de clientes. Mas a expansão ante 2010 foi significativa: uma alta de 42%. Em quase três anos, o programa distribuiu cerca de R$ 40 milhões em prêmios.
Diante da forte expansão na base de usuários, os programas de fidelidade enfrentam agora o desafio de oferecer segurança e agilidade aos clientes. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), o atraso na computação das milhas, a dificuldade em marcar assentos e o roubo de pontos foram os focos das queixas em 2011. O número de reclamações contra os planos cresceu 5% no ano passado em relação a 2010, segundo a entidade.
O médico Renato Azevedo Júnior, por exemplo, começou a planejar suas férias em setembro, e decidiu usar os pontos do programa de fidelidade da TAM para comprar as passagens aéreas. Ao checar o extrato, no entanto, percebeu que 80 mil pontos haviam sido trocados por bilhetes para diversos destinos no Brasil. O fato é que ele nunca viajou para esses locais e nem autorizou as transações.
Com o auxílio de um órgão de defesa do consumidor, Júnior conseguiu reaver os créditos. Um dia após falar com o Estado, na semana passada, ele foi novamente vítima do roubo: 90 mil pontos foram usados na aquisição de quatro bilhetes em um intervalo de poucos dias entre dezembro e janeiro. "Alterei os dados do cadastro e a senha, e mesmo assim voltou a acontecer."
Questionada sobre o roubo de créditos, a TAM informou que os dados de acesso ao programa são de total responsabilidade do cliente e que a companhia adota diversos procedimentos para garantir a segurança das informações. A empresa também orienta que o associado verifique regularmente o extrato e comunique a central de atendimento caso haja irregularidades.
Direito. O advogado da Proteste Thiago Azevedo afirma que o aumento no número de reclamações se deve, em parte, ao crescimento da base de clientes. Ele alerta, contudo, que a concessão de milhas não é um favor das companhias. "Os pontos funcionam como se fossem um crédito. O consumidor gasta e ganha e, portanto, tem direito a eles."
A empresa também não pode impor dificuldades a ponto de o consumidor não conseguir utilizar o crédito. "Ao oferecer um plano de milhagens, a companhia deve possibilitar que o cliente resgate os benefícios com facilidade", diz, lembrando ainda que atrasos na computação das milhas não devem ser tolerados.
Fonte: / NOTIMP
Foto: Mario Ortiz
