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Voo do primeiro astronauta brasileiro completa cinco anos

Missão centenário .

Há exatos cinco anos, decolava a nave espacial que levaria ao espaço o primeiro e até agora único astronauta brasileiro, Marcos Pontes. O voo durou dez dias e foi parte da Missão Centenário, que recebeu esse nome em homenagem aos cem anos do primeiro voo de Santos Dumont com o 14-Bis. Durante a viagem, o astronauta realizou experimentos em ambiente de microgravidade.

As metas da Missão Centenário eram realizar experimentos nacionais em ambiente de microgravidade, incentivar o crescimento dessa área de pesquisa no Brasil, homenagear Santos Dumont e promover o Programa Espacial Brasileiro.

"Os objetivos foram integralmente cumpridos", afirmou o gerente da Missão na ocasião, Raimundo Mussi. Ele acredita que o maior êxito da Missão foi despertar o interesse nacional nas atividades espaciais brasileiras, devido a ampla cobertura da mídia que o evento recebeu. "O povo brasileiro não sabia que o Brasil tinha um programa espacial antes da Missão", disse Mussi.

Carreiras em ciência e tecnologia
Para o astronauta Marcos Pontes, "uma grande realização foi a motivação dos jovens para seguirem carreira em ciência e tecnologia". O fato pode ser comprovado pelo aumento na participação de alunos na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) depois da Missão Centenário. Em 2005, pouco mais de 185 mil alunos participaram da OBA. Já em 2006, ano do voo de Marcos Pontes, 306 mil alunos fizeram a prova da olimpíada.

Raimundo Mussi acredita que a Missão também serviu para mostrar à comunidade científica brasileira a possibilidade e a efetividade de realizar determinados experimentos em ambiente de microgravidade e a capacidade técnica brasileira de prepará-los em curto tempo seguindo as estritas exigências de segurança para embarque em voo espacial tripulado. Ao todo, Pontes levou e executou oito experimentos, selecionados por meio do Programa Microgravidade, da Agência Espacial Brasileira.

Experimentos brasileiros no espaço
O pesquisador do Centro Universitário da FEI, Alessandro La Neve, foi coordenador do projeto "Efeito da Microgravidade na Cinética das Enzimas". Apesar de ter participado dos anúncios de oportunidades dos programas Uniespaço e Microgravidade da AEB, desde 1999, La Neve acredita que a Missão Centenário foi um marco para sua equipe, já que tiveram que adaptar o experimento às normas da ISS.

"Foi um desafio. Para isso, contamos com apoio da AEB, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), e do Instituto de Aeronáutica de Espaço (IAE). O conhecimento adquirido durante todo o processo foi transmitido para as outras experiências em voos suborbitais", contou o pesquisador.

O experimento de La Neve na Missão Centenário apresentou resultados contraditórios e, por isso, deverá ser repetido. A equipe tem projeto aprovado pela AEB para repetir experimento na ISS. "Já fizemos experiências parecidas em voos suborbitais. No entanto, ela tem que ser repetida na ISS porque o tempo de exposição a ambiente de microgravidade nos foguetes é muito curto (aproximadamente seis minutos) e na ISS é de dias", explicou o pesquisador.

Para o pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do projeto "Teste de Evaporadores Capilares em Ambiente de Microgravidade" (CEM), Edson Bazzo, a Missão Centenário abriu uma rara oportunidade para que pesquisadores de seu grupo e também de sua universidade pudessem participar de um projeto desafiador. Isso refletiu diretamente na autoconfiança de nossos alunos de doutorado e de mestrado na sua capacidade científica de atender demandas de alto nível tecnológico" afirmou o pesquisador.

Segundo Bazzo, a participação de novos alunos da universidade em projetos orientados à pesquisa experimental e espacial aumentou. "Considerando a experiência bem sucedida e os bons resultados colhidos com o experimento CEM, os trabalhos foram então orientados ao desenvolvimento de materiais alternativos visando a aplicação tanto espacial quanto industrial" disse o pesquisador.

A Missão Espacial também possibilitou o desenvolvimento de tecnologias utilizadas nos dias atuais. O coordenador do projeto "Nuvens de Interação Proteica" (NIP) e pesquisador do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), conta que as tecnologias criadas para o NIP estão sendo utilizadas hoje no desenvolvimento de sensores de gases e sensores para doenças tropicais. "Estamos desenvolvendo, também, um micro cromatógrafo e um sistema de deposição de filmes" conta Archer.

Dois experimentos (germinação de sementes de feijão e cromatografia da clorofila) realizados durante a Missão Centenário eram da Secretaria de Educação de São José dos Campos (SP). Segundo uma das coordenadoras do projeto, Elisa Farinha, a Missão aproximou de forma concreta a temática espacial do dia-a-dia da sala de aula. "A oportunidade de contato com pesquisadores da área, dos institutos de pesquisa do Brasil e da Rússia foi de grande relevância", disse a coordenadora.

Elisa destacou, também, a interação dos alunos com o astronauta Marcos Pontes. "Ele se tornou referência para o grupo. Isso aconteceu não só pelo feito de ser o primeiro astronauta brasileiro a participar de uma missão espacial mas pela história de vida e exemplo de superação e dedicação", afirmou Elisa.

Segundo o gerente da Missão Centenário, apesar dos experimentos educacionais terem sido criticados pela imprensa, eles foram considerados altamente inovadores por diversas agências espaciais, que inclusive solicitaram detalhes de sua elaboração e execução. Por isso, ele acredita que as críticas aos experimentos foram portanto descabidas.

Em 2010, a Secretaria de Educação de São José e seus alunos participaram da Operação Maracati II com os Experimentos Educacionais em Microgravidade que voaram no foguete de sondagem VSB-30. "A participação das escolas nessa Operação foi um desdobramento significativo da Missão Centenário", afirmou Elisa Farinha.

"Germinação de sementes em microgravidade", coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e "Minitubos de Calor", da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram os outros dois experimentos realizados por Pontes na ISS. A pesquisa da UFSC comprovou que minitubos brasileiros, feitos por um processo de fabricação inovador e mais simples, funcionam. A tecnologia desenvolvida pela universidade gerou derivações para outros setores industriais, como o petroquímico e até a fabricação de fornos de padaria.

Missão cumprida
Para relatar tudo o que aconteceu antes, durante e depois de sua viagem ao espaço, Marcos Pontes lançou, em março, o livro "Missão Cumprida". "A obra é um registro histórico da Missão Centenário," disse. Segundo o astronauta, o livro conta um pouco da ansiedade, a preparação e os estudos que aconteceram antes do voo.

A publicação traz os bastidores da Missão e responde a diversas perguntas. Como é o espaço? Como é voar em uma espaçonave? Como é o dia-a-dia na ISS? São algumas delas. A publicação faz, ainda, uma análise de Pontes sobre os impactos, as críticas e as polêmicas que envolveram a viagem. "Esperei cinco anos para escrever o livro porque queria registrar toda a Missão e esse foi o tempo que levei para analisar tudo", diz o astronauta. "Minha intenção é deixar tudo registrado para que futuras gerações aprendam com nossos erros e acertos", completa.

Além do livro sobre a Missão Centenário, Pontes é autor do "É possível! Como transformar seus sonhos em realidade", um mix de suas experiências no espaço e dicas de como ser bem-sucedido.Foi publicado em 2010.

Fonte: Site Inovação Tecnológica / NOTIMP








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