Demanda por voos aumenta e pode subir até 20% no ano
Preços mais baixos e aumento do poder de compra estimulam realização do sonho de viajar de avião no País .
Glauber Gonçalves .
Na contramão da desaceleração do ritmo de crescimento da economia, a demanda por voos domésticos não dá sinais de desaquecimento e já fez o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) elevar as previsões de crescimento de 15% para 20%, neste segmento. Se confirmado, esse patamar será de cinco vezes a expansão de cerca de 4% prevista para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, extrapolando a relação histórica, que é de duas a três vezes.
O descolamento entre o setor e a expansão do PIB tem explicação, segundo analistas. A manutenção do desemprego em um dos patamares mais baixos já registrados e a massa salarial em níveis recordes alimentam uma demanda reprimida por décadas. "Gente que nunca viajou começa a viajar e gente que viajava aumentou a frequência", diz o analista Felipe Rocha, da Fator Corretora.
Esse movimento tem sido sustentado pela queda dos preços das passagens. Em abril, a tarifa aérea média registrou o valor mais baixo para o mês desde 2002: R$ 262,87, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (anac). Em abril de 2008, o valor médio, corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi de R$ 505,09. O indicador corresponde ao valor médio pago por passageiro em uma viagem aérea, independentemente das distâncias dos voos.
Movimento. O resultado dos preços atrativos pode ser visto nos aeroportos. De janeiro a maio, pelos terminais da Infraero passaram 64,9 milhões de passageiros (somando embarques e desembarques), em comparação aos 53,8 milhões no mesmo período de 2010.
Parte do motivo para o baixo valor das tarifas está no aumento da demanda por viagens de lazer, mais sensível ao preço. "Aqui a situação é diferente da de outros mercados mais maduros, como Estados Unidos e Europa. No Brasil, grande parte do fluxo é de passageiros de negócios, enquanto lá fora é o contrário", diz Rocha.
Segundo especialistas, no entanto, é difícil dizer o que veio primeiro: se a forte demanda das classes mais baixas que está derrubando os preços ou se é a política de preços que estimula a demanda. "Como foi identificado esse mercado potencial, a concorrência aumentou muito. Então talvez a estratégia seja mesmo a de tarifa baixa para absorver e manter uma taxa de crescimento alta", analisa Rosângela Ribeiro, da SLW Corretora.
As facilidades oferecidas com o objetivo de atrair novos passageiros não se restringem, no entanto, à enxurrada de promoções. Acordos com companhias de ônibus, venda de passagens em redes varejistas e parcelamentos também acabam ajudando o consumidor a trocar o transporte rodoviário pelo aéreo. Em março, a TAM fechou parceria com a empresa de ônibus Pássaro Marron para vender bilhetes nas agências da companhia em rodoviárias.
De acordo com o consultor André Castellini, da consultoria Bain & Company, esse aumento de passageiros não tem se traduzido em ganhos de receita de mesma proporção. "Muito desse crescimento de demanda está ocorrendo com tarifas que não são sustentáveis", afirma. Segundo ele, isso ocorre porque não há mais espaço para ampliar as operações nos aeroportos de onde partem as rotas mais atrativas.
"Há um gargalo aeroportuário. Então as companhias estão colocando os aviões em rotas em que são obrigadas a estimular demanda com tarifas que às vezes não pagam o voo", explica. A compra da Webjet pela Gol é ilustrativa do problema. Como a deficiência de aeroportos como o de Guarulhos impediam a ampliação de suas operações, a empresa comprou a concorrente para crescer nesses mercados.
Fonte: / NOTIMP
Foto: Mario Ortiz