Relato: Avião cai no mar e paralisa Santos Dumont
Aeronave que levaria a apresentadora Xuxa a Recife teve problema no pouso, deslizou pela pista e só parou na Baía de Guanabara
Patrícia Trindade
Rio de Janeiro — Quem pousa no Aeroporto de Santos Dumont, localizado às margens da Baía de Guanabara, no Centro do Rio, tem a impressão de estar fazendo um voo panorâmico: vista para o Pão de Açúcar, para a ponte Rio-Niteroi e para uma parte do centro histórico da capital fluminense. E com emoção garantida. Como a pista é considerada curta (a principal tem 1.323m x 42m) e a cabeceira dá para o mar, os passageiros têm a impressão de que vão aterrissar na água. Para os três ocupantes do jato bimotor Learjet 55 PT LX0, da Ocean Air — que não tiveram os nomes revelados pela empresa —, a tal impressão se concretizou. O avião de pequeno porte deslizou na pista logo depois do pouso, caiu (de baixa altitude) no mar e ficou parcialmente submerso. As três pessoas — piloto, copiloto e um funcionário da Ocean Air — foram resgatadas apenas com ferimentos leves, segundo o Corpo de Bombeiros.
Uma versão para o acidente é de que o pneu traseiro do trem de pouso teria estourado durante a operação e uma das turbinas, parado de funcionar. Segundo testemunhas, o piloto tentou dar um cavalo de pau com o intuito de parar a aeronave, mas acabou caindo no mar. O motivo oficial, no entanto, está sendo apurado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e deve sair em até 90 dias.
Mergulhadores
Apesar de a queda do avião ter sido provocada provavelmente por falha mecânica ou eletrônica, o acidente reacende o debate sobre a segurança da curta pista do Santos Dumont. Atualmente, o aeroporto atende apenas a voos regionais, principalmente a ponte aérea Rio-São Paulo. A maioria das rotas foi transferida para o Galeão, mas ainda assim esse é um dos terminais mais movimentados do Brasil. Segundo a Infraero, o Santos Dumont registrou, em 2009, volume de 97 mil aeronaves — número maior do que o registrado em aeroportos maiores e com mais pistas, como o de Confins (MG) e o Salgado Filho (RS), que receberam 70 mil e 79 mil voos, respectivamente.
O resgate do Learjet durou cerca de oito horas. O acidente aconteceu por volta das 9h15 (horário de Brasília). Testemunhas que tinham acabado de embarcar no catamarã que faz o percurso entre o Rio de Janeiro e a vizinha Niterói viram quando o avião deslizou e só parou no mar. Mergulhadores e lanchas do Grupamento Marítimo e dos Bombeiros participaram da operação. A Infraero contratou um guindaste e uma carreta de contrapeso para fazer a retirada do equipamento.
Transtorno
Durante todo o dia, a pista principal sofreu paralisações, mas o aeroporto continuou operando com as secundárias. A Infraero suspendeu todas as operações a partir das 16h para garantir a segurança dos trabalhos de remoção, mas voltou a operar após a retirada da aeronave, às 17h. Até o início da noite, foram registrados 65 cancelamentos de voos. Das 109 chegadas previstas, 33 foram canceladas. Das 117 partidas, 32 acabaram canceladas.
Segundo o diretor de Operações da Ocean Air Táxi Aéreo, comandante Ricardo Santos, uma falha mecânica ou eletrônica fez com que o piloto perdesse as indicações de instrumentos e a comunicação com a torre de controle ainda durante o processo de decolagem. O plano de voo da aeronave incluía uma parada no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão, onde a apresentadora Xuxa Meneghel embarcaria para Recife para participar de um desfile. Xuxa embarcou por volta das 15h e chegou à capital pernambucana no fim da tarde. O fretamento do Learjet para um percurso como este custa cerca de R$ 14 mil.
Cavalo de pau ajudou
Rio de Janeiro — De acordo com o diretor de Operações da Ocean Air Táxi Aéreo, comandante Ricardo Santos, o piloto percebeu alguma falha logo depois de decolar. Ficou cerca de 5 minutos no ar e então retornou ao Santos Dumont, quando ocorreu o acidente. “Foi uma operação segura, mesmo com a aeronave tendo parado no quebra-mar, a 2 metros da cabeceira da pista. Foi um pouso de emergência seguro”, diz Santos. A Ocean Air estima que a aeronave avaliada em US$ 10 milhões provavelmente teve perda total. Dentro de 5 dias, a empresa deve divulgar um laudo extraoficial com as causas do acidente, mas o documento só pode ser emitido pela Aeronáutica. O prazo previsto é de 30 dias, mas pode ser prorrogado por mais 60.
Ricardo Santos confirmou que o piloto deu um “cavalo de pau” antes de ultrapassar os 1.323 metros da pista. “Uma aeronave como essa não precisa de mais de 800 metros para realizar o pouso. Não foi por falta de pista. Houve algum problema”, acredita o diretor. “Depois de pousar, o piloto percorreu 150 metros e percebeu que o avião ia cair no mar. Ele deu um cavalo de pau, mas o avião caiu dois metros depois da pista, dentro da baía.”
A aeronave é de 1986 e passou por inspeção em março deste ano, segundo Ricardo Santos. Logo depois do acidente, piloto, copiloto e o funcionário da empresa abriram a porta da aeronave e sairam caminhando, já que o avião estava parcialmente submerso e perto da contenção de cascalho que cerca a pista. Ainda de acordo com Santos, o piloto tem 40 anos de experiência em voos. Tanto ele quanto o copiloto estão suspensos por pelo menos uma semana, quando deverão fazer exames médicos e psicológicos. Se forem aprovados, podem voltar a voar.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, via NOTIMP
Foto: Mariordo Ortiz