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Rota do tráfico muda para o Centro-Oeste






Operação da Polícia Federal prende 18 pessoas e comprova que estados próximos ao DF, como Goiás e Tocantins, se tornaram o principal caminho para a entrada de drogas no país.

Edson Luiz.

Uma nova ação da Polícia Federal, desencadeada ontem em seis estados, e que resultou em 18 prisões, está comprovando que o narcotráfico realmente vem mudando sua rota e se estabelecendo na Região Centro-Oeste. A Operação Cinco Estrelas desbaratou uma quadrilha que tinha como base os estados de Goiás e de Tocantins, para onde eram enviadas grandes quantidades de cocaína, que abastecia o Sudeste do país ou seguia para o exterior. Autoridades Brasileiras avaliam que o tráfico pode aumentar na região, à medida que as rotas tradicionais estão mais fiscalizadas após a tomada do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

As investigações começaram há um ano, após a apreensão de 350 quilos de cocaína em Paraíso do Tocantins (TO). A partir daí, a Polícia Federal começou a localizar as ramificações da quadrilha, que levava a droga da Bolívia por Rondônia. O pó ficava armazenado em cidades tocantinenses e em Goiânia, onde ficava o elo principal do grupo. No Brasil, o entorpecente era preparado em quantias menores, que seriam vendidas em outros centros, como o Rio de Janeiro, onde a Operação Cinco Estrelas também realizou prisões no dia de ontem. Além disso, houve mais prisões em Palmas (TO), Rondônia, Pará, Mato Grosso e Goiás.

O tráfico era financiado por pessoas que moravam em Tocantins, que também forneciam a logística e os contatos para a quadrilha, além de auxiliar no transporte. Os núcleos de Goiás e de Rondônia eram responsáveis pelo fornecimento da cocaína e intermediavam as negociações dentro do território brasileiro. O pó chegava ao Centro-Oeste pelas estradas — por meio de caminhões de cargas — ou por aviões. No ano passado, a Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a dar tiros de advertência em uma aeronave com a droga, que fez pouso Forçado em Luziânia, com mais de 150 quilos de pasta-base.

Segundo as autoridades Brasileiras, com o aumento da fiscalização nas principais rotas, a tendência é aumentar o chamado tráfico formiguinha. “A tendência dos traficantes é reduzir os volumes de droga, e tentar passar com pequenas quantidades”, acredita o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Ele destacou ainda que 11 regiões do país — que fazem divisas com outros países — estão com reforço policial para evitar a entrada de droga. “Também está havendo uma integração maior entre os estados com o mesmo fim.”

Sonegação
No Rio, a PF também desbaratou um grupo de empresas que subfaturavam mercadorias importadas da China, dando um prejuízo de pelo menos R$ 10 milhões aos cofres públicos por causa da sonegação de impostos. A Operação Sobrecarga, realizada ontem por 150 policiais e 44 auditores da Receita Federal, prendeu quatro pessoas, entre elas um chinês que morava no Brasil com documentos falsos e que mantinha negócios em paraísos fiscais. Segundo o superintendente adjunto da 7ª Região Fiscal do Rio e Espírito Santo, Marcos Vinícius Vidal Pontes, mais de 50% da renda das empresas eram enviados para o exterior de forma irregular. “Eles só podiam mandar para a China de 30% a 40% dos lucros pelo Banco Central, por via legal. Os outros 60% eram mandados por meio de doleiros”, explica Pontes.

As investigações da Polícia Federal começaram há mais de um ano, depois que a Divisão de Investigações da Alfândega e Imigração dos Estados Unidos (DHS/ICE) repassou para o fisco brasileiro informações sobre a atuação de doleiros que agiam em território americano.

INTERPOL PRENDE ARGENTINO NO RIO

A Polícia Criminal Internacional (Interpol) no Brasil prendeu, há dois dias, o argentino César Alejandro Enciso, acusado de vários delitos contra italianos, durante a ditadura, em seu país, inclusive crimes contra a humanidade. Enciso, que fez parte da Operação Condor, montada por várias nações do Cone Sul para reprimir opositores, estava escondido no Rio de Janeiro e há 15 anos vinha sendo procurado pelas autoridades da Itália. A maior parte de suas vítimas eram daquele país e do Uruguai. No Brasil, ele usava nome falso e morava sozinho em um bairro do Centro, na capital fluminense.

Enciso fazia parte da Oficina de Automotores Orletti, um estabelecimento localizado no bairro Floresta, em Buenos Aires. No local, funcionava uma espécie de central de torturas da Operação Condor, ocorrida durante o regime militar, comandado, à época, pelo general Jorge Rafael Videla. A Interpol informou que, apesar de Enciso estar sendo processado na Argentina, a sua prisão foi pedida pelos italianos. “O governo argentino ainda não se pronunciou”, afirmou o delegado Bruno Ribeiro Castro, que comandou a ação da polícia internacional. Enciso tem pedido de extradição requerido pela Itália.

Sem resistência
Na Justiça italiana, Enciso responde por ter praticados crimes de massacre, sequestro, cárcere privado, tortura, homicídios e crimes contra a humanidade. Segundo as autoridades europeias, o argentino fazia parte de uma organização que atuou no planejamento e execução de uma quantidade indefinida de cidadãos italianos e de integrantes da Organização Popular revolucionária 33 Oriental (OPR-33), que reunia esquerdistas uruguaios. “Há anos estávamos no encalço dele”, disse Castro. O trabalho da Interpol contou com uma intensa investigação da Polícia Federal Brasileira, que chegou onde o fugitivo estava.

O argentino ficou foragido por 15 anos, até que a Interpol o localizou no bairro de Santa Tereza, no Rio, há dois dias. Segundo o delegado que o prendeu, Enciso não ofereceu resistência. “Ele vivia no Brasil como outra pessoa”, conta Castro. Enciso, que estava com documentos falsos no momento da prisão, adotou o nome de Hector Domingo Echebaster, e estava sendo procurado no mundo com a difusão vermelha da Interpol — para criminosos de alta periculosidade. O Supremo Tribunal Federal (STF) decretou a detenção preventiva do argentino para poder extraditá-lo para a Itália. (EL)

PESQUISA REVELA INSEGURANÇA GERAL
A sensação de insegurança é alta entre os brasileiros. A constatação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a partir do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) sobre Segurança Pública, divulgado ontem. A pesquisa mostra que nove em cada 10 entrevistados têm medo de ser vítimas de crimes como homicídio, assalto à mão armada ou roubo de residência. Foram entrevistadas 2.770 pessoas nas cinco regiões do país. A maioria dos entrevistados, 78,6%, afirmou ter muito medo de morrer assassinado. O mesmo ocorre em relação ao medo de ser vítima de assalto à mão armada (73,7%). De acordo com o Ipea, a avaliação geral dos serviços comumente prestados pelas instituições policiais é negativa. Os resultados da pesquisa mostram que 61,7% dos entrevistados apontaram lentidão da polícia no atendimento a emergências quando o pedido de socorro é feito por telefone.

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE, via NOTIMP




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