Sigilo com prazo de validade
Documentos ultrassecretos poderão ser abertos ao público após 25 anos.
Proposta tramita há quase uma década.
Ana Paula Siqueira.
Conhecida  como Lei Geral de Livre Acesso à Informação, proposta que tramita no  Senado prevê a regulamentação de um dos direitos fundamentais garantidos  internacionalmente. A proposta enfrenta a resistência velada de setores  que se preocupam com a possibilidade de que informações ultrassecretas  sejam reveladas, expondo, na avaliação de quem é contra o fim do sigilo  eterno, relações internacionais e, ainda, deslizes de governantes.
Atualmente, o país não conta com a fixação de prazos para o acesso às  informações de interesse público. E o cidadão comum continua à mercê da  boa vontade dos órgãos públicos quando precisa de informações, que  variam do processo de aposentadoria à execução de programas  governamentais. O Projeto 41/2010, que tramita desde 2003 no Congresso,  foi aprovado na Câmara em 2010 e aguarda designação de relator na  Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado.
Cidadão deverá esperar no máximo 20 dias por informações 
Entre as principais novidades da futura Lei Geral de Acesso à Informação  está o prazo máximo de 25 anos para que documentos ultrassecretos se  tornem públicos, podendo ser prorrogado por igual período. Além disso,  os órgãos e autarquias governamentais – federais, estaduais e municipais  – podem sofrer penalidades caso não disponibilizem as informações  solicitadas. O cidadão comum poderá esperar no máximo 20 dias por uma  informação solicitada, caso não seja possível disponibilizá- la de  imediato.
Publicamente é difícil encontrar quem critique a proposta, apresentada  pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) em 2003 e corroborada por um  projeto com a mesma diretriz que o Executivo enviou em 2007. Nos  bastidores, no entanto, a avaliação é que a liberação de documentos  inquieta militares pela possibilidade do acesso público aos arquivos da  ditadura. Já os diplomatas estariam preocupados, principalmente, com um possível estremecimento nas relações com países vizinhos.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty afirmou que é favorável à  proposta do Executivo, que previa a possibilidade de o presidente da  República decidir de maneira discricionária o prazo de sigilo em  documentos ultrassecretos. Não disse se pretende tentar convencer os  senadores a aprovarem a proposta do Executivo. O Ministério da Defesa  não se manifestou.
Ficando para trás
Para o coordenador de Comunicação e Informação da Unesco Brasil,  Guilherme Canela, os prazos de sigilo devem ser estabelecidos com  clareza para os diversos níveis de confidencialidade (reservado, secreto  e ultrassecreto). Mas concede que nas democracias não há previsão de  sigilo eterno. Atualmente, 80 países já têm legislação específica.
– O Brasil é uma das grandes democracias que ainda não têm as regras do jogo estabelecidas – lembra Canela.
O cientista político Paulo Kramer avalia que, apesar dos temores de  diplomatas e militares, o país deve arcar com o possível desgaste de  olhar para o passado:
– Todo país que sonha em ter acesso às organizações internacionais, como  o comitê de segurança da ONU, tem que ter uma lei de livre acesso à  informação.
Fonte: JORNAL DO BRASIL / NOTIMP


















