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Aeroporto no Piauí consome R$ 25 milhões e ainda não existe

João Domingos .

O Aeroporto Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI), era para ser um terminal futurista e confortável, com pista de 2,5 km. Em vez disso, o que se vê são ferros retorcidos, concreto aos pedaços, tijolos amontoados, tocos de madeira e pregos enferrujados. As obras estão paradas por falta de verba. O aeroporto, orçado em R$20 milhões, já consumiu R$25 milhões e ainda precisa de R$8 milhões para ser concluído, não se sabe quando.

Aeroporto de R$ 20 milhões no Piauí já gastou R$ 25 milhões e ainda não existe

SÃO RAIMUNDO NONATO (PI) - A ideia é que no futuro pesquisadores, estudantes, turistas e curiosos de todo tipo que quiserem conhecer o passado do primeiro homem a habitar as Américas descerão de modernos jatos num aeroporto com pista de 2,5 mil metros, no meio da caatinga, em São Raimundo Nonato, no sul do Piauí, a 503 quilômetros de Teresina. O confortável terminal mescla a arquitetura futurista com um símbolo do passado, que poderá ser visto dos céus pelos que chegam – o desenho de uma capivara prenhe, a primeira mostra dos tesouros arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara.

Por enquanto, no entanto, em vez do terminal em forma da capivara que espera um filhote, quem chega ao aeroporto vê uma carcaça de ferros retorcidos, concreto aos pedaços, tijolos amontoados, tocos de madeira e pregos enferrujados. Isso porque as verbas públicas para a construção do Aeroporto Serra da Capivara seguiram o rumo de tantas outras destinadas a projetos tão ou mais importantes: sumiram. Como sumiu o dinheiro para a edificação de nove quiosques na cidade vizinha de Coronel José Dias, a 30 quilômetros dali (leia abaixo).

O enredo em São Raimundo Nonato tem o perfil das irregularidades detectadas pelas auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e investigações da Polícia Federal nas verbas do Turismo: dinheiro do orçamento público que começou a ser liberado no fim de um governo e vai pingando com critério eleitoral, empreiteira de político contratada e zero de comprometimento administrativo com o projeto de incentivar o turismo.

Um funcionário. O Aeroporto Serra da Capivara deveria ter um custo total de R$ 20 milhões, mas a obra já consumiu R$ 25 milhões e vai precisar de mais R$ 8 milhões para ser concluída – e não se sabe quando. A empreiteira Sucesso, que deverá tocar a obra até o fim, informou que não sabe quando recomeçará a trabalhar na construção do terminal. Por enquanto, mantém lá apenas um funcionário, que faz a vigilância da área. A Sucesso pertence ao senador João Claudino (PTB-PI).

A primeira liberação do dinheiro para o aeroporto de São Raimundo Nonato foi feita em 30 de dezembro de 2002. No penúltimo dia da gestão de Fernando Henrique Cardoso, o governo federal destinou R$ 5 milhões para o futuro aeroporto. Em fevereiro de 2003, já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foram anunciados outros R$ 7,43 milhões, provenientes do recém-criado Ministério do Turismo. O então ministro Walfrido Mares Guia foi pessoalmente ao Piauí anunciar o dinheiro, de um programa chamado Prodetur Nordeste 2. As obras tiveram início em 2004.

Mais à frente, o governo Lula anunciou a liberação de outros R$ 8,33 milhões e o governo do Piauí comprometeu-se com outros R$ 5 milhões de contrapartida. Só a pista ficou pronta. Isso em 2009. Mas, como foi feita com 1.650 metros e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) só homologa pistas para grandes jatos a partir de 2,5 mil metros, a do Aeroporto Serra da Capivara terá de receber mais 850 metros. Por enquanto, a Anac liberou a pista como aeródromo, sem permissão para operações comerciais. Aviões pequenos fazem pousos e decolagens de lá, aproveitando a pista existente.

Emenda nova. Em 2009 foi realizado no Parque Nacional da Serra da Capivara o Congresso Internacional de Arte Rupestre (Global Art), com a participação de mais de 30 países. No entusiasmo da chegada de tanta gente, o governo do Piauí chegou a importar do Recife um orientador de estacionamento de aeronaves. Desde essa época, com ou sem função, Marcos Madeira vai para o aeroporto, onde passa o dia aguardando a chegada de algum avião. Aparecem poucos. Nos últimos oito meses ele parou de receber o salário. Agora, fez um acordo com o governo do Estado, que prometeu pagar o que lhe deve. "Graças a Deus, começaram a pagar", disse Madeira.

Nessa novela de sumiço de verbas, atrasos, início de obras, paralisação, reinício, paralisação, foram feitos novos cálculos para que o Aeroporto Serra da Capivara enfim possa entrar em operação. Precisará de mais R$ 8 milhões.

O dinheiro já está previsto numa emenda parlamentar do deputado Paes Landim (PTB-PI), originária de restos a pagar dos Orçamentos de 2009 e 2010. Paes Landim faz um apelo ao governo federal para que assuma a administração do aeroporto, quando finalmente ficar pronto. "Trata-se de uma área estratégica que não pode ficar ao sabor das mudanças dos governos estaduais."

O ex-governador Wellington Dias (PT), que prometeu por diversas vezes inaugurar a obra, disse ao Estado que os atrasos ocorreram porque as licitações foram feitas em etapas, para a pista e para o terminal. "Isso atrapalhou demais", disse ele.

Da licitação participou também a Norberto Odebrecht, notória construtora de aeroportos pelo mundo. Mas ela foi desqualificada.

Venceu uma pequena construtora, do Piauí, chamada Getel, que desistiu logo depois do início das obras. Finalmente, os trabalhos foram entregues à empresa do senador João Claudino.

Enquanto o aeroporto não fica pronto, os interessados em conhecer as descobertas arqueológicas guardadas no Museu do Homem Americano têm três caminhos a fazer, todos por terra.

Fonte: / NOTIMP

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Arqueóloga comanda luta por aeroporto no Piauí

Responsável por provas da existência do homem nas Américas há 100 mil anos, Niède Guidon diz que é preciso fazer o aeroporto

João Domingos

Responsável por virar as teorias de ocupação do continente americano de cabeça para baixo, a arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon promete não sossegar enquanto São Raimundo Nonato não tiver seu aeroporto. Niède é a cientista responsável pelas provas de que o homo sapiens já vivia nas Américas há 100 mil anos.

"Nesta região está o mais importante sítio arqueológico das Américas, com registro de pinturas rupestres sobre a atividade humana de 40 mil, 35 mil anos", disse Niède ao Estado. "É preciso ter um aeroporto que possa receber os cientistas e pesquisadores, além de turistas de todo o mundo." Hoje, o aeroporto homologado para a descida de grandes jatos mais próximo fica em Petrolina (PE). Depois, são até cinco horas por estradas.

A arqueóloga disse que uma empresa suíça contratada para fazer o levantamento do potencial turístico da região concluiu que com o aeroporto o movimento rumo a São Raimundo Nonato será intenso, porque os sítios arqueológicos lá existentes interessam ao mundo todo. "Nosso público aqui será A e AA e existe lugar até para um hotel seis estrelas".

Para fazer o trabalho de infraestrutura de visitação do parque Nacional da Serra da Capivara, Niède foi a Washington convencer o então presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, a visitar São Raimundo Nonato. Conseguiu. Em seguida o BID liberou US$ 1,4 milhão para a Fundação Museu do Homem Americano fazer as obras de infraestrutura para visitação do parque. "É possível fazer com que tudo aqui fique autossustentável", afirmou Niède.

Fonte:
/ NOTIMP








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