Boeing pega rota virtual para fazer treinamentos no 787
Peter Sanders
Os mecânicos que participam do curso de 25 dias da Boeing Co. sobre o novo modelo 787 Dreamliner aprendem a consertar todo tipo de problema, de luzes queimadas na cabine a defeitos sérios nos controles de voo. Mas uma coisa que não poderão fazer tão cedo é tocar os aviões.
Com notebook e computador de mesa numa sala coberta de diagramas nesta cidade dos arredores de Seattle, mecânicos de companhias aéreas vão treinar num sistema que exibe uma cabine de comando interativa do 787, bem como uma representação em 3D do exterior da aeronave. Com o mouse, os mecânicos podem "caminhar" pelo avião, abrir painéis virtuais de acesso para manutenção e ir ao exterior do avião para consertar ou trocar peças.
Como a maioria dos novos aviões, o Dreamliner é uma maravilha tecnológica com placas de rede que precisam de tanta manutenção quanto as peças mecânicas. A Boeing tornou o treinamento do jato, cujo cronograma já passou por vários adiamentos, tão virtual como as primeiras entregas, agora marcadas para algum momento no primeiro trimestre de 2011.
No fim do curso, os mecânicos recebem todo o material do treinamento num pequena memória USB. Quando estiverem diante de um Dreamliner de verdade, também usarão seus notebooks para diagnosticar e solucionar os problemas reais dos aviões, afirma a Boeing.
Os executivos da Boeing reconhecem que um curso de manutenção em que não se interage com o avião de verdade motiva algumas críticas. "Tivemos muitas reuniões com as agências de regulamentação, e no início elas realmente ficaram um pouco desconfiadas", diz Don Reiter, gerente da divisão de treinamento de voo da Boeing. "Mas depois que as convidamos para cá e mostramos como funciona o programa interativo, elas autorizaram."
Uma porta-voz da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, a FAA, disse que faz anos que a agência permite treinamentos por computador.
No último dia 25, horas antes de a empresa anunciar mais um adiamento na data de entrega do problemático Dreamliner, a Boeing lançou oficialmente o programa de treinamento do jato. O curso vai treinar milhares de mecânicos, pilotos e comissários de bordo que vão tripular o 787 quando ele entrar em serviço.
Juntamente com o simulador quadrado e totalmente móvel que se tornou comum nos cursos modernos de pilotagem, a Boeing criou uma série de outras ferramentas de treinamento por computador. Uma réplica da cabine de passageiros mostra aos comissários de bordo como operar desde as luzes até a porta do avião durante uma emergência.
Para pilotos e mecânicos, ficaram no passado as milhares de páginas dos manuais de pilotagem e manutenção, substituídos por computadores "tablet" e pen drives.
A Boeing já criou oito "suítes de treinamento" para o Dreamliner, em lugares como Londres, Seattle, Xangai, Cingapura e Tóquio, sede da primeira cliente do avião, a All Nippon Airways Co.
Os executivos da Boeing responsáveis pelos programas de treinamento dizem que aproveitaram os vários atrasos do 787 para finalizar o sistema do curso e os materiais didáticos. "Muito do que temos feito hoje em dia é esperar os aviões para os testes de voo", disse Sherry Carbary, vice-presidente de treinamento e serviços de voo da Boeing. "Tivemos de colher dados sobre os aviões" para determinar como calibrar os equipamentos de treinamento, disse ela.
Mais de 140 instrutores de pilotagem da Boeing já foram certificados para voar o Dreamliner, embora a maioria só tenha praticado no simulador. Apenas um punhado de pilotos de testes voa o avião de verdade com certa regularidade, até que ele finalmente seja certificado pela FAA.
O Dreamliner foi projetado tendo em mente a bem-sucedida estrutura do 777, diz Mike Carriker, chefe dos pilotos de teste do Dreamliner e engenheiro aeronáutico que ajudou a projetar o voo do 787.
A organização da cabine de comando e dos controles acima dos pilotos será familiar para quem está acostumado com o 777. Isso permitirá que os pilotos já certificados para o 777 possam passar ao Dreamliner em apenas cinco dias de treinamento em classe e no simulador, afirma a empresa. Para os pilotos de outros jatos modernos da Boeing, o treinamento de transição vai durar 13 dias. Pilotos que nunca voaram aviões da Boeing precisarão de cerca de três semanas para obter a certificação no Dreamliner.
Para acomodar os milhares de pilotos das 56 companhias aéreas que já pediram mais de 850 unidades do avião, cuja fuselagem é fabricada principalmente de compósitos de fibra de carbono, a Boeing se inspirou nos clientes e desenvolveu um sistema parecido com o de pontos de milhagem. Cada cliente que pedir um Dreamliner receberá um determinado número de pontos para usar no treinamento de pilotagem.
O valor desses pontos depende de uma variedade de fatores, como a hora do dia em que a companhia requisitar o simulador e de quantas horas de treinamento seus pilotos precisarão.
Fonte: VALOR ECONÔMICO, via NOTIMP
Foto: Dave Sizer