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Questão de bom senso







Roberto Muylaert.

A despedida de Lula foi na hora certa, quando aprovação quase unânime fez com que perdesse o bom senso, uma qualidade fundamental.

A propaganda é mesmo a alma do negócio. Sem perceber, o Brasil ficou viciado em ouvir Lula a explorar, pela TV, a série "nunca antes neste país", que acabou se tornando refrão. De repente, parece que estamos em processo de desintoxicação do ex-presidente, não porque ele fosse tóxico, mas porque suas ubiquidade e loquacidade obrigavam os telejornais a fartas coberturas diárias de som e imagem.

É ponto pacífico que Lula deu condições para boa parte da classe mais pobre dos brasileiros sair da miséria. Por outro lado, sua despedida foi na hora certa, quando uma aprovação quase unânime fez com que perdesse uma qualidade fundamental para quem exerce o poder: bom senso.

Surge então a presidente Dilma, eleita a partir da avalanche de prestígio transferida por seu mentor, embora estreando nas urnas. A boa notícia é que, logo de saída, mostra bom senso: começa a trabalhar todo dia, cumpre horários, como quem ganha um novo emprego e precisa justificar o salário.

Uma de suas últimas decisões foi a de avisar aos auxiliares diretos que talvez seja melhor eles ficarem em Brasília nos finais de semana, já que podem ser chamados a qualquer momento: trabalho em tempo integral. Não mais aviões da FAB à disposição das autoridades para retornar ao lar nas sextas-feiras.

De um jeito ou de outro, ela anda tentando resolver, sem muita onda, o problema da herança deixada pelo presidente anterior, como ameaças à liberdade de expressão, deficit fiscal, inflação assanhada, real sobrevalorizado, inchaço da máquina pública, gastos públicos crescentes, falta de conscientização e de preparo de quem trabalha no governo.

Seria uma boa ideia enviar para as repartições públicas, junto com a foto da presidente, um dístico-lembrete, assim: "a missão do funcionário público é a de servir ao público". Alguns deles talvez nunca tenham sido informados disso.

Por último, valeu a sua percepção de que a compra dos caças da FAB do chamado projeto FX-2 precisava mesmo ser reavaliada.

Ela poderia ter levado, no embalo, o mico de US$ 10 bilhões em Rafales, sendo que, desde o ano 2000, os franceses não conseguem vender um caça desses para ninguém, a não ser compulsoriamente, para a sua própria Força Aérea.

Como ela anda preocupada com a vigilância das nossas fronteiras, o reequipamento poderia começar por embarcações rápidas e baratas para navegar no litoral e nos nossos rios, mais um reforço nos aviões de reconhecimento e nos Super-Tucanos, fabricados aqui mesmo.

A questão dos caças avançados, nada difícil de decidir, ficou entre o modelo americano F-18 E/F, o mais testado em combate, pela postura bélica permanente dos irmãos do Norte, e o Gripen NG, da Suécia, aquele que nos daria maior independência tecnológica, por ser um avião ainda em projeto, embora já existam 230 aeronaves de outros modelos desse mesmo avião voando em cinco Forças Aéreas.

O Brasil pode compartilhar esse projeto com os suecos, a ponto de se tornar, no futuro, exportador desses caças, cujo custo de operação é dividido por dois, pelo fato de ser monomotor, dotado de uma turbina de grande confiabilidade.

Ainda no quesito bom senso, falta Dilma perceber que não está com nada aquela coisa jeca de uma presidente da República ficar dando beijinho de duas bochechas em todo mundo, no Brasil e no exterior.

Além de pouco salubre, esse hábito faz perder tempo, algo que ela tem sabido utilizar com critério, até agora, com horário para começo e fim das reuniões palacianas.


ROBERTO MUYLAERT, jornalista, é editor, escritor e presidente da Aner(Associação Nacional dos Editores de Revistas). Foi presidente da TV Cultura de São Paulo (1986 a 1995) e ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social (1995, governo Fernando Henrique Cardoso).

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP



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