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Ciência inspira técnicas de tortura em interrogatórios






Estudo diz que cientistas aprimoraram metodologias de tortura nas investigações depois do 11 de setembro.

Ditadura militar brasileira também teve contribuição de grupo de cientistas, de acordo com presidente de ONG.

Sabine Righetti.

O professor que ensina técnicas de tortura em interrogatório a seus alunos, futuros investigadores, no filme alemão "A vida dos outros" (2006), é um cientista.

No pacote da metodologia "científica" do personagem está deixar o depoente sem dormir. Conforme relatado na ficção, pela reação da pessoa às horas sob privação de sono seria possível chegar a um veredicto: os culpados chorariam. Quem não tem culpa, ficaria irritado.

A realidade pode não ser tão simples assim, mas o filme, um dos sucessos das telonas sobre a antiga Alemanha Oriental, trata de um assunto timidamente abordado no meio acadêmico: as metodologias científicas usadas para torturar pessoas.

O tema apareceu recentemente na revista científica "Science", num artigo que analisa a tortura com respaldo científico usada pelos EUA nas investigações pós-atentado de 11 de setembro.

A privação de sono foi uma das técnicas utilizadas pelos norte-americanos -com autorização do governo Bush.

Outras metodologias, como nudez e "posições doloridas", também compunham as chamadas, eufemicamente, de EITs (Técnicas de Reforço de Interrogatórios).

Para Bush, não eram uma forma de tortura: foram autorizadas nos interrogatórios, desde que usadas de maneira "segura, legal e efetiva".

ATESTADO PELA CIÊNCIA

Foram os cientistas que aprimoraram as EITs. "São técnicas antigas de tortura utilizadas na Guerra Fria pelos chineses e norte-coreanos para obter informações de americanos", disse Scott Allen, da

Universidade de Cambridge, nos EUA, um dos autores do estudo.

Depois do 11 de setembro, Bush criou um programa que fez uma "engenharia reversa" das técnicas conhecidas de tortura. Isso causou reações no mundo todo.

De acordo com Rose Nogueira, presidente da ONG brasileira "Tortura Nunca Mais", não há respaldo científico que justifique essa violência. "A tortura é um crime e quem a aperfeiçoa é igualmente criminoso", afirma.

Para ela, os cientistas deveriam estudar os efeitos da tortura, como a síndrome pós-traumática, e não técnicas de interrogatório.

Mas, de acordo com Allen, a quantidade de acadêmicos que já se dedicaram a essas metodologias é bem maior do que, por exemplo, a dos que investigaram a saúde mental de veteranos de guerra torturados no passado.

TAMBÉM NO BRASIL

Na ditadura militar brasileira também houve médicos que ajudaram nas torturas, monitorando a vítima até o limite da dor, por exemplo.

Quando a pessoa desmaiava, esses cientistas ajudavam a reanimá-la. "Eles erraram em vários casos, como com Vladmir Herzog [morto pela ditadura]", lembra Nogueira.

Ela própria foi vítima de um médico quando foi presa, em 1969, pela ditadura. Na época, estava amamentando, o que "atrapalhava" as investigações. "Recebi uma medicação para cortar o leite. Era um cientista contribuindo para a tortura que sofri", diz. Nogueira ficou nove meses presa e dois sob vigília.

Além de serem imorais, as EITs não garantem um depoimento verídico. Sob violência, o depoente confessa um crime que não cometeu.

Foi o que aconteceu com o militar líbio Ibn al-Shaykh al-Libi, da Al-Qaeda. Em 2001, ele disse, sob tortura das forças armadas dos EUA, que sabia de armas de destruição em massa no Iraque. Os EUA invadiram o país dois anos depois. As tais armas fatais nunca foram encontradas.

Obama já afirmou que o programa EIT foi interrompido. Mas, de acordo com Allen, técnicas como isolamento e privação de sono ainda são utilizadas.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO / NOTIMP




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