Remendo áereo
Pacote da Anac para diminuir a confusão  prevista para os aeroportos no final de ano pode ter vindo tarde demais.
Permanece o fantasma do apagão.
Hugo Marques e Bruna Cavalcanti.
A  Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está sentindo um cheiro de  caos no ar. A ameaça de greve de aeronautas e aeroviários e a animação  das companhias aéreas com o notável crescimento das vendas de passagens  este ano são prenúncio de confusão. Em dezembro de 2006, ano em que a  Aviação brasileira registrou 102 milhões de passageiros, o País conheceu  o que passou a chamar de “apagão aéreo” – multidões se espremendo nos  saguões dos aeroportos, gente dormindo pelos cantos, um sem-número de  voos cancelados e uma coleção de desrespeitos ao consumidor.
De lá para  cá, não houve melhorias significativas nos aeroportos do País, mas o  movimento aumentou. Este ano, o número de passageiros deve saltar para  153 milhões. Só em dezembro, 14 milhões de pessoas tentarão embarcar nos  aeroportos do País. A proximidade das festas de fim de ano e a pressão  dos aeronautas fizeram acender o sinal vermelho para a Anac, que começou  a se movimentar para evitar a reprise do apagão. A dúvida é se faz isto  a tempo.
Na segunda-feira 22, a Anac convocou uma reunião com  representantes das empresas aéreas, Polícia Federal, Receita e  Departamento de Controle Aéreo, para discutir um plano antiapagão.  “Reunimos o setor para que todos estejam preparados e tudo transcorra  com tranquilidade”, disse à ISTOÉ a presidente da agência, Solange  Vieira. Várias medidas foram anunciadas, entre elas a proibição, entre  17 de dezembro e 3 de janeiro, do overbooking, a prática de  comercializar mais bilhetes que o número de assentos. Mas como na vida  real boa parte das vendas de passagens para o Natal e o Ano-Novo já  ocorreu, não é possível avaliar o alcance da determinação.
As empresas  também se comprometeram com a Anac a reacomodar os passageiros em caso  de cancelamento de voo. “O resultado da reunião foi bastante positivo e  estamos preparados para atender à demanda”, promete o diretor de  relações institucionais da Gol, Alberto Fajerman. Já o presidente do  Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, José Márcio Mollo, se  mostra menos otimista e admite que o maior risco de apagão está nos  aeroportos de São Paulo. “Congonhas chegou ao limite, Guarulhos estourou  o limite e não estamos vendo a Infraero fazer nada”, critica Mollo.  Para piorar este cenário, os 85 mil funcionários do setor ameaçam entrar  em greve nas próximas semanas, reivindicando 30% de aumento salarial.
O gargalo nos aeroportos brasileiros não é segredo para ninguém. “A  infraestrutura deles é um desastre, uma vergonha” , disse na semana  passada o diretor-geral da Associação Internacional do Transporte Aéreo  (Iata), Giovanni Bisignani. Ele está preocupado com a falta de  investimentos que ainda pode atrapalhar a Copa de 2014 e a Olimpíada de  2016. “Não vejo progressos e o tempo está passando”, afirmou Bisignani. O  ministro da Defesa, Nelson Jobim, minimizou a crítica, que classifica  como mera “manifestação do setor comercial”. Segundo Jobim, a “visão  terrorista estabelecida pela Iata” é irreal.
Os ministros do Esporte, Orlando Silva, e do Turismo, Luiz Barretto, endossaram, porém, as declarações da Iata. “A Infraero terá que mudar completamente sob pena de oferecer constrangimentos durante o Mundial”, disse Orlando Silva. E há mudanças à vista. Uma das primeiras medidas da presidente eleita, Dilma Rousseff, deverá ser a abertura do capital da Infraero. Dilma apostaria na capitalização da estatal como uma forma de obter recursos para a ampliação e modernização dos aeroportos. A tendência é de que Dilma, ao mesmo tempo, retire do Ministério da Defesa toda a parte civil da área de Aviação, criando uma secretaria especial subordinada diretamente à Presidência.
Fonte: REVISTA ISTO É, via NOTIMP

















