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Guardiãs dos ares





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Com indumentária típica da aviação, macacão, botas e óculos estilo aviador, Ariane e Juliana encaram as lições pelos céus do Brasil. Elas se sentem responsáveis por fazer um bom trabalho para que outras mulheres tenham as mesmas oportunidades.

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Na atual fase de estudo, as aviadoras se dedicam aos planos de navegação, fazem voos solos ou acompanhadas de instrutores.

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Juliana França desistiu do vestibular para Medicina pela aviação militar.

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Ariane Bastos pretende trabalhar na área de transporte aéreo na região amazônica.

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Irmã Rita, hoje, aos 84 anos, está há cinco sem pilotar. Á última vez que controlou uma aeronave foi em 2005, quando voou para a realização de reportagem sobre sua trajetória.

Elas são bonitas, vaidosas, profissionais e apaixonadas pela força aérea brasileira. Juliana Grança e Ariane Bastos são "Amelias" da aviação militar

O macacão verde, a segunda pele dos aviadores, pode até esconder a silhueta, porém expõe o orgulho e o amor dessas duas mulheres pela aviação. Com 24 anos de idade, as aspirantes Juliana França e Ariane Monteiro Bastos são alunas do Curso de Especialização Operacional, realizado na Base Aérea de Fortaleza.

A delicadeza se reveza com o profissionalismo e a determinação que essas duas aviadoras apresentam. Na corporação, nada de ser o sexo frágil. Elas são tratadas da mesma forma que os homens, guardadas as devidas diferenças físicas, que não são motivo de discriminação nem de favorecimento.

"O curso não é diferente para homens e mulheres. A missão é a mesma. As oportunidades, também. O curso não é fácil, mas vale a pena", declara Ariane. Natural da cidade de São Vicente, em São Paulo, desde pequena a garota tem fascínio pela aviação.

Aos sete anos, a aspirante já fazia parte dos escoteiros do ar. Diferente de muitos colegas que foram influenciados por familiares militares, a paixão de Ariane pela Força Aérea surgiu naturalmente. "No 3° ano do Ensino Médio, decidi que seria aviadora. Tinha o desejo, a paixão e estudei muito para isso. Fiz a prova duas vezes até conseguir", lembra com orgulho.

Com Juliana foi semelhante. Aficionada por decolagens, aterrissagens e manobras, aos cinco anos, ia ao aeroporto da cidade na companhia do pai só para observar o movimento das aeronaves. Essa pernambucana de Recife estava inscrita no vestibular para o curso de Medicina quando decidiu tentar ingressar na Aeronáutica.

Os pais apoiaram a decisão e, mais que isso, ficaram muito orgulhosos com a aprovação da filha. Hoje, ela virou referência em casa e influenciou o irmão, que se formou como cadete, e está tentando convencer a irmã mais nova a também seguir a mesma carreira.

Femininas

Minoria numa turma com 53 homens, as aviadoras não se deixam intimidar e ostentam, de forma comedida, as diferenças do gênero. A palavra de ordem é discrição. Seja na maquiagem ou nos acessórios.

Com os uniformes, já se acostumaram, até gostam, pois é símbolo de qualquer aviador. E ainda são confortáveis. Sem falar de que estão na moda, assim como os óculos escuros típicos da profissão.

Juliana não deixa de usar batom, por exemplo, mas unhas pintadas de vermelho só nas férias. Ariane prefere o lápis de olho e não esconde o anel de noivado. As duas namoram com militares lotados na região da Amazônia e quando têm folga, voam para casa ou para junto dos amores, afinal, "a aviação civil está aí para isso", explica Juliana de forma bem humorada.

As aviadoras se depararam também com outro papel dentro da Aeronáutica: servir à pátria. "Terminando o curso, quero seguir na área de transporte aéreo e servir na Amazônia. Na região, há comunidades muito carentes e, se não fosse a FAB prestar auxílio, ninguém prestaria", revela Ariane, que pretende se dedicar à função pelos próximos cinco ou sete anos.

Juliana está em dúvida entre as atividades de transporte e reconhecimento. "Gosto muito da defesa do espaço aéreo, de monitoramento, porém também da possibilidade de trabalhar com transporte e auxiliar vítimas de enchentes, levando suprimentos", exemplifica.

Independente do caminho escolhido, elas têm consciência da veia humanitária da aviação: "Em tempos de paz, nossa missão é prestar apoio", afirma Juliana.

Fique por dentro
Curso de aviação

Desde 2007, o 1°/5° GAv (grupo de aviação), Esquadrão Rumba, de Fortaleza, recebe alunos do curso de Especialização Operacional para pilotos. Até o momento, nove mulheres já estudaram aqui. Este ano, somente duas compõem a quarta turma do curso. Para chegar a esse estágio, os aspirantes precisam passar pela formação básica. Segundo o tenente aviador Alle, oficial de Comunicação Social, os jovens pilotos passam quatro anos num regime de internato na academia. Durante esse período, eles têm contato com aeronaves do modelo T-25, com as quais aprendem a decolar, aterrissar e fazer manobras. Somente no último ano podem pilotar um T-27, Tucano, o mesmo tipo de avião utilizado pela Esquadrilha da Fumaça. No curso de Especialização, os aviadores entram em contato com o C-95, Bandeirante. Concluído o treinamento, os aviadores podem escolher entre três áreas: transporte, reconhecimento e patrulha.

Cearenses de asas e sonhos

Elas também deixaram seus nomes registrados na história da aviação e da emancipação feminina pelos lados de cá. Hellyett Siqueira Walker e Rita Barroso de Albuquerque, cada uma, em seu tempo, enfrentou os entraves sociais para dar asas ao sonho de voar.

A primeira, aos 17 anos, fugiu de Fortaleza disfarçada de homem na terceira classe de um navio para ingressar na aviação civil no Rio de Janeiro, onde tirou sua licença para voar, ainda nos anos de 1940.

Segundo a historiadora Gertrudes Costa Sales, Hellyett embarcou com o nome de Heitor Sales, entretanto, foi logo descoberta. Mesmo depois de ser detida pelo pai, Raul Walker, a jovem não desistiu do sonho. A determinação foi tamanha que ele teve de conceder a sua bênção para o desejo da filha.

O amor pelo avião não era o único dessa aviadora. Em plena efervescência da II Guerra Mundial, ela queria voar mais alto e servir na Cruz Vermelha quando conseguisse obter o brevê, em uma demonstração de que pilotar um avião não era um mero capricho, mas, literalmente, o veículo para exercitar a solidariedade.

Esse mesmo sentimento de altruísmo faz parte da história de vida de outra aviadora nascida em terras alencarinas: Rita Barroso. Irmã Rita foi a primeira mulher a tirar um brevê em nosso próprio Estado, em 1942. Aos 16 anos, era a única dama com permissão para decolar no Aero Clube do Ceará.

Hoje, aos 84 anos, Irmã Rita não passeia mais pelos ares, porém dá continuidade à sua missão maior com obras sociais na congregação religiosa Missionárias de Jesus Crucificado, em Campinas, no Estado de São Paulo.

No ano de 2005, após mais de 50 anos sem pilotar uma aeronave, ela experimentou o prazer de cruzar o ar novamente. "É como andar de bicicleta, a gente nunca esquece", declarou ao Diário do Nordeste, em 2006, quando esteve em Fortaleza para celebrar os 80 anos de vida.

Nos tempos áureos, Irmã Rita pilotava aviões monomotores Cesna, Piper e HL. As aeronaves tinham capacidade para até quatro pessoas. As distâncias não eram tão longas, como as rotas de Amelia Earhart, mas ela lembra que conseguiu chegar à cidade de Natal.

Questões de gênero à parte, o exemplo que as aviadoras do presente e do passado nos deixam é de que vale a pena perseverar na busca de um sonho. Para tanto, elas tiveram que enfrentar o preconceito da sociedade, da família, ou simplesmente a concorrência masculina, no entanto, não desistiram e deixam suas contribuições para a memória do Estado. (NR)

NAIANA RODRIGUES
Especial para o EVA

Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE, via NOTIMP




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