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Aeroporto internacional de Natal





Trampolim da Vitória. Esse é o apelido do aeroporto internacional de Natal, que serviu de base aérea na 2ª Guerra Mundial

LETICIA SIMÕES

O Aeroporto Internacional Augusto Severo, localizado em Parnamirim, a 18 km de Natal (RN), traz consigo uma história peculiar. Antes da atual estrutura, o local serviu como base aérea das tropas norte-americanas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O ponto foi escolhido por sua localização estratégica, já que, segundo análises feitas pelos Estados Unidos, a região de Parnamirim era a distância mais curta para a travessia aérea sobre o oceano Atlântico. Daí a origem do apelido “Trampolim da Vitória” recebido pela base. O destino das tropas era o continente africano e o objetivo era a missão de patrulhamento nos mares que circundavam a África, pois submarinos alemães e italianos trafegavam naquela região.

A construção da Bant (Base Aérea de Natal) teve início em 1942, com a declaração do estado de guerra do governo brasileiro contra Alemanha, Itália e Japão, tratados à época da Segunda Guerra Mundial como países do Eixo. Aparecido Camazano Alamino, coronel-aviador da reserva da FAB (Força Aérea Brasileira), tornou-se um historiador aeronáutico e conhece bem a história da base potiguar. “A Bant é de suma importância para a aviação brasileira, pois sua história e a do aeroporto Augusto Severo se confundem, tendo em vista que sempre operaram em paralelo e apoiaram um ao outro.” Alamino escreve em revistas especializadas e é considerado um expert no assunto pela FAB.

Alamino remonta a construção da Bant. “Foram erguidas centenas de edificações para possibilitar todo tipo de apoio. As duas pistas de pouso foram asfaltadas, com a resistência requerida pelos norte-americanos, para a operação de aeronaves de grande porte. Um enorme pátio de estacionamento foi construído, com capacidade para comportar mais de 500 aeronaves ao mesmo tempo.” A construção levou cinco meses e as atividades da Bant tiveram início em 1942.

O texto do decreto-lei de criação da Bant previa que a base fosse guarnecida, inicialmente, com um corpo de base aérea constituído por militares recrutados e transferidos de outras unidades da FAB. A base incorporou uma Companhia de Infantaria de Guarda para ealizar a sua segurança. “A estrutura possuía instalações para propiciar o apoio de alimentação, alojamento, manutenção de aeronaves, material bélico, saúde – fora construído um hospital – e as demais atividades administrativas e operacionais necessárias para a atuação em um estado de guerra”, descreve o coronel.

Segundo ele, todo esse cenário motivou o governo brasileiro a criar uma base de apoio para assumir, gradativamente, as ações de defesa e de patrulhamento da área. “A base brasileira passou a ocupar o lado oeste da base norte-americana. Com a declaração do estado de guerra, houve a necessidade de um incremento das ações bélicas do Brasil, com a utilização de aeronaves da FAB, que foram destinadas à nova base.”

Fernando Hippólyto, coronel aviador da reserva da FAB, afirma que o aumento bélico para a base brasileira foi um pedido do presidente Getúlio Vargas ao presidente norte-americano Franklin Roosevelt. “Eles se reuniram para definir qual seria o apoio do Brasil aos aliados (referência à aliança militar que compreendia os países que lutavam contra Alemanha, Itália e Japão). Vargas disse que o país não possuía força armada suficiente para a implantação da base. Foi então que os Estados Unidos enviaram navios de guerra e aviões novos. Assim, conquistaram a permissão para utilizar as instalações de Natal.” Hippólyto já rodou o país ministrando palestras sobre a Bant.

“O movimento Natal-Base Aérea era tão expressivo que os norte-americanos asfaltaram a estrada de acesso e fizeram um gasoduto para o transporte dos combustíveis, que eram desembarcados no Porto de Natal e bombeados para a Bant. O objetivo era abastecer as aeronaves que lá operavam ou faziam escala com destino à África ou aos Estados Unidos”, afirma Alamino. A travessia entre Natal-Dacar (África) levava um dia ou uma noite inteiros.

A Bant tinha uma rotina intensa. De acordo com o coronel Alamino, a base funcionava por 24 horas com a chegada e saída diárias de, aproximadamente, 800 aviões com destino a Dacar, ou que regressavam aos EUA. “As visitas estavam totalmente proibidas, tendo em vista o estado de guerra e os cuidados necessários para evitar as atividades de sabotagem e de espionagem do inimigo. Somente as pessoas ligadas diretamente à FAB ou à Usaaf (Força Aérea do Exército Norte-Americano) eram autorizadas a frequentar ou trabalhar na grande base”, diz.

Segundo o coronel, os norteamericanos utilizavam diversos tipos de aeronaves, como a Douglas C-47 e C-54 e a Curtiss C-46. “Elas transportavam cargas estratégicas para a frente de batalha, como armamentos. Havia também aeronaves operacionais, notadamente aparelhos de bombardeio de grande porte, que possuíam autonomia para cruzar o todo o oceano Atlântico.”

Dificilmente as aeronaves que partiam de Natal transportavam delegações. O transporte de militares norte-americanos feridos fora realizado em raras ocasiões. Os soldados brasileiros que combateram na Segunda Guerra embarcavam e desembarcavam no Rio de Janeiro, com destino à Itália.

O coronel Hippólyto destaca que a presença norte-americana em Natal mudou a rotina da população. “Os costumes foram sendo transformados. Shorts, camisas coloridas, vestidos sem manga, chicletes, óculos Ray Ban, nada disso fazia parte do cotidiano natalense e foi introduzido na cultura local pelos militares norte-americanos.” Foi nesse período, segundo Hippólyto, que Natal conheceu novos ritmos como o foxtrot e o swing. “O funcionamento da base impulsionou também o comércio, pois os militares traziam grandes quantidades de itens variados, como cigarros, e revendiam na cidade.”

Para ele, os militares brasileiros também foram favorecidos pela presença norte-americana. “No quesito segurança, o Brasil cresceu muito, pois os soldados norte-americanos repassaram táticas de guerra e instruções de utilização dos aviões que movimentavam a base.”

Com o final da Segunda Guerra Mundial, vencida pelos Aliados, os norte-americanos entregaram o lado leste da base, com todas as suas edificações e infraestrutura, para a FAB. “O aeroporto de Natal passou a utilizar a estrutura, como pistas, pátios e uma pequena estação de embarque e desembarque de passageiros, que ficava no extremo sul do enorme pátio de estacionamento da Bant”, diz Alamino.

Hoje, o principal foco da Bant é a instrução de pilotos de caça e de helicópteros da FAB. “Um esquadrão operacional de caça também atua na base. São utilizados os últimos jatos Embraer (EMB-326GB/ AT-26 Xavante) da FAB, responsáveis pela defesa aérea do Nordeste brasileiro”, completa o coronel. O Esquadrão Pacau passou a operar na Bant a partir de 2002. De acordo com a FAB, a unidade cumpre missões de caça e ataque.

Atualmente, a Bant é sede de três unidades aéreas do GAV (Grupo de Aviação). Também estão sediados na área o 1° e o 3° Grupos de Comunicação e Controle, o Esquadrão Morcego, responsável pelo suporte às operações aéreas, o Gite (Grupo de Instrução Tática Especializada), que ministra o curso de Tática Aérea, a FAE-1 (Primeira Força Aérea), coordenadora dos esquadrões de instrução da Força Aérea, e o DTCEA-NT (Destacamento de Controle do Espaço Aéreo).

Passageiros

Os primeiros traçados do que viria a ser o aeroporto de Natal tiveram início em 1946, com a inauguração da Estação de Passageiros da Base Aérea de Natal. O local servia exclusivamente à aviação militar. “Seis anos depois, a estação de passageiros foi elevada à condição de aeroporto internacional, em 24 de novembro de 1951. A administração do aeroporto passou a ser responsabilidade da Aeronáutica, por meio do extinto Departamento de Aviação Civil”, diz Usiel Paulo Vieira, superintendente do Aeroporto Internacional Augusto Severo. A partir de 1980, o terminal passou a ser administrado pela Infraero.

De acordo com Vieira, a necessidade de um terminal civil surgiu para que a circulação de passageiros pela área militar fosse interrompida. “Os poucos civis que passaram pela Bant estavam ligados aos esforços de guerra. A situação mudou com o fim do conflito, e o comando da base, com os dirigentes das companhias de aviação comercial, percebeu que seria necessário um terminal para atender à população em geral”, diz o superintendente.

Na opinião do coronel Aparecido Camazano Alamino, a rica história da Bant fica restrita ao âmbito regional. “Infelizmente, esse importante cenário da aviação brasileira é muito pouco conhecido por pessoas que não pertencem à FAB, como também, pelas novas gerações. Os estrangeiros admiram e conhecem muito mais a história da Bant do que a maioria dos brasileiros”, afirma.

Em 1997, a Comubia TriStar Filmes do Brasil lançou a película “For All – O Trampolim da Vitória”. O filme narra a convivência entre os natalenses e os soldados norte-americanos instalados na Base Aérea de Natal e como esse convívio alterou os hábitos locais, durante o período da Segunda Guerra Mundial.

Raio X

Aeroporto Internacional Augusto Severo Aviação civil
Pousos diários: 26
Decolagens diárias: 26
Aviação militar
Média diária: superior a 100 pousos e decolagens
Destinos nacionais (voos diretos)
Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Recife, São Paulo, Campinas, Fortaleza, Aracaju, Belo Horizonte e Fernando de Noronha
Companhias que operam nos destinos nacionais
TAM, Gol, Webjet, Trip e Azul
Destinos internacionais (voos diretos)*
Lisboa (Portugal) e Amsterdã (Holanda)
* A partir de julho, o aeroporto passa a oferecer voos com ligação direta para Miami (EUA)
Companhias que operam nos destinos internacionais
TAP: cinco freqüências semanais
ArkeFly: uma freqüência semanal
Fonte: Superintendência do Aero porto Internacional Augusto Severo

INFRAESTRUTURA
Terminal passará por reforma

A atual estrutura do Aeroporto Internacional Augusto Severo é composta por um terminal de passageiros com 12 mil metros quadrados, quatro pontes de embarque e desembarque, pátio de estacionamento para a aviação civil, com capacidade para dez aeronaves, e pátio de estacionamento para a aviação geral e executiva, com 16 posições. O aeroporto possui ainda um terminal de cargas de 1.780 metros quadrados, com áreas segregadas para importação e exportação e carga nacional. A capacidade de armazenamento é de, aproximadamente, 220 toneladas diárias.

A área do aeroporto é compartilhada com a Bant (Base Aérea de Natal). “A Infraero administra o aeródromo e realiza as manutenções dos sistemas para a sua operacionalidade. À Bant, cabe o controle de tráfego aéreo, com a coordenação de toda a movimentação aeronáutica do local, além das manutenções e intervenções necessárias”, diz Usiel Paulo Vieira, superintendente do aeroporto.

De acordo com o dirigente, o terminal passará por reformas. Estão previstas a ampliação das salas de embarque e desembarque doméstico e internacional, a criação de dez novos balcões de checkin, nova entrada para as salas de embarque, aumento das áreas públicas para a circulação e a adequação e substituição de equipamentos. “Com as intervenções, aumentaremos a capacidade de processamento de passageiros em mais de 60%, melhorando o conforto e a segurança dos usuários”, afirma Vieira.

Segundo o superintendente, a participação do aeroporto na logística nacional ainda é pequena. “A área de logística de carga não é tão expressiva, já que os grandes volumes estão centralizados nos hubs (aeroportos que agrupam sedes e hangares de empresas aéreas, concentrando maior número de voos dessas instituições) do país”.

Quando o assunto são os voos comerciais, o terminal se destaca. “O aeroporto de Natal está em uma posição estratégica, pois está localizado próximo aos grandes centros consumidores do mundo, como Europa e América do Norte. Somam-se ainda o turismo e a infraestrutura favorável a essa atividade. Por isso, o terminal fica em evidência no quesito movimentação de passageiros domésticos e internacionais”, diz Vieira.

Segundo dados da Infraero, o aeroporto de Natal ocupa a 10ª colocação em voos internacionais e a 17ª colocação em movimentação de passageiros domésticos e internacionais, entre os 67 aeroportos administrados pela empresa.

Fonte: Revista CNT do transporte, via NOTIMP




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