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Paulistas trocam carro por avião e voos regionais crescem 41% no Estado









1,5 milhão de pessoas circularam em 2010 por aeroportos de seis grandes cidades do interior.

Concorrência fez preço de passagens cair.

Bruno Tavares e Diego Zanchetta.

R$ 9. Voar de Ribeirão Preto para a capital paulista ficou mais barato do que um café com pão de queijo no Aeroporto de Congonhas, na zona sul. O aumento de voos dentro do Estado e as promoções das companhias aéreas fizeram com que 1,5 milhão de passageiros circulassem nos seis principais aeroportos do interior de São Paulo no ano passado, um número 41% maior que o registrado em 2009.

A concorrência fez o preço dos bilhetes despencar. E, não raras vezes, a viagem regional por ar ficou mais em conta em percursos de mais de 300 quilômetros que de carro e ônibus - o que já ocorre na Europa e nos Estados Unidos desde a década de 1990. O morador de Presidente Prudente, no extremo oeste paulista, por exemplo, pode vir à capital por R$ 99,40. O avião completa os 556 km entre as duas cidades em uma hora. No ônibus leito, que leva oito horas na estrada, com pelo menos duas paradas, a viagem sai por R$ 103. De carro, sem contar a gasolina, só o pedágio soma R$ 64,55.

O representante de vendas paulistano Carlos Vela, de 63 anos, abandonou uma rotina de quatro décadas pelas rodovias paulistas. "Entre acordar, ir para Congonhas e sentar com minha equipe em Ribeirão levo duas horas e meia. Consegui ampliar meus clientes no interior. Tenho até tempo para jogar tênis no hotel", conta Vela. "E o máximo que eu paguei foram R$ 49,99 por trecho."

O epicentro do boom aéreo no interior é justamente Ribeirão Preto, um próspero centro regional no centro do Estado. Do acanhado aeroporto da cidade partem 12 voos diários para a capital. A maioria das passagens é vendida com um mês de antecedência. Dali também é possível encontrar bilhetes a R$ 9 para três outras capitais do País: Curitiba, Rio e Salvador.

Foi por esse preço que o casal de professores Renato Esteves, de 27 anos, e Fernanda Pivetta, de 29, conheceram a Praia de Copacabana, no Rio, em dezembro. Os dois gostaram da experiência e conseguiram comprar pelo mesmo valor dois bilhetes para conhecer a capital paranaense. "De carro ou ônibus você sempre planeja a viagem e depois desiste com receio do cansaço da estrada", afirma Esteves.

Turistas do interior também já podem pegar voos para Europa, Estados Unidos ou capitais do Nordeste sem ter de enfrentar antes até oito horas de estrada. "Quando ia de ônibus para Cumbica, gastava R$ 80 só com o táxi da Rodoviária do Tietê ao aeroporto. Já é quase o preço da passagem (R$ 109) de avião", diz Marco Antonio Ferranti, de 56 anos, empresário de Bauru que faz pelo menos quatro viagens internacionais por ano. "Antes tinha de pegar sete horas de estrada antes de voos com duas conexões de até 17 horas. Chegava para reuniões já esgotado."

Passageiros se queixam da pouca estrutura

Bruno Tavares e Diego Zanchetta

Quem se acostumou ao gigantismo e às comodidades dos grandes aeroportos pode estranhar a simplicidade dos terminais do interior paulista. A maioria deles foi criada para ser aeroclube e não possui nem monitores para informar horários de voos.

Anos atrás, essa falta de estrutura passava despercebida. Mas o aumento da demanda trouxe passageiros mais exigentes, que querem facilidades disponíveis nos terminais das grandes cidades. "Já fiquei preso em Ribeirão Preto por seis horas por causa de chuva. Só que aqui nem a internet funciona direito", conta o gerente de vendas Marcelo Fragoso, de 56 anos.

Ele foi um dos prejudicados pela restrição de voos no mês passado no Aeroporto de Ribeirão. Por uma semana, entre os dias 15 e 21 de janeiro, os pousos e decolagens foram suspensos quando chovia. O motivo foi o excesso de borracha na pista, o que a tornava escorregadia com a chuva. O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp), responsável pela administração dos aeroportos do interior paulista, não possui equipamento para a remoção da borracha e teve de contratar uma empresa para realizar o serviço.

Embora reconheçam deficiências, sobretudo na estrutura oferecida aos passageiros, especialistas consideram que os terminais têm condições de absorver o crescimento dos voos regionais. "São aeroportos bons e seguros", afirma Ronaldo Jenkins, do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).

Para o engenheiro aeronáutico Jorge Leal Medeiros, professor da Escola Politécnica da USP, os aeroportos do interior devem ser tratados como "vetores de desenvolvimento" dessas regiões. "O custo para modernizá-los é relativamente baixo, vale a pena investir", avalia.

O Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece que todos os aeroportos são monopólio da União, mas permite a indicação de administradores. Em São Paulo, a gestão dos terminais é feita pelo Daesp, autarquia subordinada à Secretaria dos Transportes.

No ano passado, o governo de São Paulo encaminhou ao Ministério da Defesa um plano de concessão à iniciativa privada dos 30 aeroportos que controla. Segundo o Daesp, as receitas auferidas hoje com a cobrança de taxas e a concessão de áreas comerciais "não são suficientes para cobrir as despesas de custeio e investimentos" nesses aeroportos.

O Ministério da Defesa disse que caberá à presidente Dilma Rousseff autorizar a operação. Atualmente, o único terminal do País concedido à iniciativa privada é o de São Gonçalo do Amarante, em Natal.

Fonte: O ESTADO DE SÃO PAULO / NOTIMP



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