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Líbia: Prontos para a guerra







Kadafi desloca tropas para proteger a região oeste e oposição se arma.

Enquanto a Otan debate intervenção, a ONU suspende o país do Conselho de Direitos Humanos.

Tatiana Sabadini.

Em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, novos recrutas se apresentaram ontem para participar de uma força-tarefa dos opositores montada em uma base militar. Eles receberam instruções sobre o uso de armas antiaéreas e o manuseio de munições, antes de escolherem uniformes. No centro da revolta, a população se prepara para uma guerra contra o governo de Muamar Kadafi. Enquanto isso, sitiado na capital Trípoli, o ditador busca retomar o controle do país. O mandatário enviou mais tropas para a região leste, na tentativa de reconquistar à força cidades que caíram na mão dos rebeldes, incitando ainda mais a possibilidade de um conflito armado. No campo diplomático, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estuda a possibilidade de uma intervenção internacional mais enérgica e a Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu excluir a Líbia do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Na madrugada de ontem, o Exército líbio avançou contra três cidades no oeste do país: Zawiya, Zintan e Misurata. No entanto, as tropas não obtiveram sucesso em reconquistá-las. As vitórias deram confiança aos opositores, comandados por militares desertores. Ontem, eles criaram um conselho militar para organizar a luta armada contra as forças de segurança do país e se unir a outras organizações de cidades conquistadas pelos adversários de Kadafi.

Os rebeldes pretendem marchar rumo à capital nos próximos dias e alistam voluntários para a batalha. O movimento pode reforçar o risco de uma guerra civil. Em uma manobra defensiva, Kadafi também enviou tropas para a região oeste do país, ainda não tomada pelos rebeldes. Segundo denúncias de conselheiros regionais de países africanos, o ditador teria contratado centenas de mercenários do Mali e do Níger para ajudar no combate aos rebeldes.

Em Benghazi, além de se preparar para a luta armada, a oposição já formou um governo de transição. De acordo com Ibrahim Dabbashi, embaixador adjunto da Líbia na ONU, o gabinete clandestino terá a função de comandar o país após a queda de Kadafi. “O povo apoia o governo de transição. Queremos que ele se instale o quanto antes a fim de assegurar o vínculo entre o povo líbio e o mundo exterior”, afirmou. Para o diplomata, que se desligou do regime depois da violenta repressão às manifestações do país, mesmo com as pressões internacionais, Kadafi não deve deixar o poder. As Nações Unidas aprovaram sanções contra o país e condenam os conflitos entre o governo e a oposição.

Bombardeio

O comando militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) declarou ontem que uma intervenção armada na Líbia ainda estava em discussão. A implementação de uma zona de exclusão aérea, como foi defendida pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, exigiria um bombardeio aos sistemas de defesa aérea do país árabe. Com 800 fuzileiros navais, o navio de guerra norte-americano USS Kearsarge começou a se aproximar ontem do território líbio, impondo uma maior pressão sobre Kadafi. A embarcação carrega ainda uma frota de helicópteros e abriga instalações médicas.

Para o governo francês, uma intervenção militar na Líbia precisa ser analisada. “Diferentes opções podem ser estudadas, em particular a de uma zona de exclusão aérea. Mas digo muito claramente que nenhuma intervenção será feita sem um mandato claro do Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o novo ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que o país comandado por Kadafi pode enfrentar uma longa guerra civil nos próximos anos. Ela também defendeu nova investigação sobre a participação do ditador líbio no atentado aéreo de Lockerbie, que matou 270 pessoas em 1988.

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, cujo país é o principal parceiro comercial da Líbia, afirmou que apoiará as intervenções internacionais, mas pediu cautela, por considerar a situação “em contínua evolução”. Ontem, a China pediu pelo fim da violência em Trípoli. “Esperamos que a comunidade internacional cumpra um papel construtivo para restaurar a estabilidade na Líbia o mais rápido possível’, completou Jiang Yu, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

Confrontos no Irã

Forças de segurança iranianas entraram em confronto ontem com manifestantes que pediam a libertação de dois líderes da oposição, Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karubi, no centro de Teerã. De acordo com sites mantidos pelos oposicionistas na internet (Kaleme e Sahamnews), foram disparadas bombas de gás lacrimogêneo e houve “ataques maciços” contra “pequenos grupos e algumas centenas de pessoas que se concentraram de forma esporádica” ao redor da Universidade de Teerã e da Praça Azadi. Vários manifestantes teriam sido detidos durante os confrontos, segundo outro site da oposição na internet, o Rahesabz. Já o site do jornal governamental do Irã desmentiu a ocorrência de incidentes, destacando que todas as informações indicavam “uma situação tranquila e normal”.

Risco de crise humanitária

Isabel Fleck

A fuga em massa de refugiados da Líbia para os vizinhos Egito e Tunísia levou a situação nas fronteiras a um estado crítico. A denúncia foi feita pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que calcula a saída de mais de 140 mil pessoas do país em duas semanas de conflito. Diante de uma iminente “crise humanitária”, o Acnur e a Organização Internacional para a Migração (OIM) pediram aos governos um esforço para a retirada dessas pessoas da região. De acordo com as autoridades tunisianas, entre 70 mil e 75 mil refugiados fugiram para o seu país desde 20 de fevereiro. Para o Egito, teriam seguido também cerca de 70 mil.

Entretanto, o Acnur espera que mais de 40 mil ainda estejam tentando deixar a Líbia. “Isso nos preocupa muito, porque sabemos que não há impedimento por parte da Tunísia, mas as pessoas não estão chegando deste lado”, relatou ao Correio, por telefone, Firas Kayal, porta-voz do organismo na fronteira entre os dois países. O representante elogiou, inclusive, a “generosidade” do governo tunisiano, que tem não só mantido as fronteiras abertas para os refugiados, como providenciado comida e água para a população de migrantes. O próprio Acnur e outras organizações não governamentais também têm enviado remédios e alimentos para a região. Amanhã, dois aviões devem chegar à região com tendas e suprimentos capazes de atender a até 10 mil pessoas.

O crescimento acelerado do número de refugiados, porém, tem tornado a situação insustentável. “Somente na segunda-feira, 14 mil pessoas atravessaram a fronteira entre a Tunísia e a Líbia — o maior número até agora — e dezenas de milhares de pessoas necessitam urgentemente ser transportadas aos seus países de origem”, disse a porta-voz do Acnur em Genebra, Melissa Fleming. “Com a chegada prevista de outras 10 mil a 15 mil pessoas, a rápida disponibilidade de transporte é fundamental para evitar uma crise humanitária”, acrescentou.

A maioria dos refugiados é formada por egípcios que já saíram de seu país em meio aos protestos contra o ex-presidente Hosni Mubarak. No entanto, também há chineses e bengalis que viviam na Líbia. Segundo Kayal, o grupo é formado principalmente por homens de meia idade. Poucas crianças e mulheres vivem provisoriamente nas tendas — que abrigam de seis a oito pessoas cada —, no lado tunisiano.

Fonte: CORREIO BRAZILIENSE / NOTIMP


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