Brasil decide apoiar debate sobre Irã na ONU








 Luciana Coelho.
Luciana Coelho.
O  Brasil vai apoiar o debate sobre uma resolução contra o Irã no Conselho  de Direitos Humanos da ONU, cuja principal sessão do ano começa hoje em  Genebra, e dá sinais de que pode endossar um relator especial para  investigar o país de Mahmoud Ahmadinejad.
 A medida colocaria Teerã na berlinda, designando-a como alvo de especial preocupação do organismo e de uma investigação.
Se apoiar a resolução, o Brasil porá fim a dez anos de abstenção  em votações sobre o Irã nos principais fóruns da ONU para direitos  humanos (Genebra e a Assembleia Geral, em Nova York).
"Estamos considerando [a resolução]", declarou à Folha por telefone a  embaixadora na ONU em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevedo. "Há  vontade [entre Brasil e EUA] de cooperar e conversar."
O Irã não está na agenda oficial desta sessão -o país foi submetido em  2010 à Revisão Periódica Universal, um processo quadrienal de  monitoramento, e rejeitou as principais recomendações do conselho.
Mas os EUA articulam com aliados europeus a apresentação da resolução  nomeando um relator especial ainda nesta semana. O texto, cujo rascunho  já circula, deve ser votado entre os dias 21 e 25, semana final da  sessão.
A posição tradicional do Itamaraty, mantida, é de exaurir as tentativas  de diálogo, alegando que medidas mais duras alienam o país.
Mas, há anos, Teerã se mostra arredia ao diálogo. "A percepção aqui [em  Genebra] é que o Irã não coopera com o sistema. Há seis visitas de  relatores pendentes", disse a embaixadora.
No ano passado, ao justificar seu voto inédito contra a Coreia do Norte,  o Brasil alegou que o país desperdiçou sua "janela de oportunidade" e  "não se engajou" no processo como esperado.
DIÁLOGO
Críticas ao que vê como imposição pelos EUA de textos abertos para  discussão apenas no último momento são justificativa frequente do Brasil  para se abster ou votar contra resoluções que considera "seletivas".
Desta vez, entretanto, mudaram a posição dos EUA e o discurso do Brasil.  A embaixadora afirma que o processo tem sido mais transparente e  inclusivo. Os americanos querem o apoio brasileiro.
A série de abstenções começou ainda sob o governo de Fernando Henrique  Cardoso (1995-2002) e ganhou força retórica com a aproximação entre  Brasília e Teerã sob o governo Lula.
Mas, com a chegada à Presidência de Dilma Rousseff, torturada sob a  ditadura no Brasil, Brasília está sob pressão de entidades pró-direitos  humanos, que veem uma perspectiva de mudança.
"A partir das declarações da presidente de que direitos humanos não são  negociáveis na política externa brasileira, a Conectas espera que o  Brasil copatrocine e vote a favor da resolução", disse à Folha Camila  Asano, oficial de programa da Conectas.
Na próxima semana, a embaixadora Azevedo receberá para almoço a ativista  iraniana e Nobel da Paz Shirin Ebadi, que recentemente enviou uma carta  a Dilma.
No ano passado, o Brasil fez raras criticas a Teerã e recomendou-lhe que  recebesse "relatores da ONU", mas evitou citar especificamente um  relator especial.
Frases
"O Brasil nunca renunciou ao diálogo com  o Irã. Favorecemos seu uso de energia nuclear para fins pacíficos. Mas o  país está demonstrando que está alienado do sistema"
MARIA NAZARETH FARANI AZEVEDO
embaixadora na ONU em Genebra
"Se você pede "deixa eu ir para ver qual  a situação nas prisões, as execuções, proteção a defensores de direitos  humanos" e eles [iranianos] não recebem, tem alguma coisa errada"
MARIA NAZARETH FARANI AZEVEDO
Embaixadora na ONU em Genebra
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP











