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Brasil testa a sua força; Dilma chega aos EUA para 'manutenção da parceria'

Presidente brasileira desembarca hoje na maior economia do mundo, disposta a impor o peso político do país em encontro com Barack Obama. Síria, Irã, pré-sal, leilão do sistema 4G e, sobretudo, comércio dominarão o encontro .

ROSANA HESSEL .

A presidente Dilma Rousseff será recebida amanhã na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sem as honras de chefe de Estado — nem mesmo um esperado jantar da brasileira com o líder da maior economia do planeta está previsto na agenda oficial. Mas, ainda que o tapete vermelho não seja totalmente estendido, e apesar da curta duração — apenas dois dias —, a primeira visita de Dilma a Obama, em retribuição à viagem feita ao Brasil pelo colega norte-americano, em março de 2011, tem grande alcance político, em razão dos interesses dos dois lados.

Dentro do governo brasileiro, o pragmatismo é grande. A despeito de a relação entre as duas maiores democracias das Américas ter melhorado recentemente e do desejo de Brasil e Estados Unidos se tornarem aliados no sentido amplo da palavra, não há uma causa comum realmente forte, ou mesmo um momento mágico pessoal entre Dilma e Obama, que leve a uma maior aproximação. "Ninguém está esperando um acerto total entre o Brasil e os EUA. Há diferenças dos dois lados, que sempre vão existir. O importante é que tanto a presidente Dilma quanto Obama estão conscientes de que precisam estreitar laços, porque há vantagens para todos. Não apenas do ponto de vista político, mas também do econômico", diz um ministro brasileiro.

Dilma já avisou que está disposta a tratar com o norte-americano de temas de maior peso, como o Irã e a Síria, reforçando a influência que o Brasil ganhou no contexto internacional — o que os EUA insistem em não reconhecer plenamente. Também serão colocados na mesa acordos bilionários na área de defesa, a exploração de petróleo na camada do pré-sal, o leilão do sistema de comunicação 4G e, claro, formas de melhorar o comércio entre os dois gigantes. Ao longo dos últimos anos, os Estados Unidos deixaram de ser o principal parceiro comercial do Brasil, superados pela China.

"Temos a certeza de que o encontro entre os dois líderes será muito proveitoso. O Brasil vive um momento especial. É exemplo para o mundo em termos de inclusão social, justamente o oposto do que ocorre nos EUA, onde o fosso que separa pobres e ricos só aumenta", afirma um dos principais assessores de Dilma. "Além disso, mudamos de patamar no contexto político ao liderarmos a criação do G-20 (grupo que reúne as 19 principais economias do mundo e a União Europeia), esvaziando o G-7 (grupo das sete potências globais) como palco principal das discussões do planeta" acrescenta. Para Obama, que tenta a reeleição, é muito vantajoso se aproximar das nações emergentes, hoje um contraponto fundamental ao baixo crescimento do mundo rico.

Ano eleitoral


Na avaliação do secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Cozendey, a preocupação do governo brasileiro de retomar os vínculos com o mercado norte-americano é explícita. "Desde 2008, há um diálogo mais próximo na área financeira. A preocupação, agora, é aproveitar a saída dos EUA da crise econômica e exportar mais para lá. Trata-se de uma oportunidade que o Brasil não pode desperdiçar", resume. "Os Estados Unidos são um parceiro muito importante para o Brasil, o comércio bilateral vem crescendo em um ritmo forte e nossa pauta é bastante diversificada", destaca a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Mdic), Tatiana Prazeres.

O sociólogo Demétrio Magnoli se mostra cético em relação ao que pode sair do encontro de Dilma com o presidente norte-americano. Ele ressalta que a viagem da líder brasileira ocorre em um momento em que a prioridade de Obama é recuperar popularidade em um ano eleitoral. "O líder dos EUA tem grandes chances de ser reeleito se a economia continuar acelerando e o desemprego cair. Portanto, uma nova visita de Dilma em 2013, com ele já de mandato renovado, tenderá a ser mais proveitosa", analisa.

Desconforto


De qualquer forma, diz Magnoli, a presidente brasileira não poderá se furtar de tratar de temas quentes, como a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), exigindo maior participação dos emergentes nas decisões do organismo multilateral, e a eleição do novo presidente do Banco Mundial (Bird), que ocorre no fim deste mês. Sobre a Síria e o Irã, o sociólogo reconhece que haverá desconforto. Mas, a seu ver, o Brasil precisa firmar posições em relação às atrocidades contra civis cometidas pelo governo sírio e ao embargo norte-americano aos iranianos. O temor de uma guerra entre Irã e Israel já está elevando o preço do petróleo. Estimativas apontam que, caso a cotação do óleo se mantenha acima de US$ 120, tanto os EUA quanto a Europa poderão voltar à recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) mundial perderia mais de US$ 1 trilhão neste ano.

Magnoli acha, contudo, cedo para se falar em mudanças radicais na política externa brasileira. "Dilma ainda não conseguiu imprimir a sua marca", sentencia. Ele reconhece que o Itamaraty anda mais cauteloso e o Brasil "está mais modesto, deixando de se envolver em iniciativas que vão além das suas pernas". "No governo Lula, acreditava-se que o país seria negociador de acordos no Oriente Médio, por exemplo. Felizmente, Dilma se diferenciou de Lula em relação ao Irã, mesmo que de forma pontual. Mas o Planalto resistiu à intervenção na Líbia, continua dando cobertura à Síria e não consegue ver presos políticos em Cuba", assinala.

Independentemente de ideologias, Creomar de Souza, professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília, acredita que o pragmatismo dominará o encontro de Dilma com Obama. Não sem motivo. Tanto os Brasil quanto os EUA precisam pavimentar uma relação que ajude os dois países a manterem o crescimento econômico nas próximas décadas. Dilma, que bate recorde de popularidade internamente, está no comando do sexto maior PIB do planeta e almeja superar a França no próximo ano. Para isso, precisa abrir mercados nos EUA aos produtos de alto valor agregado fabricados pela indústria nacional, que, por sinal passou a ser alvo de constantes bondades por parte do governo federal.

Aviões, suco e carnes


Na área comercial, Dilma Rousseff apresentará a Barack Obama as demandas do país para que produtos como aviões, carnes, suco de laranja e etanol acessem o mercado norte-americano. No caso do suco, o Brasil venceu uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos. Já no caso da carne, o país reforçará o pedido para exportar o produto in natura a partir deste ano. Do lado dos EUA, também virão demandas e, especialmente, uma pressão para que o Brasil compre mais produtos norte-americanos. Obama prometeu dobrar as exportações de seu país em cinco anos. O maior interesse dos norte-americanos está na área de serviços e de telecomunicações, especialmente, no leilão da tecnologia 4G de telefonia móvel. Eles também estão de olho nas compras governamentais.

Mudança de discurso


Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro de Relações Exteriores do Brasil, comemora o novo peso político do Brasil e, mais ainda, o reconhecimento da importância de uma relação com os Estados Unidos acima de ideologias. "A relação bilateral ficou em segundo plano no governo passado, mas alguns obstáculos já foram superados na gestão de Dilma Rousseff", afirma. Na sua avaliação, a economia norte-americana não pode ser ignorada e muito menos desprezada. "Com a crise nos EUA e na Europa, o Brasil compensou o recuo nas exportações para essas regiões com a conquista de mercados na Ásia. Mas, agora, com a economia norte-americana dando sinais de recuperação, é importante retomar os laços comerciais", completa.

Fonte: / NOTIMP

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Dilma chega aos EUA para 'manutenção da parceria'

Reunião com Obama, amanhã, evitará temas sobre os quais há divergência .

Agenda bilateral inclui educação, comércio e energia; americanos só se importam hoje com eleição, diz especialista

LUCIANA COELHO

Dilma Rousseff desembarca hoje nos EUA para seu terceiro encontro como presidente com Barack Obama com expectativas deflacionadas, em uma visita oficial que servirá para a manutenção de uma parceria bem azeitada, mas sem calor.

Na agenda principal estão educação, comércio e energia -bandeiras para os dois presidentes na hora de mostrar seu bom entendimento.

Inevitável em tempos de ascensão brasileira no palco geopolítico, a menção genérica "assuntos globais" também deve estar na declaração final dos dois líderes.

Mas temas em que os dois governos divergem ficarão em segundo plano nas três horas de conversa "franca e transparente", na acepção do Itamaraty, e "ampla em todos os níveis", na de Washington, que os dois manterão amanhã, entremeada por almoço de trabalho na Casa Branca.

"A eleição é a única coisa que importa nos EUA neste momento", disse à Folha o brasilianista Peter Hakim, do Inter-American Dialogue, lembrando o pleito presidencial em novembro.

Apesar de o Brasil ser tema corrente na mídia e de seu momento econômico atrair interesse da população, a visita -que não deixa de ser a apresentação da sucessora mais discreta de Luiz Inácio Lula da Silva ao público americano- foi precedida de silêncio na imprensa local.

O silêncio é incomum nos EUA quando o convidado governa um Bric; além disso, a personalidade mais discreta de Dilma alimenta perguntas e expectativas sobre o rumo da política externa brasileira.

Há uma razão boa para o baixo impacto da visita, porém: a relação bilateral chega à maturidade, avaliam os dois lados, o que faz com que em prol do pragmatismo as arestas sejam ignoradas.

Por isso, segundo analistas e pessoas envolvidas nos preparativos, Dilma e Obama puseram no topo da agenda uma dupla iniciativa voltada para o médio e longo prazo, o programa brasileiro "Ciência Sem Fronteira" e o americano "100.000 Strong", para intercâmbio universitário.

No segundo dia da viagem, Dilma visitará duas das principais universidades americanas, Harvard e MIT, ambas em Cambridge.

O comércio -a Casa Branca gosta de ressaltar que, embora os EUA tenham perdido para a China o posto de parceiro maior do Brasil, a corrente nunca esteve em nível tão alto- é outra prioridade.

O Brasil lida com déficit crescente com os EUA (US$ 8,1 bilhões), mas nunca suas empresas e seus turistas foram tão ativos e cobiçados.

O evento da Câmara de Comércio americana no qual Dilma discursará lotou logo, e os dois presidentes se reunirão, como no Brasil, com os dirigentes das principais empresas nos dois países.

Todo esse progresso não esconde, entretanto, o fato de o Brasil não ter alcançado na Casa Branca o status de seus colegas de Bric -a eterna antagonista Rússia, a aliada estratégica Índia e a credora simbiótica China.

Dilma deve voltar a pressionar Obama por apoio a um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e por mais voz no FMI e no Banco Mundial.

Na visita dele ao Brasil em 2011, ela ganhou uma inédita declaração de "apreço" pela aspiração, mas, embora a diplomacia brasileira aposte na evolução do termo (e a Casa Branca avalie), um endosso claro seria surpresa.

Além da reafirmação de parcerias que ainda têm de mostrar resultado, Dilma não deve obter nos EUA algo muito além do reconhecimento americano, após longa negociação comercial, de que a cachaça é produto do Brasil, e não um subtipo de rum.

Fonte: / NOTIMP


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