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Conflito na Líbia se torna vitrine militar



Mesmo distantes do palco de guerra montado na África, militares brasileiros monitoram o desempenho dos caças Rafale, fabricados pela francesa Dassault, então favoritos do Palácio do Planalto para reaparelhar a Força Aérea Brasileira. Em meio às incursões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre as tropas de Muamar Kadafi, o comando também dedica atenção aos concorrentes franceses, os caças F-18 (EUA) e Gripen (Suécia).

A guerra civil líbia se transformou em uma vitrine militar. O governo francês, por exemplo, usou o cenário desértico para empregar os Rafale inclusive como instrumento de propaganda bélica. Já a Suécia, que há seis décadas não participava de uma operação militar internacional, enviou oito caças Gripen para reforçar as trincheiras da Otan.

Segundo fontes com trânsito na caserna brasileira, os militares ficaram preocupados com a performance dos jatos suecos. Algumas aeronaves fabricadas pela Saab teriam apresentado problemas de compatibilidade de combustível em território líbio. O diretor-geral da Saab no Brasil, Bengt Janér, esclarece que houve um erro na hora de abastecer as aeronaves.

– São pequenos detalhes que nos possibilitam estar sempre aprendendo sobre esses equipamentos – conta o especialista em Defesa Nelson Düring.

“Não provocamos guerras para mostrar nossos armamentos”

Yves Saint-Geours, embaixador da França no Brasil

Enviado ao Brasil como embaixador em 2009, o diplomata francês Yves Saint-Geours acompanha à distância o retorno de seu país ao papel de protagonista no tabuleiro mundial. Em uma conversa na embaixada da França em Brasília, Saint-Geours rechaçou para Zero Hora as interpretações de que o empenho militar do governo Nicolas Sarkozy esconderia uma tentativa de reverter seus baixos índices de popularidade. A seguir, a síntese da entrevista:

Zero Hora – No momento em que atinge o mais baixo nível de popularidade, o presidente Nicolas Sarkozy envolve a França em três campanhas militares simultâneas. O objetivo é tirar o foco da situação política interna?

Yves Saint-Geours – Estamos no Afeganistão desde 2001. Na Costa do Marfim, temos tropas há muitos anos. Os franceses não chegaram agora nesses dois países. Quanto à Líbia, existe uma efervescência. Considerar que as operações militares são motivadas pela baixa popularidade do presidente não me parece baseado na realidade.

ZH – O protagonismo da França nas operações militares na Líbia e na Costa do Marfim demonstra que o país pretende ocupar um novo espaço no cenário internacional ou é apenas uma defesa de sua esfera de influência?

Saint-Geours – Há muito tempo temos um importante papel no cenário mundial. As pessoas esquecem que na última década a França participou de mais de 25 operações internacionais de resgate de civis.

ZH – A postura do governo francês no episódio da insurgência na Tunísia, apoiando o regime do ditador Zine El Abidine Ben Ali, foi alvejada mundialmente. Houve erro de avaliação de Paris naquele momento?

Saint-Geours – Os governantes franceses admitiram que não haviam captado com nitidez o episódio. As críticas serviram como advertência para tornar mais aguda a observação dos fatos mundiais.

ZH – As operações militares são uma vitrine para a venda de equipamentos bélicos franceses?

Saint-Geours – Não provocamos guerras para mostrar que nossos armamentos são bons. Preferíamos que não houvesse conflitos.

ZH – Durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a França se tornou parceira estratégica do Brasil. A sucessão no Brasil arrefeceu a relação entre os dois países?

Saint-Geours – Ainda que a parceria tenha sido encarnada por Lula e Sarkozy, temos de pensar nos motivos dessa sociedade: amizade, compartilhamento de valores, interesse de fazer mais negócios bilaterais e disposição de propor alterações na governança mundial. Apesar da chegada da presidente Dilma Rousseff, as motivações continuam as mesmas. A ordem global segue precisando de transformações.

ZH – Se a presidente Dilma Rousseff optar por não comprar os caças da França, o Palácio do Eliseu continuará defendendo uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU?

Saint-Geours – Não estamos trocando um assento no Conselho por caças. É óbvio que estamos fazendo o possível para ganhar essa concorrência. Contudo, não entramos nesse tipo de jogo.

ZH – Como a França viu a reaproximação do governo brasileiro com a Casa Branca, intensificada com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil?

Saint-Geours – Vimos de forma positiva. Afinal, somos aliados firmes dos americanos. Não considero que essa aproximação possa enfraquecer a parceria estratégica que a França construiu com o Brasil.

ZH – O governo francês pretende aproveitar o bom momento econômico brasileiro para aumentar as relações comerciais entre os dois países?

Saint-Geours – Sim. No entanto, o comércio bilateral entre a França e o Brasil é equilibrado. Já a relação brasileira com os americanos apresenta déficit na balança comercial a favor dos EUA.

ZH – O know-how da França em sediar grandes eventos esportivos poderia ser emprestado para o Brasil organizar a Copa do Mundo e as Olimpíadas?

Saint-Geours – Temos feito muitos contatos em segurança e infraestrutura. Por exemplo, o aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, poderia prestar consultoria a aeroportos brasileiros. Estamos interessados em ajudar o Brasil.

ZH – A França apoia a reivindicação dos países do Bric de reformar a ONU, o FMI e o Banco Mundial?

Saint-Geours – A França milita mais por essa reforma do que Rússia, Índia e China, o “RIC” da sigla. Demonstramos isso durante as negociações para alterar o peso dos votos no Fundo Monetário Internacional e no Banco Mundial. Somos os maiores incentivadores de dividir as decisões mundiais com países como o Brasil.

Fonte: ZERO HORA / NOTIMP








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